Mar 13, 2024 / 11:37 am
A Igreja Ortodoxa Copta disse que a decisão de suspender o diálogo com a Igreja Católica se deve à “mudança de posição” de Roma sobre a homossexualidade.
Em vídeo divulgado na última sexta-feira (8), o porta-voz da Igreja Ortodoxa Copta, padre Moussa Ibrahim, disse que “o mais notável” dos nove decretos publicados no Santo Sínodo anual da Igreja, feito na semana passada em Wadi El-Natrun, no Egito, foi “suspender o diálogo teológico com a Igreja Católica depois de sua mudança de posição sobre a questão da homossexualidade”.
A mensagem de vídeo foi publicada depois da conclusão da assembleia do Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Copta no dia anterior e a uma declaração anexa na qual os líderes ortodoxos coptas anunciaram a suspensão do diálogo com Roma.
“Depois de consultar as igrejas irmãs da família Ortodoxa Oriental, foi decidido suspender o diálogo teológico com a Igreja Católica, reavaliar os resultados alcançados pelo diálogo desde o seu início há 20 anos, e estabelecer novos padrões e mecanismos para que o diálogo prossiga no futuro”, escreveram os líderes coptas.
Os líderes também reafirmaram a sua rejeição aos atos homossexuais, afirmando a sua “firme posição de rejeição de todas as formas de relações homossexuais, pois violam a Bíblia Sagrada e a lei pela qual Deus criou o ser humano como homem e mulher, e a Igreja considera qualquer bênção de tais relações, seja qual for o seu tipo, como uma bênção ao pecado, e isso é inaceitável”.
A Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria, chefiada pelo papa Tawadros II, cuja fundação remonta a são Marcos Apóstolo, é uma das denominações cristãs mais antigas do mundo. Principal igreja cristã no Egito (a palavra “copta” é derivada da palavra grega “Aigyptos”, que significa Egito), o número exato de seus membros é desconhecido, mas estima-se que seja entre 10 milhões e 20 milhões de pessoas de uma população ortodoxa total de 260 milhões .
Embora se descreva como Ortodoxa, a Igreja não está em plena comunhão com o patriarca ecumênico ortodoxo Bartolomeu e com a Ortodoxia Oriental, mas permanece unida às igrejas ortodoxas Etíope, Armênia, Eritreia, Siro-Malancar e Siríaca, conhecidas coletivamente como Igrejas Ortodoxas Orientais. Nenhuma destas igrejas aceita o concílio de Calcedônia de 451 d.C. e a sua definição das “duas naturezas” de Cristo. Desde o final do século XX, as igrejas Ortodoxas Orientais têm buscado dialogar com Roma e a Ortodoxia Oriental, que por séculos as consideraram heréticas.
Em abril do ano passado, o diálogo parecia ter progredido a tal ponto que a Santa Sé permitiu que ortodoxos coptas celebrassem a sua própria Divina Liturgia na arquibasílica de São João de Latrão, em Roma. No mês seguinte, num movimento incomum, o papa Francisco incluiu 21 fiéis coptas ortodoxos martirizados pelo Estado Islâmico na Líbia em 2015 no Martirológio Romano.
A declaração em vídeo de Ibrahim ocorreu depois de alguns observadores terem dito nas redes sociais que a declaração não fazia nenhuma referência específica à declaração Fiducia supplicans, publicada pela Santa Sé em 18 de dezembro de 2023, que permite uma bênção “não litúrgica” e “espontânea” de uniões homossexuais. Também não afirmaram que a decisão de suspender o diálogo estava relacionada com o documento.
A declaração dos líderes ortodoxos coptas não fez qualquer referência explícita à Fiducia supplicans, mas a sua reafirmação no texto da doutrina da sua igreja sobre a homossexualidade, firmemente baseada nas Sagradas Escrituras, junto com a mensagem de vídeo de Ibrahim, tornou incontestável a causa da suspensão do diálogo.
Eles observaram na sua declaração que Deus criou o ser humano como homem e mulher, que todas as pessoas são chamadas à santidade e que todos devem viver segundo a vontade de Deus e o “desígnio divino para o casamento entre um homem e uma mulher”.
Eles enfatizaram que qualquer pessoa que luta contra a atração pelo mesmo sexo, mas “controla esse desejo, faz esforços louváveis e fica sujeita às mesmas tentações que os indivíduos heterossexuais”. Da mesma forma, eles disseram que é “essencial” que “busquem o verdadeiro arrependimento”, como faria uma pessoa heterossexual adúltera.
“Se alguém escolhe abraçar a sua tendência homossexual, no entanto, e se recusa a buscar ajuda espiritual e emocional, mas continua a quebrar os mandamentos de Deus, nesse caso, a sua situação torna-se a mesma de alguém que vive em adultério”, continua a declaração. “Nesses casos, devem ser avisados e aconselhados a abster-se da comunhão, buscando o arrependimento”.
Uma das principais críticas ao documento é que ele não faz menção ao arrependimento ou promessa de emenda antes de receber a bênção.
Ao citar as palavras de são Paulo na sua epístola aos Romanos, com mais referências à primeira carta aos Coríntios e passagens do Levítico, a declaração também sublinhou a condenação da Igreja Ortodoxa Copta aos atos homossexuais. “Consequentemente”, acrescentaram, opõem-se “fortemente” a “todas as formas de atividade sexual fora dos limites do casamento”, acrescentando que veem isso como “distorção sexual”. Também rejeitaram “firmemente” que os contextos culturais pudessem ser usados para “justificar atos homossexuais”, pois os coptas acreditam que isso é “prejudicial para a humanidade” como um todo.
Eles disseram que a sua igreja acredita nos direitos humanos e nas liberdades, mas que essas liberdades “não são absolutas” e não devem ser usadas para “violar as leis do Criador”.
“A Igreja afirma o seu compromisso de cumprir o seu papel pastoral na ajuda a indivíduos com tendências homossexuais”, concluíram. “Também enfatiza que não os rejeita, mas, em vez disso, fornece apoio e assistência para ajudá-los a alcançar uma solução emocional e espiritual.”
“A igreja deposita a sua confiança em nosso Senhor Jesus Cristo, que é capaz de fazer muito mais abundantemente além de tudo o que pedimos ou pensamos”, disseram.
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