Jan 3, 2024 / 15:59 pm
O governo de Daniel Ortega, ex-guerrilheiro de esquerda que soma 30 anos no poder, terminou 2023 com dois bispos, 15 padres e dois seminaristas presos. A última prisão ocorreu em 31 de dezembro.
É o que mostra um relatório da advogada e pesquisadora nicaraguense Martha Patricia Molina, autora do relatório Nicarágua: Uma Igreja Perseguida?, que compila os ataques do regime de Ortega contra a Igreja Católica desde 2018, quando a Igreja apoiou protestos populares contra o governo.
No dia 31 de dezembro, disse Molina, o padre Gustavo Sandino Ochoa, pároco de Nossa Senhora das Dores de Santa María de Pantasma, na diocese de Jinotega, “foi sequestrado por policiais e paramilitares”. O padre “sofre de múltiplas doenças”, acrescentou a advogada que está exilada nos EUA.
Essa onda de prisões feitas em dezembro, que incluiu a prisão do bispo da diocese de Siuna, dom Isidoro del Carmen Mora.
Dom Mora “foi sequestrado pela polícia e pelos paramilitares” no dia 20 de dezembro, disse Molina em seu relatório. Ele “ia celebrar algumas crismas na Paróquia da Cruz do Rio Grande”. “Um dia antes do sequestro, ele rezou por dom Rolando Álvarez. Até o momento não há nenhuma acusação formal contra ele e não há informações sobre seu paradeiro”, disse Molina.
Monsenhor Óscar Escoto e o padre Jader Guido, presos em 22 e 24 de dezembro, respectivamente, foram libertados, disse ela, mas continuam “sob vigilância policial e paramilitar”.
Dom Rolando Álvarez: Um ano e meio preso pelo governo de Daniel Ortega
O caso mais emblemático das prisões feitas pelo governo é o do bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, que foi inicialmente forçado por um cerco policial a confinar-se na sua casa episcopal em agosto de 2022. O regime então o transferiu para Manágua, onde foi colocado em prisão domiciliar.
Dom Álvarez foi condenado em fevereiro de 2023 a mais de 26 anos de prisão por “traição ao país”.
Dom Báez: “Não nos deixe sozinhos”
Numa mensagem de vídeo publicada no sábado (30), o bispo auxiliar de Manágua, dom Silvio José Báez, exilado desde 2019 devido a ameaças do governo, denunciou o “ódio inquebrantável e permanente do regime contra a Igreja”: “Os tiranos são conscientes de que o povo da Nicarágua ama a sua Igreja e os seus pastores, e ficam aterrorizados com a existência de um povo consciente e mobilizado pela fé cristã, porque é um povo crítico, livre e sujeito de sua própria história”.
Dom Báez também fez um chamado à Igreja Católica em todo o mundo: “rogamos-lhe, pedimos-lhe que voltem o seu olhar para a Nicarágua. Não nos deixem sozinhos, ofereçam as suas orações por nosso povo oprimido e levantem a sua voz profética em favor desta Igreja perseguida”.
Pediu também à comunidade internacional que seja mais eficaz “na pressão contra a ditadura sandinista de Ortega, exigindo a liberdade de todos os presos políticos e a restauração da ordem democrática no país”.
Cardeal Brenes: Que Deus nos ajude a “encontrar caminhos de concórdia e fraternidade”
O arcebispo de Manágua, cardeal Leopoldo Brenes, também preparou uma mensagem “de incentivo, de esperança”, que foi lida no final da missa que rezou na catedral da Imaculada Conceição de Maria, na manhã de domingo (31).
“Às famílias e comunidades que neste momento sentem a ausência dos seus sacerdotes ou vivem outros tipos de dor, quero expressar a minha proximidade”, disse o cardeal nicaraguense, acrescentando que “é hora de procurarmos juntos na oração a consolação de Deus, e na unidade eclesial a nossa força”.
“Peçamos ao bom Deus a graça da sabedoria e que as nossas palavras e ações deem testemunho daquela paciência que tudo alcança, e que a luz de Jesus nos ajude a todos a encontrar caminhos de concórdia e fraternidade. Com Maria, Nossa Mãe, aos pés da cruz, o Senhor nos console e nos mostre a sua misericórdia”.
“Unidos na oração, ressoe em cada coração as palavras do apóstolo Pedro: ‘Que a vossa fé e a vossa esperança estejam em Deus’”, concluiu.
Papa Francisco se diz preocupado com a Nicarágua
Depois de concluir a oração do Ângelus em 1º de janeiro de 2024, o papa Francisco disse que acompanha “com preocupação” o que está acontecendo na Nicarágua, “bispos e sacerdotes foram privados de sua liberdade”.
O papa manifestou a sua "proximidade na oração" aos sacerdotes e bispos, às suas famílias e a toda a Igreja no país”.
“Sempre busquemos o caminho do diálogo para superar as dificuldades”, disse o papa.
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