7 de dezembro de 2024 Doar
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Simulação de casamento entre dois homens acontece em uma capela em Madri

Imagem ilustrativa de um casamento civil entre dois homens | Shutterstock

A capela católica da Santíssima Trindade, situada no sítio El Campillo, no município de El Escorial, em Madri, Espanha, foi cenário de uma simulação de “casamento” entre dois homens.

Cristina González Navarro, dona do local, disse à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, que no evento que aconteceu dentro da capela “não havia padre” e que “não foi celebrado um casamento” ali, mas não quis dar mais detalhes sobre em que consistiu o ritual.

O que se sabe, através das imagens divulgadas nas redes sociais, é que a capela estava repleta de convidados e que os homens, vestidos de fraque e de mãos dadas, saíram do templo como fazem os casais católicos quando termina o sacramento do matrimônio.

No vídeo publicado no Instagram, a música Enciéndeme (Acende-me), do grupo musical Hakuna, que está em alta desde seu surgimento há alguns anos, foi usada como música de fundo. 

Elementos da liturgia católica na cerimônia

Segundo algumas fotos, alguns elementos da liturgia católica teriam sido utilizados durante a cerimônia. O retábulo e o altar da capela estavam cobertos de plantas altas. Diante delas, foi disposta uma mesa com uma toalha branca sobre a qual foi colocada uma imagem da Virgem de Hakuna, obra do escultor Javier Viver. É uma virgem em atitude de oração, grávida, que segura a barriga com os dois braços.

No lado esquerdo do templo, ao olhar para o presbitério, foram colocadas duas cadeiras ao lado desta mesa que os dois homens ocupavam. Do outro lado, de um púlpito que normalmente deve ser utilizado por um padre ou ministro do leitorado, pelo menos um convidado falou durante a cerimônia.

Os dois protagonistas do evento trocaram alianças e, em determinado momento, ajoelharam-se em reclinatórios brancos diante da imagem da Virgem e diante de uma cruz feita com dois galhos amarrados com uma corda.

Ambos carregam nos ombros um pano branco com listras azuis, num gesto semelhante ao conhecido como rito do velório originário da liturgia moçárabe. Neste rito católico, a cabeça da mulher e os ombros do marido são cobertos e, ajoelhados, recebem uma bênção.

Segundo o jornal El Debate, os convidados consideram que como “não houve leituras, nem orações, nem qualquer coisa que imite algum rito católico (sic)”, apenas se tratou de “um acompanhamento ao casal por parte de todos os convidados ao rezar por eles, pela sua união”, que já havia sido celebrada dias antes conforme a legislação civil.

Arquidiocese de Madri se pronuncia sobre cerimônia

O padre Florentino de Andrés, pároco de São Bernabé, em El Escorial, disse à ACI Prensa que o templo não está dessacralizado e que a cerimônia foi feita sem o seu conhecimento. Ele é categórico: “Não foi com a minha permissão”.

O pároco disse ainda que falará com as donas do imóvel para esclarecer o ocorrido e que, caso os fatos se confirmem, pedirá a dessacralização da capela.

A arquidiocese de Madri, por sua vez, publicou um comunicado no qual, “com o desejo de evitar confusões”, diz que “não foi informado nem consultada sobre a possibilidade de realizar esta celebração, sendo um ato unilateral da propriedade que terá efeitos canônicos a esse respeito. Em nenhum caso é permitido realizar casamento civil em local religioso”.

A nota acrescenta que “as capelas familiares só podem ser utilizadas para os fins que a Igreja lhes conceder” e, portanto, “não podem ser locais de celebrações religiosas públicas, salvo autorização expressa da diocese”.

Também “não podem ser usados para fins comerciais ou locais de celebrações civis de qualquer tipo. De fato, na época foram concebidos exclusivamente para uso devocional privado da família dona e, em nenhum caso, para serem oferecidos como um serviço lucrativo opcional de uma empresa dedicada à organização de eventos sociais”.

Polêmica nas redes sociais

O padre diocesano de Almería, Espanha, Juan Manuel Góngora, denunciou no X (antigo Twitter) que se trata de "um ato de exaltação sodomítica" e pediu aos católicos convidados a "irreverências semelhante" que não sejam "cúmplices de um pecado mortal". 

O porta-voz adjunto do Partido Popular na Assembleia de Madri e colaborador próximo da presidente regional Isabel Díaz Ayuso, Rafael Núñez Huesca, respondeu a esse comentário no X.

Depois de se apresentar como um "católico praticante", ele disse que a mensagem do padre Góngora era "imprópria para um pastor da Igreja. Pelo que ele diz e, mais ainda, pelo tom desdenhoso com que o diz. Que eles sejam muito felizes e que testemunhos infelizes como esse não os afastem da fé".

O padre Góngora, por sua vez, exortou Núñez a rever "o que ele afirma praticar e se é aceitável organizar e simular esteticamente um sacramento em um lugar sagrado para sua posterior divulgação nas redes sociais".

Ele anexou uma imagem com o texto do Catecismo da Igreja Católica que detalha a doutrina sobre "Castidade e homossexualidade", em seus números 2357 e seguintes.

Os casamentos podem ser celebrados em uma capela particular?

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Independentemente da controvérsia sobre o uso indevido de um templo católico, os donos de capelas em terras particulares estão sujeitos às normas eclesiásticas (cânones 1115 e seguintes) para o uso correto desses espaços sagrados, conforme resumido pela arquidiocese de Madri em seu comunicado.

A Igreja Católica permite a celebração do casamento em um local que não seja a paróquia onde os noivos residem, com a permissão do bispo ou do pároco. Isso se aplica não apenas às igrejas paroquiais, mas a qualquer igreja, inclusive capelas que ficam em propriedade privada, como nesse caso.

O padre Andrés, que está na paróquia há 29 anos, reiterou à ACI Prensa que, até agora, a permissão para celebrar nessa capela era concedida aos parentes dos donos do sítio. Um dos usos do local é o aluguel de seus espaços para casamentos e eventos.

Caso pessoas de fora da família queiram celebrar seu casamento na capela, devem pedir permissão "ao cardeal", disse o pároco. Em quase três décadas, essa permissão só foi concedida em dois ou três casos, um dos quais foi o casamento do filho mais velho do ex-primeiro-ministro José María Aznar em 2011. A permissão foi dada pelo cardeal Antonio María Rouco. O cardeal Carlos Osoro também concedeu tais permissões em caráter excepcional, disse o padre Andrés.

Em ao menos uma ocasião, o padre Florentino de Andrés teve de enfrentar nessa capela a circunstância da celebração de um casamento que não cumpria o requisito canônico da forma, porque a permissão necessária não havia sido solicitada.

O casamento, oficiado pelo padre Javier Alonso Sandoica, da arquidiocese de Madri, foi finalmente celebrado. No entanto, como não tinha a permissão, o padre Florentino teve que ir ao vicariato geral da arquidiocese para fazer um procedimento canônico destinado a corrigir a falta de validade do sacramento, segundo disse à ACI Prensa.

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