14 de dezembro de 2024 Doar
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Livro do prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé traz passagens eróticas explícitas

Livro "Paixão Mística: Espiritualidade e Sensualidade", do prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, o cardeal Victor Manuel Fernández. | Daniel Ibáñez/CNA

Um livro de 1998 do prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, o cardeal Victor Manuel Fernández, com temas provocantes e de conteúdo sexual, ressurgiu, trazendo mais controvérsia ao cardeal argentino.


Paixão Mística: Espiritualidade e Sensualidade é um livro escrito há 26 anos inclui descrições explícitas das relações sexuais humanas e uma discussão sobre o que o teólogo argentino descreve como “orgasmo místico”.


O livro de quase 100 páginas também retrata em detalhes um encontro erótico imaginário com Jesus Cristo no litoral da Galiléia, que Fernández disse ter sido baseado em uma experiência espiritual que lhe foi revelada por uma menina de 16 anos.


O livro, publicado originalmente no México, recebeu hoje (8) atenção renovada do blog católico tradicionalista argentino Caminante Wanderer, que descreveu “Paixão Mística” como “imprudente” e “uma ocasião de pecado” para potenciais leitores.


Da mesma forma, o site tradicionalista italiano Messa in Latino disse que o livro era “verdadeiramente escandaloso e aparentemente blasfemo”.


Fernández não respondeu a um pedido de comentário da EWTN News antes da publicação.


Esta não é a primeira vez que um livro com enfoque sexual publicado anteriormente pelo teólogo argentino causa polêmica.


Quando Fernández foi nomeado chefe do Dicastério para a Doutrina da Fé em julho de 2023, voltou-se a falar de seu livro Cura-me com tua Boca: a Arte do Beijo, ​​publicado em 1995.


O livro foi criticado por seus temas e representações eróticas, e muitos sugeriram que a obra era inadequada para um padre celibatário.


Fernández disse que não se arrependia de ter escrito Cura-me com tua Boca, que descreveu como “uma catequese pastoral para adolescentes” e “não um livro de teologia”.


Assim como Cura-me com tua Boca, Paixão Mística não consta da lista oficial de obras de Fernández publicada pela Santa Sé quando ele foi nomeado chefe do Dicastério para a Doutrina da Fé".


Grande parte de Paixão Mística centra-se na tradição do amor divino da Igreja, com um foco particular em como o êxtase divino pode ser experimentado não apenas espiritualmente, mas também corporalmente. Fernández cita santos e místicos como santo Agostinho, são João da Cruz, santa Teresa de Ávila e a beata Ângela de Foligno.


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“Os testemunhos dos místicos mostram-nos que a relação com Deus também pode afetar de modo benéfico o nível erótico do homem, até à sua sexualidade”, escreve Fernández.


A relação entre as relações sexuais humanas e a intimidade com Deus tem sido explorada há muito tempo na Igreja Católica, inclusive em obras como a "teologia do corpo" do papa são João Paulo II.


No entanto, a obra de Fernández destaca-se pelas suas descrições explícitas e pelo seu enfoque no prazer sexual como não apenas alegórico da união divina, mas constitutivo dela, particularmente nos capítulos finais da obra.


A descrição de Fernández de “uma experiência de amor, um encontro apaixonado com Jesus, que uma adolescente de dezesseis anos me contou”, aparece no sexto capítulo do livro, “Minha linda, vem”.


A passagem fala do encontro com Cristo no mar da Galileia enquanto ele se banha e se deita na areia, e inclui uma longa descrição de beijos e carícias em seu corpo da cabeça aos pés.


Ao longo da passagem, Maria Santíssima é retratada aguardando e permitindo com aprovação que o encontro acontecesse.


A seção final do livro enfoca o orgasmo humano e sua conexão com a intimidade divina, muitas vezes utilizando descrições explícitas e provocantes.


No capítulo “Orgasmo Masculino e Feminino”, Fernández dá uma descrição extensa e detalhada das relações sexuais, e avalia as diferenças nas preferências e experiências de orgasmo masculinas e femininas.


