Mar 29, 2024 / 21:05 pm
O reitor da basílica santuário Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador (BA), padre Edson Menezes, lavou os pés de um homem que se identifica como mulher e de representantes de diferentes religiões durante o rito do lava-pés da missa da Ceia do Senhor, ontem (28), Quinta-feira Santa. Segundo o padre, o gesto teve como motivação a Campanha da Fraternidade 2024, que tem como tema “Fraternidade e amizade social”, conceito cunhado pelo papa Francisco em sua encíclica Fratelli tutti.
O Lava-pés repete a ação de Jesus na Última Ceia, que lavou os pés dos discípulos, segundo o Evangelho de são João. “Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto, sentou-se à mesa e perguntou-lhes: Entendeis o que vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque eu o sou. Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros”, diz o evangelho (Jo 13, 12-14).
A cerimônia é parte integrante da missa vespertina da Quinta-feira Santa.
“Irei lavar os pés de alguns irmãos representantes de diversas religiões, classes sociais, raças e etnias diferentes, pessoas que fizeram opções de vidas diferentes, pois entendemos que as diferenças, as divergências, a oposição não podem e não devem nos impedir de cumprir o mandamento maior que Jesus nos deixou como seu testamento: ‘Eu vos dou um novo mandamento, que vos ameis uns aos outros como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros’”, disse o padre Menezes ao final de sua homilia.
Em suas redes sociais, a basílica do Bonfim disse que o momento do lava-pés “contou com a presença de 12 pessoas que representaram a diversidade étnica, religiosa, social e racial presentes na sociedade”. “Entre eles: a primeira mulher trans a participar deste rito na Colina Sagrada, a ativista e empreendedora Brenda Souza; o jornalista e motivador cultural, Clarindo Silva, e Vitor, refugiado da Venezuela que foi acolhido pela Obra Social da Basílica Santuário Nosso Senhor Bom Jesus do Bonfim, o Projeto Bom Samaritano”.
Os líderes das diferentes religiões eram representantes de hare krishna, baha’i, igreja anglicana, islã, espiritismo, candomblé e umbanda. Havia também um indígena.
“Somos gratos pela presença de cada um e expressamos nosso compromisso de continuar acolhendo a todos”, disse o padre Menezes na homilia. “Com a presença de vocês aqui, nós expressamos o nosso compromisso aqui na igreja do Bonfim de continuar acolhendo a todos, reconhecendo a todos como irmãos, respeitando e dialogando com cada um, valorizando o que pode nos aproximar e nos unir mais”,.
“Saibam todos vocês que aqui estão, e os que não estão, que as portas da nossa basílica estarão sempre abertas para acolher a todos e nós, como o Senhor do Bonfim, estaremos sempre de braços abertos para abraçar e acolher a todos como irmãos. Aqui, diremos sempre não ao preconceito e a qualquer tipo de intolerância, conscientes de que ao amarmos os nossos irmãos, refletimos como espelhos o amor do Pai”, acrescentou.
Por fim, pediu que a Páscoa de 2024 seja “uma oportunidade para cada um de nós resgatar a capacidade de ver, antes de mais nada, o que há de positivo no outro, para acolhê-lo e valorizá-lo como dom de Deus”.
O papa Francisco já condenou diversas vezes a ideologia de gênero, que nega que só haja dois gêneros e aceita a existência de homossexuais e pessoas que se identificam como sendo do sexo oposto, chamadas de “trans”.
No último dia 1º de março, falando à Conferência Homem-Mulher Imagem de Deus: Por uma antropologia das vocações, Francisco disse: “é muito importante que haja este encontro, este encontro entre homens e mulheres” diante do “perigo” da ideologia de gênero “essa ideologia ruim do nosso tempo, que apaga as diferenças e torna tudo igual; cancelar a diferença é cancelar a humanidade”.
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