4 de dezembro de 2024 Doar
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De jornalista a freira: A história da madre superiora que fundou uma congregação maronita nos EUA

Madre Marla Marie no convento Mãe da Luz em Dartmouth, em Massachussets, nos EUA. | Joe Bukuras/CNA

Era 1983, nos últimos anos da guerra fria, quando os olhos de Marla Lucas, então com 21 anos, se encheram de lágrimas ao ver uma charge política preparada para ser publicada no jornal americano Washington Post criticando o então papa são João Paulo II durante seu ativismo contra o comunismo na Polônia.

Lucas, que agora é conhecida como madre Marla, tinha acabado de sair da faculdade na época, havia experimentado recentemente um retorno à sua fé católica e estava “em chamas” por Cristo, disse à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, a que pertence ACI Digital, em 22 de abril.

O que mais magoou a madre Marla na charge foi o seu próprio envolvimento na sua criação. Ela foi assistente de pesquisa do cartunista que a desenhou, Herbert Block, conhecido como “Herblock”, jornalista que ganhou o Prêmio Pulitzer três vezes e dizia ser um“ liberal impenitente”.

“Eu me senti como uma cúmplice”, disse.

Não foram apenas as críticas de Block ao papa João Paulo II que incomodaram madre Marla, foram também suas charges em apoio ao aborto.

“Eu queria ser jornalista para divulgar a verdade. Block era uma pessoa gentil e agradável, mas senti que isso ia contra a minha fé”, disse.

Antes da caricatura do papa, madre Marla discerniu pela vida religiosa e passou um dia em visita à congregação das Filhas de São Paulo em seu convento em Alexandria, na Virgínia.

Depois daquele dia, ela tomou a decisão de se candidatar para a congregação.

Mas pouco tempo depois, madre Marla recebeu a notícia de que não foi admitida pelas Filhas de São Paulo por ser surda de um ouvido.

“O raciocínio da provincial foi que ela não queria prejudicar meu bom ouvido com o trabalho que eu faria”, disse madre Marla.

Uma amiga sugeriu então que Marla procurasse a congregação das Visitantes Paroquiais de Maria Imaculada onde, meses depois, deixaria seu cargo no Washington Post e ingressaria na vida religiosa em dezembro de 1983.

Ao relatar os seus últimos dias no jornal, madre Marla disse que foi conversar com o seu chefe, Block, e com o assistente dele e disse que tinha algumas novidades a contar.

“Você vai se casar?”, perguntaram a ela.

“Bem… de certa forma sim. Vou me casar com Jesus”, respondeu ela.

Ela disse que os queixos dos dois “caíram” e eles olharam para ela com “quase horror e descrença”.

“Aquele último mês no Washington Post foi uma agonia porque, de repente, o que quer que eles tivessem contra a Igreja Católica, eu estava absorvendo. Eles não me deram uma festa de despedida”, disse com uma risada.

Ela fez os primeiros votos em 1986 e os votos perpétuos em 1993.

Madre Marla “amava a vida” em sua comunidade religiosa e teve várias missões na costa leste dos EUA, inclusive em Nova York, Pensilvânia, Connecticut e Washington, DC. As Visitantes Paroquiais são uma congregação com sede em Nova York que tem o carisma de serem missionárias contemplativas.

Mas foi durante o seu tempo na Pensilvânia que ela começou a aprofundar a sua consciência e afeto por sua herança libanesa como católica maronita.

Madre Marla sempre foi consciente de suas raízes maronitas. Sua mãe e seus avós paternos eram do Líbano. Não havia uma igreja maronita perto da casa de sua infância em Poughkeepsie, em Nova York, então sua família frequentava uma paróquia de rito latino. Mas um padre maronita ia até a comunidade libanesa algumas vezes por ano para ministrar-lhes os sacramentos.

Durante sua missão na Pensilvânia, madre Marla participou de uma série de discursos quaresmais em Scranton, na Pensilvânia, em uma igreja maronita. O orador da semana foi o então padre maronita Gregory Mansour.

“Fiquei muito impressionada com os ensinamentos espirituais dele e disse: 'Esse é um homem de oração. Esse homem realmente pratica o seu sacerdócio'. E estabelecemos uma amizade usada por Deus”, disse ela.

