Apr 18, 2024 / 13:27 pm
Marko Rupnik, padre expulso da Companhia de Jesus em 2023, acusado desde 2018 de ter cometido graves abusos sexuais, espirituais e psicológicos contra ao menos 20 mulheres na Comunidade Loyola que ele fundou na Eslovênia, continua aparecendo como jesuíta e consultor da Santa Sé no Anuário Pontifício de 2024.
Os dados aparecem na página 1.346 do anuário, onde é publicada a lista dos consultores do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
Está escrito: “Pe. Rupnik Marko Ivan, SI.” S.I. é a forma como se diz que um padre é jesuíta. Significa Societas Iesu, o nome em latim da Companhia de Jesus.
Rupnik foi expulso dos jesuítas em 15 de junho de 2023. A decisão foi tornada pública num comunicado no qual se diz que em mais de uma ocasião ele ignorou as restrições impostas pelo seu superior.
A ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, entrou em contato com o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, para perguntar-lhe sobre a forma como o padre Rupnik aparece no Anuário Pontifício. Até a publicação desta notícia não houve resposta.
Rupnik também é autor de Secondo Lo Spirito: La Teologia Spirituale in Cammino con la Chiesa di Papa Francesco (Segundo o Espírito: A Teologia Espiritual em Caminho com a Igreja do Papa Francisco), publicado pela Libreria Editrice Vaticana, a editora oficial da Santa Sé, na coleção La Teologia di Papa Francesco.
O debate sobre a arte do padre Marko Rupnik
O padre Rupnik é também artista e seus mosaicos estão em muitos locais de peregrinação em todo o mundo. No Santuário Nacional Aparecida os mosaicos que revestem a fachada do templo são obra do Centro de Arte Espiritual Aletti, escola dedicada à promoção da arte sacra, fundada pelo padre Rupnik, em Roma, Itália, segundo o santuário. Os desenhos trazem as marcas características da obra de Rupnik, como os grandes olhos negros das personagens.
Por isso, uma parte importante do debate ético que a crise do caso Rupnik trouxe consigo girou em torno da opção de eliminar a sua arte para honrar suas vítimas.
Os editores do National Catholic Register, o jornal católico mais antigo dos EUA que pertence à EWTN, assim como ACI Digital, dizem sobre Rupnik que “Seus mosaicos distintos foram encomendados com um propósito: elevar mentes e corações em direção a Deus. Eles não são mais capazes (se é que alguma vez foram) de atingir esse propósito”, por isso deveriam ser retirados.
O exorcista mexicano, padre Eduardo Hayen Cuarón, escreveu na rede social X que “eu acho os mosaicos do padre Marko Rupnik horrorosos, especialmente os do Santuário Nacional de São João Paulo II, em Washington”.
“É uma pena que eles tenham que ser removidos agora. A razão? Depois das acusações contra ele por abuso de várias freiras, as suas obras de arte já não cumprem a sua função de elevar o espírito a Deus”, acrescentou.
A blogueira e ex-ateia Leah Libresco também comentou em X que “se você quer defender a arte de Rupnik, você tem que defender a justiça para Rupnik e reparações para suas vítimas. Parte da razão pela qual as pessoas perseguem a arte é porque tem havido muito pouco progresso na busca pelas consequências para o homem”.
Al Kresta disse que “embora esteja muito longe do tipo de justiça que este caso exige, ultrapassamos o ponto no escândalo do padre Marko Rupnik em que devem ser tomadas medidas concretas para retirar da sua exibição pública os mosaicos onipresentes do artista desonrado”.
O caso Rupnik
Na qualidade de comissário vaticano para aquela comunidade, dissolvida em dezembro de 2023, o agora assistente para a vida consagrada do papa Francisco, dom Daniele Libanori, confirmou a veracidade dos abusos contra as freiras dos quais Rupnik é acusado.
O padre esloveno foi excomungado em maio de 2020 por confessar e absolver uma das suas vítimas que confessou exatamente o pecado de que ele tomou parte. A punição foi levantada duas semanas depois.
A Companhia de Jesus expulsou o padre Rupnik da ordem em julho de 2023, e a diocese de Koper, Eslovênia, abriu-lhe as portas.
Em outubro de 2023, o papa Francisco suspendeu a prescrição do caso e ordenou que o Dicastério para a Doutrina da Fé iniciasse um processo, depois de detectar “graves problemas na forma como foi tratado”.
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