5 de dezembro de 2024 Doar
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Alto funcionário da Santa Sé defende fim do celibato

Dom Charles Scicluna. | Daniel Ibáñez/ACI Prensa

O arcebispo de Malta, dom Charles Scicluna, vice-secretário do Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF), disse que o celibato sacerdotal deveria ser opcional como era “no primeiro milênio” da Igreja Católica. Scicluna também defendeu a declaração Fiducia supplicans, assinada pelo prefeito do DDF, o cardeal argentino Victor Manuel Fernández, que autoriza bênção a casais em situação irregular e a pares homossexuais.

O celibato “foi opcional durante o primeiro milênio da existência da Igreja e deveria ser novamente opcional”, disse Scicluna, que foi responsável por várias investigações sobre casos de abusos sexuais, como em países como o Chile em 2018 e Peru em 2023.

Na opinião do arcebispo, é hora de “discutir seriamente o assunto” e tomar decisões sobre isso”.

Segundo o jornal Times of Malta, Scicluna disse que já falou abertamente sobre o assunto na Santa Sé, mas reconheceu que a decisão não é sua e que “esta é a primeira vez que digo isto publicamente e que isso soará herético para alguns”.

“Por que deveríamos perder um jovem que teria sido um bom sacerdote, só porque queria se casar? E perdemos bons sacerdotes só porque escolheram o matrimônio”, disse na primeira parte da entrevista publicada no domingo (7) na qual falou sobre vários temas.

“Um homem pode ser maduro, se envolver em um relacionamento, amar uma mulher. Do jeito que as coisas estão, ele tem que escolher entre ela e o seu sacerdócio, e alguns sacerdotes lidam com isso mantendo relacionamentos sentimentais em segredo”, continuou o arcebispo de 64 anos.

“Esta é uma realidade global, não acontece apenas em Malta. Sabemos que há sacerdotes em todo o mundo que também têm filhos e penso que há alguns em Malta que também os poderiam ter”, disse dom Scicluna.

O que a Igreja Católica estabelece sobre o celibato?

O número 1.579 do Catecismo da Igreja Católica afirma que "todos os ministros ordenados da Igreja latina, à excepção dos diáconos permanentes, são normalmente escolhidos entre homens crentes que vivem celibatários e têm vontade de guardar o celibato «por amor do Reino dos céus» ".

“Chamados a consagrarem-se totalmente ao Senhor e às «suas coisas» (75) dão-se por inteiro a Deus e aos homens. O celibato é um sinal desta vida nova, para cujo serviço o ministro da Igreja é consagrado: aceite de coração alegre, anuncia de modo radioso o Reino de Deus”, acrescenta.

O número 1.580 diz que “nas Igrejas Orientais [em comunhão com o papa], vigora desde há séculos, uma disciplina diferente: enquanto os bispos são escolhidos unicamente entre os celibatários, homens casados podem ser ordenados diáconos e presbíteros. Esta prática é, desde há muito tempo, considerada legítima: estes sacerdotes exercem um ministério frutuoso nas suas comunidades”.

“Mas, por outro lado, o celibato dos sacerdotes é tido em muita honra nas Igrejas orientais e são numerosos aqueles que livremente optam por ele, por amor do Reino de Deus. Tanto no Oriente como no Ocidente, aquele que recebeu o sacramento da Ordem já não pode casar-se”, diz o mesmo parágrafo.

O papa Francisco e o celibato

No dia 1º de dezembro de 2023, o papa Francisco enviou uma mensagem aos seminaristas da França reunidos num encontro nacional, na qual disse que “no centro desta identidade” sacerdotal “está o celibato”.

O papa Francisco disse então que “os sacerdotes são celibatários – e querem ser – simplesmente porque Jesus era celibatário” ao mesmo tempo que esclarece que “a exigência do celibato não é principalmente teológica, mas mística”.

O papa disse também que “ninguém tem o poder de mudar a natureza do sacerdócio e ninguém jamais o terá, embora as formas de exercê-lo devam necessariamente levar em conta as mudanças na sociedade atual e a grave crise vocacional que estamos vivendo”.

Fiducia supplicans e a bênção aos pares homossexuais

Numa segunda parte da entrevista com Times of Malta, publicada ontem (8), o arcebispo referiu-se à bênção de pares do mesmo sexo, algo permitido na declaração Fiducia supplicans da DDF, documento que gerou um grande número de reações contrárias em todo o mundo.

“Estamos dizendo: quem somos nós para dizer quem pode ou não pode pedir a bênção de Deus? A sua bênção não é um juízo de valor nem uma confirmação da sua perfeição, mas sim pedir a Deus a sua bênção, admitindo que precisa dela, e quem não precisa dela?”

“Isso é para casais que estão em situações que não são exatamente ideais, mas quando pedem uma bênção estão admitindo que precisam de Deus. É um ato de fé n’Ele e em sua ajuda”, continuou o secretário adjunto do DDF.

“Nossa doutrina é muito clara e não creio que seja negociável. O matrimônio é entre um homem e uma mulher e é aberto à vida”, acrescentou dom Scicluna. “Mas isso não quer dizer que não existam outras relações de amor que também mereçam a bênção de Deus e admiro e abençoo estes casais pelos seus esforços para se amarem verdadeiramente”.

A declaração Fiducia supplicans foi publicada em 18 de dezembro e permite a bênção de pares homossexuais e casais em situação irregular, mas "espontaneamente" e não no contexto de um rito litúrgico formal, embora "sem validar oficialmente o seu status ou alterar de qualquer forma a doutrina perene da Igreja sobre o matrimônio”.

Dadas as reações que o prefeito do DDF chamou de “compreensíveis”, com vários bispos e episcopados proibindo sua implementação, o cardeal e prefeito do DDF emitiu uma nota sobre o assunto no dia 4 de janeiro, dizendo que cabe a cada bispo local a decisão sobre aplicar ou não a declaração.

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