7 de dezembro de 2024 Doar
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Cardeal denuncia “saque descarado” dos recursos naturais na República Democrática do Congo

República Democrática do Congo. | Crédito: Shutterstock.

O arcebispo de Kinshasa e presidente do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar (SECAM), cardeal Fridolin Ambongo, condenou os países vizinhos da República Democrática do Congo (RDC) por colaborarem com multinacionais para “saquear” os recursos naturais do país.

Como consequência, grandes áreas da RDC estão imersas numa violência prolongada, denunciou o arcebispo de Kinshasa. Por isso, pediu que a comunidade internacional contribua para a restauração da integridade territorial do país da África Central.

Na homilia na missa que celebrou no sábado (24), o cardeal Ambongo disse que a paz na região conturbada só seria alcançada se parassem de explorar abusivamente seus recursos naturais.

“Agressores e multinacionais se uniram para colocar as mãos nas riquezas do Congo, em detrimento e com desprezo pela dignidade dos cidadãos congoleses pacíficos, criados à imagem e semelhança de Deus. Até onde irá esse desprezo? Até onde irá a banalização da vida humana, por mais sagrada que seja?”, denunciou o cardeal congolês na catedral de Nossa Senhora do Congo.

Ele disse estar “convencido de que devolver a paz ao Congo significa também pôr fim à violação da integridade territorial do país e ao saque descarado dos seus recursos naturais”.

A missa foi a resposta do cardeal Ambongo a uma declaração que o presidente da Conferência Episcopal da República Democrática do Congo (CENCO) e arcebispo de Kisangani, dom Marcel Utembi Tapa, divulgou no dia 20 de fevereiro, exortando o povo de Deus na RDC a “intensificar as orações pela paz”.

Na declaração, dom Marcel Utembi Tapa lamentou que a situação de segurança esteja “se deteriorando, especialmente na parte oriental” do país, e pediu “uma oração especial pela paz no final de cada missa”.

Na sua homilia, o cardeal Ambongo relacionou a insegurança na RDC ao genocídio em Ruanda em 1994, no qual mais de 800 mil pessoas foram mortas. Durante o massacre, mais de 2 milhões de pessoas foram deslocadas e forçadas a procurar refúgio nas fronteiras do país. Diz-se que algumas das pessoas que chegaram a RDC levaram consigo a guerra.

“As nossas populações, especialmente no leste do país, vivem uma verdadeira tragédia e tormento há quase três décadas”, disse o cardeal Ambongo, e recordou que “logo no início destes conflitos, em agosto de 1994”, os bispos da RDC alertaram os líderes do país e a comunidade internacional das possíveis consequências.

Os bispos, recordou o cardeal, expressaram a sua preocupação com “a transferência do conflito ruandês para o nosso país”.

O cardeal criticou ainda o que descreveu como “ambições expansionistas” dos países vizinhos da RDC. “Ao longo do tempo, várias missões e organizações relataram sobre as ambições expansionistas de certos países vizinhos no Leste, e o saque sistemático das riquezas do subsolo congolês por multinacionais”.

O cardeal congolês da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos também criticou a inação da comunidade internacional, observando que o silêncio equivale à “cumplicidade”.

Também lamentou e disse que é inconcebível que, com os meios à sua disposição, as Nações Unidas não tenham conseguido restaurar a paz na RDC.

Finalmente, o cardeal congolês exortou os seus compatriotas a trabalharem juntos e em unidade “para bloquear o caminho do inimigo”.

“Num momento em que a integridade territorial e a soberania nacional estão sendo testadas, apelo à nação para que se una para bloquear o caminho do inimigo”, disse ele, apelando aos políticos da RDC a trabalharem juntos pela paz.

No domingo (25), o papa Francisco disse que estava “acompanhando com preocupação o aumento da violência na parte oriental da República Democrática do Congo” e depois se uniu aos bispos congoleses na oração pela paz.

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