5 de dezembro de 2024 Doar
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Análise: Cardeal pede “diálogo permanente” com maçonaria

Dom Antonio Staglianò cumprimenta o grão-mestre da loja maçônica do Grande Oriente, Stefano Bisi, na Fundação Cultural Ambrosianum em Milão, na Itália, na última sexta-feira (16). | Riccardo Cascioli / La Nuova Bussola Quotidiana

O presidente emérito do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos na Santa Sé, dom Francesco cardeal Coccopalmiero, participou de uma reunião “histórica” a portas fechadas na última sexta-feira (16) entre os chefes das lojas maçônicas da Itália e importantes líderes da Igreja. Depois da reunião, o cardeal pediu a abertura de um diálogo “permanente” com a sociedade secreta, apesar de a maçonaria ser condenada pela Igreja há muito tempo.

Uma declaração de 1983 da Congregação para a Doutrina da Fé afirma que os princípios maçônicos foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja”. O Dicastério para a Doutrina da Fé reafirmou essa posição em novembro do ano passado, citando o documento de 1983 ao dizer que “a adesão ativa à maçonaria por parte de um fiel é proibida devido à inconciliabilidade entre a doutrina católica e a maçonaria”.

Ao discursar na reunião em Milão sobre o tema A Igreja Católica e a Maçonaria, o cardeal de 85 anos, teria dito que acredita que houve “uma evolução no entendimento mútuo” entre a maçonaria e a Igreja nos últimos 50 anos.

“As coisas avançaram e espero que estas reuniões não parem por aí”, disse o bispo italiano, segundo o jornal italiano Il Messaggero, citando fontes presentes na reunião foi fechada para a imprensa.

O cardeal Coccopalmiero, que foi bispo auxiliar em Milão durante o mandato do arcebispo dom Carlo Maria cardeal Martini (1927-2012), disse que se perguntava “se não é possível pensar numa discussão permanente, mesmo a nível oficial, para que possamos lidar melhor uns com os outros". O cardeal Martini era conhecido por ser próximo dos maçons, que lhe prestaram uma calorosa homenagem como um “homem de diálogo” depois de sua morte.

Segundo fontes que falaram ao jornal italiano La Nuova Bussola Quotidiana, todos os três grandes mestres das lojas italianas – Stefano Bisi do Grande Oriente da Itália, Luciano Romoli da Grande Loja da Itália e Fabio Venzi da Grande Loja Regular da Itália – compareceram à reunião. Dois deles publicaram seus discursos.

“Com nuances diferentes, todos defenderam a compatibilidade da Maçonaria com a fé católica”, disse o editor-chefe do La Nuova Bussola Quotidiana , Riccardo Cascioli, que também conversou com pessoas que participaram do encontro na Fundação Cultural Ambrosianeum.

Junto com o cardeal Coccopalmiero, a Igreja Católica foi representada pelo arcebispo de Milão, dom Mario Delpini, pelo padre e teólogo franciscano Zbigniew Suchecki e pelo presidente da Pontifícia Academia de Teologia, dom Antonio Staglianò.

Bisi, como alguém proveniente de uma origem pobre, deu à Igreja o crédito de sua educação, e disse considerar a reunião “muito significativa”. A reconciliação entre a maçonaria e a Igreja é seu desejo de longa data, disse. Ele também fez questão de recordar com carinho o cardeal Martini “que estava em casa aqui”.

Ele expressou o seu apreço pela abertura do presidente emérito do Pontifício Conselho para a Cultura e presidente da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra, o cardeal Gianfranco Ravasi aos maçons feita numa carta aberta de 2016 intitulada “Queridos Irmãos Maçons”, mas lamentou o ritmo do diálogo e da reconciliação, e perguntou por que o papa Francisco tinha aparentemente esquecido os maçons no seu “abraço a todos”. Ele criticou a recente recusa da Santa Sé em conceder credenciais a um embaixador maçom e destacou uma decisão da Santa Sé em novembro do ano passado que reafirmou a proibição da Igreja de os católicos aderirem à maçonaria.

Bisi disse que o papa “fez a famosa declaração 'Quem sou eu para julgar?' no início do seu pontificado, dirigiu-se aos homossexuais” e depois “abriu as portas aos divorciados”, mas “esqueceu que, entre os maçons, também há muitos católicos que estão impedidos de receber a Comunhão”. A Sagrada Comunhão sempre foi negada aos membros da maçonaria e, até o Código de Direito Canônico de 1983, eles eram explícita e automaticamente excomungados.

Ode ao indiferentismo

Numa ode ao indiferentismo – a crença de que as diferenças de religião não têm importância, princípio central da maçonaria – Bisi disse que “cada homem é irmão do outro” e que “o vínculo de fraternidade é independente da fé. Basta acreditar no Grande Arquiteto do Universo”.

