15 de dezembro de 2024 Doar
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Celebração da Paixão no Vaticano: “A verdadeira onipotência de Deus é a total impotência do Calvário”

Papa Francisco na celebração da Paixão do Senhor, nesta Sexta-feira Santa, na basílica de São Pedro | Daniel Ibáñez / ACI Prensa

O papa Francisco celebrou na tarde de hoje (29) a celebração da Paixão do Senhor na basílica de São Pedro, no Vaticano. A homilia foi proferida pelo pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa, que disse que "a verdadeira onipotência de Deus é a total impotência do Calvário".

Minutos antes das 17h (hora de Roma), o papa Francisco entrou na basílica de São Pedro na sua cadeira de rodas, parando para rezar em silêncio diante do altar, desnudo e desprovido de toalha, cruz e candelabros.

Depois da proclamação da passagem evangélica da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo são João, o cardeal Cantalamessa recordou na sua homilia como Jesus "proclama o seu divino 'EU SOU'".

Como é a onipotência de Cristo?

“A novidade inaudita desta palavra de Cristo só se descobre se prestamos atenção ao que precede a autoafirmação de Cristo: ‘Quando tiverdes levantado o Filho de Homem”, então sabereis que EU SOU’. É como dizer: O que eu sou – e, por isso, “o que Deus é” – será conhecido somente a partir da cruz. A expressão ‘ser levantado’, no Evangelho de João, como sabemos, refere-se ao evento da cruz”, disse.

"Estamos diante de uma total inversão da ideia humana de Deus e, em parte, também daquela do Antigo Testamento. Jesus não veio para retocar e aperfeiçoar a ideia que os homens fizeram de Deus, mas, em certo sentido, para invertê-la e revelar o verdadeiro rosto de Deus", destacou.

O cardeal disse que "Deus é onipotente, certo; mas de que força se trata? Diante das criaturas humanas, Deus se encontra desprovido de toda capacidade, não somente constritiva, mas também defensiva”.

"Não pode intervir com autoridade para se impor a eles. Não pode fazer outra coisa senão respeitar, em medida infinita, a livre escolha dos homens. Eis, então, que o Pai revela o verdadeiro rosto da sua onipotência no seu Filho, que se põe de joelhos diante dos discípulos para lavar-lhes os pés; nele que, reduzido à mais radical impotência sobre a cruz, continua a amar e perdoar, sem jamais condenar".

O pregador da Casa Pontifícia destacou que "a verdadeira onipotência de Deus é a total impotência do Calvário. É necessário pouca força para pôr-se em evidência; é necessário muita, ao contrário, para pôr-se de lado, para se cancelar".

"Deus é esta força ilimitada de escondimento de si! Exinanivit semetipsum: esvaziou-se (Fl 2,7). À nossa “vontade de potência”, ele opôs a sua impotência voluntária".

O triunfo de Cristo "é de ordem infinitamente superior"

"Que lição para nós que, mais ou menos conscientemente, queremos sempre nos colocar em evidência! Que lição, sobretudo para os poderosos da terra! Para aqueles que não pensam em servir nem mesmo remotamente, mas só no poder pelo poder; aqueles – diz Jesus no Evangelho – que ‘dominam os povos’ e, além do mais, ‘se fazem chamar benfeitores'”, disse.

"Mas o triunfo de Cristo na sua ressurreição não inverte esta visão, reafirmando a onipotência invencível de Deus? Sim, mas em sentido bem diverso daquele que estamos habituados a pensar. Bem diverso dos ‘triunfos’ que se celebravam ao retorno do imperador de campanhas vitoriosas, ao longo de uma estrada que ainda hoje, em Roma, leva o nome de ‘Via Triunfal’", disse.

O cardeal acrescentou: "Houve um triunfo, claro, no caso de Cristo, e um triunfo definitivo e irreversível! Mas como se manifesta este triunfo? A ressurreição acontece no mistério, sem testemunhos".

“A sua morte –ouvimos pela narrativa da Paixão – fora vista por uma grande multidão e envolvera as máximas autoridades religiosas e políticas. Ressuscitado, Jesus aparece apenas a poucos discípulos, fora dos holofotes”.

"Com isso, quis dizer-nos que, após ter sofrido, não é preciso esperar um triunfo exterior, visível, como uma glória terrena. O triunfo se dá no invisível e é de ordem infinitamente superior, porque é eterno! Os mártires de ontem e hoje são o exemplo disso", disse.

O cardeal Cantalamessa referiu-se depois ao "tipo de triunfo" de Jesus, encorajando a acolher "o convite que Jesus dirige ao mundo do alto da sua cruz: ‘Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso’”.

"Seria o caso de quase pensar em uma ironia, em uma brincadeira! Alguém que não tem, ele mesmo, uma pedra sobre a qual repousar a cabeça, alguém que foi rejeitado pelos seus, condenado à morte, alguém que ‘quase escondíamos o rosto diante dele’ (cf. Is 53,3), volta-se à humanidade inteira, de todos os lugares e todos os tempos, e diz ‘Vinde a mim, todos vós, e vos darei descanso!’”.

"Vem tu, que és idoso, doente e sozinho; tu, que o mundo deixa morrer na miséria, na fome, ou sob as bombas; tu, que por tua fé em mim, ou por tua luta pela liberdade, definhas em uma cela de prisão; venha, você mulher vítima de violência. Enfim, todos, ninguém excluído", disse.

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