16 de dezembro de 2024 Doar
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Cardeal conta como foi a rejeição a Fiducia supplicans na África

Cardeal Fridolin Ambongo | François-Régis Salefran CC BY-SA 4.0 DEED

O presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (SECAM) e o arcebispo de Kinshasa, na República Democrática do Congo, cardeal Fridolin Ambongo, contou o passo a passo de como foi a rejeição à bênção de uniões homossexuais no continente africano.

Em uma intervenção recente, publicada pelo blog leigo católico Le Salon Beige, o cardeal contou o que aconteceu na África depois que o Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF), cujo prefeito é o cardeal argentino Victor Manuel "Tucho" Fernández, publicou a declaração Fiducia supplicans, que permite a bênção de uniões do mesmo sexo e em situações irregulares.

Reações a Fiducia supplicans na África

"Quando, em 18 de dezembro, recebemos o documento Fiducia supplicans, assinado pelo prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé e co-assinado por Sua Santidade o papa Francisco, houve uma agitação na África. Não entendíamos o que estava acontecendo em nível de Igreja. Além disso, outras igrejas que nos ligaram disseram: “Contamos com a Igreja Católica para se opor a essa ideologia. Agora, vocês são os primeiros a autorizar a bênção de casais homossexuais'".

"Todos vocês, todos, sofreram por isso. Muito. Todos sofreram por isso", lamentou o cardeal.

"As reações começaram. E, com toda a responsabilidade, escrevi para todas as conferências episcopais da África e de Madagascar", continuou o arcebispo de Kinshasa.

"As conferências episcopais escreveram. Imprimi todas as reações de todas as conferências episcopais. Fiz a síntese em um documento".

Encontro do cardeal africano com o papa Francisco sobre Fiducia supplicans

O cardeal Ambongo disse que escreveu uma carta de sete páginas ao papa Francisco, não apenas como presidente do SECAM, mas como "seu conselheiro, membro do conselho dos nove cardeais que acompanham o papa na reforma da Igreja".

Depois, viajou para Roma para encontrá-lo, contando sua intenção a um de seus secretários particulares e entregando-lhe toda a documentação que tinha reunido: as reações das conferências episcopais, a síntese e sua carta pessoal.

Naquele mesmo dia, o papa o recebeu. "O papa lamentou muito. Devo dizer que ele foi o primeiro a sofrer com todas as reações vindas de todo o mundo. Ele sofre porque é um ser humano. Isso não o deixa feliz”, disse.

"Cheguei a um acordo com ele porque lhe disse que a solução para essa questão não é mais nos enviar documentos com definições teológicas ou filosóficas de bênçãos. As pessoas não estão interessadas nisso. O que interessa agora é uma comunicação que tranquilize as pessoas na África, que acalme o espírito dos fiéis. E ele, como pastor, foi tocado por esta situação", continuou o cardeal africano.

O trabalho com o cardeal "Tucho" Fernández

O papa Francisco o colocou em contato com o cardeal Fernández, com quem conbimou de trabalhar no dia seguinte no DDF, "o dicastério mais importante do ponto de vista da fé católica".

"Com o prefeito, eu no computador, um secretário que escrevia, preparamos um documento. E preparamos o documento em diálogo e acordo com o papa Francisco, de forma que a todo momento ligávamos para ele para fazer perguntas, para ver se ele concordava com aquela formulação, etc."

O cardeal Ambogo disse que, ao final, assinou “o documento como presidente do SECAM em nome de toda a Igreja Católica na África”. “E o prefeito do Dicastério o assinou, não o documento que foi divulgado, mas o documento que guardamos nos arquivos. O documento é intitulado 'Não à bênção de casais homossexuais nas Igrejas Católicas'".

O cardeal especificou que, embora o texto pareça ter sido assinado em Accra, Gana, sede do SECAM, na verdade foi assinado “em Roma".

"Isso é para expressar a nossa posição hoje na África e o fazemos em espírito de comunhão, de sinodalidade com o papa Francisco e com o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé: na África não há lugar para abençoar os casais homossexuais. De modo algum", enfatizou.

Em 11 de janeiro, o SECAM publicou uma declaração de cinco páginas dizendo: "As conferências episcopais de toda a África, que reafirmaram fortemente sua comunhão com o papa Francisco, acreditam que as bênçãos extra-litúrgicas propostas na declaração Fiducia supplicans não podem ser realizadas na África sem expor a escândalos”.

Na Igreja Católica, os homossexuais podem ser abençoados individualmente

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O cardeal Ambongo ressaltou que, embora na África eles se oponham a bênção de uniões do mesmo sexo, é necessário "respeitar as pessoas homossexuais porque elas são seres humanos. Não devemos olhá-los, tratá-los com desprezo. Eles são criaturas de Deus. E como criaturas de Deus, se individualmente um homossexual pedir uma bênção, nós abençoamos a pessoa. Podemos abençoá-los como pessoa".

Depois de assinalar que os criminosos também podem ser abençoados, o cardeal especificou que estas bênçãos a pessoas individuais são feitas "com a esperança de que a graça da bênção possa ajudá-lo a se converter. E se abençoamos um homossexual, também é para dizer que 'sua orientação sexual não está conforme a vontade de Deus e esperamos que a bênção possa ajudá-lo a mudar, porque a homossexualidade é condenada na Bíblia e pelo magistério da Igreja'".

"Não podemos ser promotores de desvios sexuais. Deixe-os fazer isso em suas casas, mas não nas nossas", disse.

A defesa do matrimônio e da família na África versus o declínio do Ocidente

O cardeal Ambongo também lamentou o fato que atualmente no "Ocidente, por não gostarem de crianças, querem atacar a célula básica da humanidade, que é a família. Se você destrói a família, destrói a sociedade".

O cardeal lamentou que agora, no Ocidente, o sentido do matrimônio também tenha se perdido e a cultura "esteja em declínio", algo que também afeta a economia. "Pouco a pouco, vão desaparecer. Vão desaparecer. Desejamos a eles uma boa desaparição", continuou.

O cardeal denunciou a ação de organizações internacionais como a ONU, a UNICEF, a OMS, entre outras, que condicionam seu financiamento a promoção da ideologia de gênero, que não reconhece a diferença sexual natural entre homens e mulheres.

"No entanto, nossa cultura na África não é assim. Sim, temos muitos defeitos, mas não podemos ser culpados pela homossexualidade. Pode-se encontrar casos isolados, como em Uganda", mas "a sociedade não funciona desse modo. Essa prática não existe em nossas casas”.

 

 

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