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Cardeal Fernández reflete sobre sensibilidade africana e rejeição a Fiducia supplicans

Cardeal Víctor "Tucho" Fernández assumiu o título cardinalício em Roma, em 3 de dezembro de 2023 | Elisabeth Alva/ACI Prensa

O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé da Santa Sé, cardeal Víctor Manuel "Tucho" Fernández, respondeu à rejeição definitiva que os bispos africanos manifestaram à declaração Fiducia supplicans, que permite a bênção de uniões do mesmo sexo, e se referiu à sua compreensão da "sensibilidade cultural africana".

Em entrevista ao jornalista Edward Pentin para o National Catholic Register em 11 de janeiro, o cardeal argentino comentou: "Como diz a própria declaração, que li cuidadosamente com o cardeal [Fridolin] Ambongo antes de ser enviada, tivemos certo consenso sobre seu significado geral”.

"Pode haver detalhes que expressaríamos de forma diferente, mas o sentido de respeitar a sensibilidade cultural de um lugar tão peculiar como a África é algo que certamente compartilhamos", acrescentou.

"Além disso, eles também expressaram a vontade de continuar refletindo sobre o sentido e a ajuda que as 'bênçãos pastorais' podem dar, além da questão das bênçãos aos casais homossexuais", acrescentou o cardeal Fernández.

O cardeal Fernández e a "sensibilidade cultural africana"

Diante de novas perguntas enviadas por Pentin sobre sua opinião a respeito da oposição de muitos africanos a Fiducia supplicans, que poderia ter mais a ver com a moralidade, a lei natural e a doutrina católica, e não simplesmente com "sensibilidades culturais", e sobre sua opinião a respeito de até que ponto as sensibilidades culturais têm prioridade sobre a unidade da doutrina, o cardeal Fernandez disse em 12 de janeiro: "minha longa e gentil conversa com o cardeal Ambongo permitiu que ele compreendesse melhor o ponto de vista do dicastério, e que eu compreendesse muito melhor a sensibilidade cultural africana".

"A palavra 'cultural', para mim, não é algo de segundo nível, nem tem somente o sentido de algo limitado. Pelo contrário, pode ser o cenário que ajuda a acessar melhor uma verdade (devo dizer que o tema da cultura é muito forte na teologia desenvolvida na Argentina)", disse.

O cardeal disse que "a sensibilidade cultural dos católicos africanos é também uma sensibilidade religiosa e espiritual em um sentido positivo. De fato, a carta do cardeal Ambongo explica que as distinções feitas na declaração podem ser muito sutis e isto significa que podem ser bem compreendidas em alguns lugares, mas na África não são suficientes para evitar escândalos".

"Mas há fortes convicções por trás dela, e é por isso que, no final da carta, foram colocadas as palavras do papa, onde ele convida os fiéis africanos a continuar defendendo como sempre os valores cristãos", disse.

"De qualquer forma, li as respostas que chegaram dos diferentes países que responderam (não sei bem quantos países responderam, porque na África há 54 países e na pasta vi pouco mais de 20 respostas) e nelas é possível ver diferenças importantes, tanto na linguagem usada quanto na forma de compreender a declaração", destacou o cardeal Fernández.

"A síntese, que não surgiu de uma longa reunião presencial de todos, mas de correspondências, é uma tentativa de expressar a todos, mas dificilmente pode expressar todas as nuances que também se relacionam com diferentes sensibilidades culturais, históricas e religiosas", continuou.

Para o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, "isso explica por que essa carta também recorda que permanece a liberdade de cada bispo em sua diocese, porque não se trata de um dogma de fé (os bispos reconhecem que a declaração reafirma a doutrina de sempre sobre o matrimônio e a sexualidade), mas de uma questão eminentemente prática que deve ser analisada com prudência".

Reação dos bispos africanos a Fiducia supplicans

Em 11 de janeiro, o Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (SECAM), presidido pelo cardeal Fridolin Ambongo, emitiu uma declaração intitulada "Não à bênção de casais homossexuais nas igrejas africanas".

"As conferências episcopais de toda a África, que reafirmaram fortemente sua comunhão com o papa Francisco, acreditam que as bênçãos extra-litúrgicas propostas na declaração Fiducia supplicans não podem ser feitas na África sem se exporem a escândalos", disse.

A SECAM acrescentou que a doutrina da Igreja Católica sobre o matrimônio cristão e a sexualidade permanece intacta e lembrou, citando passagens da Bíblia, que a cultura africana não aceita uniões homossexuais.

Nota de esclarecimento da Santa Sé

Respondendo sobre sua reação à recepção que teve sua nota explicativa sobre Fiducia supplicans, publicada em 4 de janeiro, o cardeal Fernández disse: "O comunicado de imprensa certamente ajudou, devido a simplicidade e aos exemplos que oferece. Assim foi observado por muitos bispos".

A nota de esclarecimento do cardeal foi publicada apesar da declaração, datada em 18 de dezembro, afirmar em seu número 41 que o estabelecido ali "sobre as bênçãos de casais do mesmo sexo é suficiente para orientar o discernimento prudente e paternal dos ministros ordenados a este respeito. Portanto, além das indicações acima, não se pode esperar outras respostas sobre como regular os detalhes ou os aspectos práticos relativos a este tipo de bênção".

 

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