Mar 28, 2024 / 10:50 am
Hoje (28), Quinta-feira Santa de 2024, o papa Francisco celebrou às 9h30 (horário de Roma), a Missa Crismal na Basílica de São Pedro, no Vaticano, junto a milhares de fiéis, cardeais, bispos e padres que renovaram as promessas feitas no momento da Santa Ordenação.
Ao contrário da Missa do Domingo de Ramos, em que o papa preferiu manter o silêncio depois da leitura do Evangelho, nesta ocasião o papa Francisco fez uma homilia de cerca de 20 minutos.
Durante a celebração, o papa abençoou o Santo Crisma e os demais Óleos Sagrados, Óleo dos Catecúmenos e Óleo dos Enfermos, que serão usados ao longo do ano para a distribuição dos sacramentos. Os padres presentes renovaram as promessas feitas no dia da sua ordenação.
Tomando como referência a negação de Pedro, o papa Francisco disse que o apóstolo começou a conhecer Jesus quando “na noite da negação, deixou espaço às lágrimas da vergonha, às lágrimas do arrependimento”.
“Uma punção no coração”
Dirigindo-se aos padres, Francisco disse que “a cura do coração de Pedro, a cura do Apóstolo, a cura do Pastor, quando, feridos e arrependidos, se deixam perdoar por Jesus; passam através das lágrimas, daquele pranto amargo, do sofrimento que permite redescobrir o amor”.
Segundo Francisco, este aspecto pode ser definido como “compunção”, uma “punção no coração, uma picada que o fere, fazendo brotar as lágrimas de arrependimento”.
“Vemos aqui o que é a compunção: não um sentimento de culpa que te lança por terra, nem uma série de escrúpulos que paralisam, mas é uma picada benéfica que queima intimamente e cura, pois o coração, quando se dá conta do próprio mal e se reconhece pecador, abre-se, acolhe a ação do Espírito Santo, como água viva que o muda a ponto de lhe correrem as lágrimas pelo rosto”.
O que significam lágrimas de arrependimento?
Segundo o papa, é necessário compreender bem o que significam as lágrimas de compunção, pois “não se trata de sentir pena de nós, como muitas vezes somos tentados a fazer”.
“Também quando”, continuou ele, “nos deleitamos, por um estranho e doentio prazer do espírito, a repassar as injustiças sofridas para sentirmos pena de nós mesmos, pensando que não nos deram o merecido e imaginando o futuro reservando-nos de contínuo apenas surpresas negativas”.
Isto, disse o papa Francisco, “é a tristeza segundo o mundo, oposta à tristeza segundo Deus”. Para o papa, chorar de compunção significa “arrepender-nos seriamente de ter entristecido a Deus com o pecado; reconhecer que diante d’Ele sempre estamos em débito, nunca em crédito; admitir que se perdeu o caminho da santidade, não tendo confiado no amor d’Aquele que deu a vida por mim”.
"Erguer o olhar para o Crucificado e deixar-me comover pelo seu amor que sempre perdoa e eleva, que nunca deixa frustradas as esperanças de quem n’Ele confia. Assim as lágrimas continuarão a cair, e purificam o coração", disse o papa Francisco.
Para o papa, a compunção “requer esforço, mas restitui a paz; não provoca angústia, mas alivia a alma dos seus pesos, porque intervém na ferida deixada pelo pecado, preparando-nos para receber lá mesmo a carícia do Senhor, que transforma o coração quando está «contrito e arrependido» (Sal 51, 19), amolecido pelas lágrimas".
“A compunção é o antídoto para a esclerocardia, aquela dureza do coração frequentemente denunciada por Jesus”, continuou.
“O milagre da tristeza que leva à doçura”
Francisco disse que “o coração sem arrependimento nem lágrimas, torna-se rígido: primeiro, torna-se rotineiro, em seguida intolerante com os problemas e indiferente às pessoas, depois frio e quase impassível, como se estivesse envolvido por uma concha inquebrável, e finalmente coração de pedra”.
No entanto, reiterou que “assim como a água, gota a gota, escava a pedra, as lágrimas lentamente escavam os corações endurecidos. Deste modo assiste-se ao milagre da tristeza, da tristeza boa que leva à doçura”.