“O céu estrelado é o mesmo para o budista, para o católico, para o valdense, para o muçulmano, para todos aqueles que acreditam num ser supremo”, continuou. “Deixamos os nossos irmãos livres para aderirem a qualquer religião e praticar. Verdades absolutas e muros mentais não têm lugar entre nós e, para nós, devem ser derrubados”.

Bisi terminou falando da esperança de que “um dia, um papa e um grão-mestre possam se encontrar e percorrer juntos um trecho da estrada, à luz do sol”.

Cascioli disse que a contribuição católica geral para a reunião foi “desconcertante”.

Dom Delpini, que chegou à reunião com 45 minutos de atraso, iniciou a conferência destacando que o diálogo com a sociedade secreta era importante porque “nem todos podem ter se aprofundado no assunto de uma organização tão antiga e prestigiada, sempre rodeada de uma aura de mistério e suspeita”.

O bispo da maior diocese da Europa em termos de número de padres e leigos disse que os anfitriões da conferência, o Grupo de Pesquisa e Informação Sócio-Religiosa, uma associação privada aprovada pela conferência episcopal italiana, tiveram contínuas “conversas e diálogos” com as lojas maçônicas, mas acrescentou que o objetivo não era a “absolvição”. Antes, disse ele, tratava-se de “promover conversas entre as pessoas para conhecer os pontos de vista umas das outras, para registrar a sua convergência ou distância”. Obviamente, acrescentou, “esta conferência não termina com nenhum documento final”.

O padre Sucheki preparou um relatório bem-informado sobre os muitos pronunciamentos da Igreja contra a maçonaria, mas Cascioli disse que a contribuição foi “um tanto desprezada” pela contribuição de dom Staglianò, que pareceu intolerante com as lembranças da doutrina.

Embora o bispo estivesse pautado para explicar por que a maçonaria é inconciliável com a Igreja, ele fez um “longo discurso” que “destruiu a abordagem doutrinária do lado católico e basicamente concordou com as demandas dos expoentes maçons”.

Dom Staglianò disse estar “interessado no evento cristão, não na doutrina”, e repetiu comentários que fez no mês passado no jornal Avvenire, da conferência episcopal italiana, sobre a declaração Fiducia Supplicans da Santa Sé sobre bênçãos a casais irregulares e uniões do mesmo sexo: “Fiducia Supplicans sublinhou que o Senhor ‘é amor, só e sempre amor’ ”.

A sua misericórdia, disse ele, precede o pecado original e “chove sobre justos e injustos” – isto é, sobre todos. “Quem sou eu para julgar que uma condição humana é tal que a chuva da misericórdia de Deus sobre os justos e os injustos nem sequer a toca com sua humidade? Porque às vezes a umidade da água da misericórdia de Deus é suficiente para regenerar uma vida”.

Pressão para suspender a excomunhão

As palavras de dom Staglianò coincidiram com a reivindicação de Bisi de que os maçons deveriam ser admitidos à Sagrada Comunhão.

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Um elemento do caminho para superar a irreconciliabilidade com a maçonaria é, portanto, claro, segundo Cascioli, e uma “teologia ad hoc (para isso, em latim) também está sendo preparada”. Na verdade, dom Staglianò criticou a decisão da Santa Sé de novembro do ano passado que reafirmou a proibição de os católicos serem maçons, chamando-a de “reducionista” e acusando-a de permanecer no nível do confronto doutrinário.

É notável que em novembro passado, nos novos estatutos para a Pontifícia Academia de Teologia de dom Staglianò, o papa Francisco tenha sublinhou a importância de uma “teologia fundamentalmente contextual”, capaz de “ler e interpretar o Evangelho nas condições em que vivem homens e mulheres”. diariamente, em diferentes ambientes geográficos, sociais e culturais”.

A teologia, dizia a carta apostólica, deve “desenvolver-se numa cultura de diálogo e encontro entre diferentes tradições e diferentes disciplinas, entre diferentes denominações cristãs e diferentes religiões”. Devendo envolver-se “abertamente com todos, crentes e não-crentes”.

Apesar do óbvio entusiasmo por algum tipo de reconciliação, Cascioli disse que tanto dom Staglianò como o cardeal Coccopalmiero pareciam interessados ​​em parecer inexperientes em questões da maçonaria na reunião, embora dom Staglianò tivesse participado em pelo menos uma dessas reuniões com maçons em 2017, quando era bispo de Noto, na Sicília.

Além disso, explicou Cascioli, ao chegar à reunião da última sexta-feira (16), dom Staglianò “demonstrou grande familiaridade com vários expoentes maçônicos” e sua cruz peitoral foi escondida – “uma estranha forma de dar testemunho”.

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