19 de novembro de 2024 Doar
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Brasileira é a freira mais velha do mundo com 115 anos

Irmã Inah Canabarro e seu sobrinho Kléber Canabarro. | ACI Digital.

“Meu segredo, meu segredão, é rezar”, diz a irmã Inah Canabarro Lucas que, aos 115 anos, é a freira mais velha do mundo. “Rezo o terço todos os dias por todas as pessoas do mundo inteiro”.

A religiosa teresiana é também  a pessoa mais velha do Brasil e da América Latina, segundo a Gerontology Research Group (GRG) (Grupo de Pesquisa Gerontológica).

Irmã Inah transmite bom humor e alegria nas poucas palavras que conseguiu pronunciar na entrevista dada no sábado (9), à ACI Digital. Ela repetiu várias vezes uma prece a Nossa Senhora pedindo a Ela “por todas as pessoas do mundo inteiro”.

Atualmente, irmã Inah mora em Porto Alegre (RS), na Casa de Acolhida Santo Enrique de Ossó que fica junto à Casa Provincial das Irmãs Teresianas do Brasil, comunidade em que foi aceita aos 19 anos, em 1927.

Para a coordenadora da casa, irmã Lúcia Ignez Bassotto, irmã Inah está “sempre voltada para o outro e não centrada em si mesma”. Ela é “uma pessoa tão resiliente, não exige nada, tudo agradece, tudo ela acha que está bem, tem uma admiração enorme pela congregação, pela companhia. Ela reza por todo mundo, se preocupa com todas”.

Irmã Lúcia Bassoto e irmã Inah Canabarro. ACI Digital.

“Realmente a vida dela é uma vida exemplar”, continuou a irmã Lúcia que conhece Inah desde sua juventude quando foi aluna dela em Santana do Livramento (RS).

Outra característica de irmã Inah é querer estar sempre ativa. Ainda hoje participa das orações comunitárias, gosta de passear no jardim e de estar com as irmãs.

Lúcia contou que há uns 15 dias que a saúde da irmã Inah decaiu um pouco, mas nos dias em que está bem, é muito falante e brincalhona. Até pouco tempo atrás, continuou, Inah “pintava guardanapos, pintava cartões, fazia muita coisa. Quando não tinha nada para fazer, pegava o baralho de cartas e jogava. Se não tivesse ninguém para jogar com ela, ela jogava sozinha. Muito divertida”.

Inah Canabarro Lucas nasceu no município de São Francisco de Assis, no interior do Rio Grande do Sul, no dia 27 de maio de 1908, a penúltima de sete irmãos. Ela é sobrinha trineta do general David Canabarro, um dos principais líderes da Revolução Farroupilha (1835-1845), no Rio Grande do Sul.

Quando era criança, um de seus irmãos disse para a mãe que a Inah poderia estudar num colégio de freiras que tinha na cidade deles. Inah, então, perguntou: "O que são freiras?". A mãe respondeu que eram mulheres que se dedicavam a rezar a Deus e ela disse: "Eu vou ser freira".

Inah estudou no colégio das freiras e, aos 19 anos, foi fazer o noviciado com as irmãs Teresianas em Montevidéu, no Uruguai.

Ao longo de mais de um século, passou por muitas mudanças no mundo e na Igreja. A freira passou pelas duas guerras mundiais e por dez papas. No ano em que nasceu, são Pio X era o papa.

“A tia Inah, desde pequenininha era muito magrinha, fininha”, disse à ACI Digital o sobrinho da freira, Kléber Canabarro Lucas, de 83 anos. Por causa da sua aparência frágil, todos achavam que não viveria muito. “Resultado: Ela está aqui há 115 anos e o resto da turma já se foi toda”, disse Lucas.

Irmã Inah Canabarro e seu sobrinho Kléber Canabarro. ACI Digital.

“A irmã Inah é o nosso píncaro em termos de religiosidade, fé, boa vontade, uma pessoa amável, bem-humorada, a vida toda foi assim. Agora a pobrezinha está na decadência pela idade”, disse ele.  “Mas Deus vai ajudar e ela vai completar seus 116, 117, vamos aos 120 se Deus quiser”, continuou.

“Ela é super feliz, uma pessoa que tem vida, tem amor, ama de verdade”, disse a irmã Teresinha de Aragón, de 83 anos, que conhece a irmã Inah desde quando era criança, pois sua irmã era aluna dela em Santana do Livramento.

Irmã Inah e irmã Teresinha Aragón. ACI Digital.

A “irmã Inah é uma pessoa que tem todas as pessoas dentro do seu coração. Ela não faz acepção de pessoas. Trata bem todos, todos com carinho. Pode ser pequenininho, maior ou de idade, ela sempre trata com muito amor e com muito carinho. É uma pessoa que ama, ama de verdade”, disse irmã Teresinha que se considera companheira de vida da irmã Inah.

Inah foi professora durante toda a vida. Dava aulas de português, matemática, ciências, história, arte e religião em colégios teresianos do Rio de Janeiro (RJ), Itaqui (RS) e Santana do Livramento, cidade na qual é muito querida pois foi onde passou a maior parte de sua vida.

Segundo o seu sobrinho, ela era uma professora “rígida, disciplinadora e carinhosa, o que conquistava à todas”.

Muitas das irmãs que vivem atualmente na Casa Provincial de Porto Alegre (RS) foram alunas da irmã Inah ou contam histórias sobre como Inah as ajudou a descobrir a própria vocação. É o caso da irmã Velmira Piotrovski, de 83 anos. Ela é de família polonesa, mas nasceu em Iraí (RS). Em 1961, a irmã Inah foi visitar a cidade. Velmira contou que quando viu a freira, com o seu hábito preto, ela sentiu uma voz que lhe dizia “Você vai ser assim”.

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Irmã Inah é uma das únicas freiras de sua congregação que ainda usa o hábito. Segundo as irmãs de sua comunidade, desde o Concílio Vaticano II (1963-1965) o uso do hábito é livre, cada uma pode escolher usar ou não. Como a irmã Inah não está plenamente capaz de decidir, e sempre usou o hábito,  elas decidiram vesti-la sempre com o hábito pois é a forma como Inah sempre se viu como religiosa.

Irmã Inah Canabarro e irmã Velmira Piotrovski. ACI Digital.

“Me sinto muito feliz, muito agradecida por Deus pois foi ela quem me levou por esse caminho e agora eu posso ser útil para ela, para ajudá-la nesse momentos em que precisa de mim”, disse Velmira que é enfermeira e que nos últimos anos se dedica a cuidar da saúde da irmã Inah.

“A madre Inah me ajudou a encontrar esse lugar onde me sinto tão feliz, me sinto muito bem com todos e com todas”, continuou Velmira.

Um feito marcante em sua vida foi ter criado a banda marcial do Colégio Santa Teresa em Santana do Livramento. Tinha 115 instrumentos musicais, viajou para apresentações em todo o Brasil, Uruguai e Argentina. Ela também orientou e auxiliou na criação da também famosa banda marcial do Liceu Pomoli, de Rivera, no Uruguai, cidade irmã de Santana de Livramento (RS).

Irmã Inah é torcedora apaixonada pelo Sport Clube Internacional, clube fundado em 1909, quando ela tinha um ano. Além de dizer que reza pelas pessoas do mundo inteiro, as únicas outras palavras que irmã Inah disse foram de elogio ao Inter. “Porque é o time do povo, gente boa, pobre, muito honesta, muito boa”.

Irmã Inah Canabarro no aniversário de 110 anos. Crédito: Irmãs Teresianas.

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