“O remédio é a compunção, porque nos reconduz à verdade de nós mesmos, de tal modo que a profundidade do nosso ser pecador revele a realidade infinitamente maior do nosso ser perdoado, a alegria de ser perdoado”.
Papa Francisco nos convida a chorar pelos outros
“Cada um dos nossos renascimentos interiores brota sempre do encontro entre a nossa miséria e a sua misericórdia – encontram-se a nossa miséria e a sua misericórdia –, passa através da nossa pobreza de espírito que permite ao Espírito Santo enriquecer-nos. A esta luz, compreendem-se as afirmações fortes de muitos Mestres espirituais”, disse o papa.
Francisco convidou os padres a se perguntarem “quão presentes estão a compunção e as lágrimas no nosso exame de consciência e na nossa oração. Perguntemo-nos se, com o passar dos anos, aumentam as lágrimas”.
“Quem não chora retrocede, envelhece interiormente, ao passo que a pessoa que chega a uma oração mais simples e íntima, feita de adoração e comoção diante de Deus: isso amadurece-nos. Prende-se cada vez menos a si mesma e mais a Cristo, e torna-se pobre em espírito. Deste modo sente-se mais próxima dos pobres, os prediletos de Deus”.
Para o papa Francisco, “quem está compungido no coração, sente-se cada vez mais irmão de todos os pecadores do mundo, sente-se mais irmão, sem qualquer aparência de superioridade nem dureza de juízo, mas sempre com desejo de amar e reparar”.
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“Um coração dócil, liberto pelo espírito das Bem-aventuranças, tende naturalmente a sentir compunção pelos outros: em vez de se irritar e escandalizar pelo mal feito pelos irmãos, chora pelos pecados deles. Não se escandaliza. Cumpre-se uma espécie de reviravolta: a tendência natural de ser indulgente consigo mesmo e inflexível com os outros inverte-se e, pela graça de Deus, a pessoa torna-se exigente consigo mesma e misericordiosa com os outros”.
“O Senhor não pede juízos de desprezo contra quem não crê, mas amor e lágrimas por quem vive afastado”, continuou.
“Quando as situações difíceis que vemos e vivemos, a falta de fé, os sofrimentos que tocamos, entram em contato com um coração compungido, decididamente não suscitam a polêmica, mas a perseverança na misericórdia”.
“A compunção é uma graça”
Dirigindo-se aos sacerdotes presentes na missa, disse que “precisamos de ser libertos de durezas e recriminações, de egoísmos e ambições, de rigidezes e insatisfações, para nos confiar e entregar a Deus, encontrando n’Ele uma paz que salva de toda a tempestade!”.
“Adoremos, intercedamos e choremos pelos outros: permitiremos assim que o Senhor realize maravilhas. E não temamos! Ele surpreende-nos sempre”, disse.
Posteriormente, ele disse que na sociedade secularizada de hoje, “corremos o risco de ser muito ativos e, ao mesmo tempo, sentir-nos impotentes, com o resultado de perdermos o entusiasmo”.
“Se, pelo contrário, a amargura e a compunção se voltarem, não para o mundo, mas para o próprio coração, o Senhor não deixará de nos visitar e reerguer”, disse.
Por fim, o papa Francisco esclareceu que “a compunção, mais do que fruto do nosso exercício, é uma graça e como tal deve ser pedida na oração”.
Por isso, aconselhou a “não olhar a vida e a vocação numa perspectiva de eficiência e imediatismo, ligada apenas ao dia de hoje e às suas urgências e expetativas, mas olhá-las no arco englobando passado e futuro como um todo”.
Ele também exortou os padres a redescobrir “a necessidade de nos dedicarmos a uma oração que não seja obrigatória e funcional, mas livre, calma e prolongada”.
“Obrigado, queridos sacerdotes, obrigado pelo vosso coração aberto e dócil; obrigado pelas vossas fadigas e obrigado pelo vosso pranto; obrigado porque levais a maravilha da misericórdia – perdoai sempre, sede misericordiosos – e levai esta misericórdia, levai Deus aos irmãos e irmãs do nosso tempo”, concluiu.
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