Fernández conclui que “na experiência mística, Deus toca o centro mais íntimo de amor e prazer, um centro onde não importa muito se somos homem ou mulher”.


No capítulo “O Caminho para o Orgasmo”, Fernandez parece sugerir que os santos experimentaram prazer sexual em suas uniões místicas com Deus.


“Alguns santos começaram a ter experiências inebriantes de Deus logo após sua conversão, ou na mesma conversão; outros, como Santa Teresa de Ávila, alcançaram estas experiências depois de muitos anos de aridez espiritual. Santa Teresinha de Lisieux, embora se sentisse ternamente amada por Deus, nunca teve experiências muito “sensuais” do seu amor, e parece que só alcançou uma alegria transbordante e apaixonada no momento da sua morte, quando o seu rosto se transfigurou e ela disse suas últimas palavras: 'Eu te amo, oh meu Deus, eu te amo!' ”


O cardeal também parece abordar atos homossexuais.


Depois de escrever que uma experiência do amor divino não significará necessariamente “por exemplo, que um homossexual deixará necessariamente de ser homossexual”, Fernández observa “que a graça de Deus pode coexistir com as fraquezas e até com os pecados, quando há um condicionamento muito forte. Nestes casos, a pessoa pode fazer coisas objetivamente pecaminosas, sem ser culpada e sem perder a graça de Deus ou a experiência do seu amor”.


Depois de refletir sobre como as pessoas podem atingir “uma espécie de orgasmo gratificante na nossa relação com Deus”, o cardeal escreve no capítulo “Deus no orgasmo do casal” que Deus pode estar presente “quando dois seres humanos se amam e atingem o orgasmo; e esse orgasmo, experimentado na presença de Deus, também pode ser um ato sublime de adoração a Deus”.


Embora Fernández fale de “casais” na sua descrição das relações sexuais, raramente menciona explicitamente o casamento sacramental, no qual a doutrina da Igreja diz ser o único contexto em que as relações sexuais são lícitas.


Em outra passagem, o agora prefeito do dicastério para a Doutrina da Fé condena a masturbação como egoísta, mas descreve as relações sexuais autênticas como apenas vagamente “abertas aos outros”, sem qualquer menção à abertura para gerar uma nova vida.


O Catecismo da Igreja Católica diz no parágrafo 2.366 que “todo o ato matrimonial deve, por si estar aberto à transmissão da vida” e descreve “os dois significados inerentes ao ato conjugal: união e procriação”.


Numa passagem particularmente explícita, Fernández cita um teólogo muçulmano do século XV, Al Sounouti, que louvou a Deus por tornar os órgãos reprodutivos dos homens “tão duros e retos como lanças” para que pudessem “travar guerra” nas partes correspondentes do corpo das mulheres. 


A discussão do livro de Fernández de 1998 ocorre num momento em que a liderança do cardeal argentino do dicastério para a Doutrina da Fé tem sido alvo de um escrutínio após a publicação da declaração Fiducia supplicans, que permite bençãos a uniões homossexuais. O documento da Santa Sé tem sido criticado pela sua ambiguidade e pela falta de uma consulta mais ampla com os bispos de todo o mundo antes da publicação.


Na última quinta-feira (4), Fernández emitiu um comunicado de imprensa sem precedentes de 2 mil palavras com o objetivo de esclarecer Fiducia supplicans. O esclarecimento veio depois de uma resistência mundial, com conferências episcopais inteiras em África e na Europa Oriental e bispos individuais na América Latina, na Europa e nos EUA afirmando que não permitiriam as bênçãos descritas nas suas jurisdições.


Conselheiro teológico de longa data do papa Francisco, o papa criou Fernández cardeal em 30 de setembro de 2023, pouco depois de iniciar suas funções no Dicastério para a Doutrina da Fé. Na sua carta anunciando a indicação, o papa Francisco escreveu que esperava que Fernández promovesse o “conhecimento teológico” em vez de se concentrar em vez de promover "a perseguição de 'erros doutrinais' ”.


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