Os dois se encontravam ocasionalmente e mantinham contato ao longo dos anos. Madre Marla enviou uma nota de felicitações a Mansour em 2004, quando o papa são João Paulo II o elegeu bispo da eparquia de são Maron do Brooklyn.

Madre Marla e dom Mansour só se reaproximariam alguns anos depois, em Washington, DC, onde ela teve aulas na Casa Dominicana de Estudos por um ano.

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Na época, sendo freira há 24 anos, madre Marla não estava em missão em uma paróquia específica, por isso escolheu assistir à missa na igreja maronita da cidade, a paróquia Nossa Senhora do Líbano.

O pároco abordou a madre Marla e lhe perguntou se ela poderia dirigir o programa de educação religiosa da paróquia. Em sua designação anterior, ela foi diretora de educação religiosa por vários anos.

“Oh, padre, estou aqui por outros motivos”, disse ela ao pároco.

Mas o padre insistiu. Então, madre Marla colocou o convite em oração e, com a permissão da sua superiora, discerniu que Deus estava pedindo que ela liderasse o programa.

Ela então pediu ao reitor do seminário maronita Nossa Senhora do Líbano, adjacente à paróquia, se ela poderia ter algumas aulas para aprender mais sobre a espiritualidade e liturgia maronita para ajudá-la na catequese e ele concordou.

Poucas semanas depois de ter aceitado o cargo, madre Marla se encontrou novamente com dom Mansour enquanto o bispo visitava a paróquia.

Mansour ficou feliz em saber que madre Marla liderava o programa. Mas o que ele lhe disse em seguida mudaria o curso de sua vida para sempre.

“Ele me disse: 'Irmã Marla Marie, você poderia me ajudar a fundar uma congregação de irmãs maronitas para nossa Igreja? E foi exatamente assim. Ele apenas disse: 'Olá, é um prazer te ver. Como está?' E logo em seguida: 'Você fundaria uma comunidade religiosa?'”, contou a madre.

“Fiquei assustada. Mas, ao mesmo tempo, senti uma paz profunda e duradoura. Foi a mesma paz que tive 25 anos antes, quando percebi meu chamado para ser religiosa”, disse.

Madre Marla disse a Mansour que levaria seu pedido à oração e ao discernimento. Com o tempo, ela concordou e pediu licença à sua congregação para seguir essa vocação.

Em 1º de junho de 2008, a irmã Marla se tornou madre Marla Marie, fundadora das Servas Maronitas de Cristo Luz.

“A congregação foi fundada para irradiar o amor e a luz de Cristo ao nosso povo. Nossa vida está enraizada na oração eucarística e na devoção à Mãe de Deus”, disse a madre.

Com o aniversário de 16 anos da comunidade aproximando-se rapidamente, as irmãs estão envolvidas em uma variedade de ministérios, incluindo facilitar conferências e missões paroquiais, dar aulas de catequese, liderar o ministério de jovens e jovens adulto, levar consolo e oração aos que sofrem e acompanhar os que passam para a próxima vida.

A irmã Therese Touma, de 40 anos, ingressou na congregação em 2010 e a irmã Emily Lattouf, 29 anos, ingressou em 2019.

“As irmãs encontram e servem mais de mil pessoas todos os anos, incluindo centenas de crianças e jovens em seus diversos ministérios”, disse Madre Marla.

No ano passado, as irmãs visitaram dez paróquias para missões em toda a eparquia maronita de são Maron do Brooklyn, que vai do Maine à Flórida.

“Madre Marla Marie é uma mulher incrível e corajosa. Admiro sua coragem em deixar o mundo que conhecia em sua comunidade anterior para iniciar esta nova fundação. Sou abençoada por tê-la como mãe-serva, amiga e formadora”, disse a irmã Emily, que fez os primeiros votos em 2023.

As servas maronitas estão agora localizadas no subúrbio de Dartmouth, Massachusetts, próximos a várias paróquias maronitas e a dezenas de paróquias católicas romanas onde servem em ministérios.

“Olho para a minha vida e penso: 'Uau, isso aconteceu comigo?'. Não é incrível como Deus trabalha? E ele faz isso na sua vida também e na vida de todos. Se as pessoas pararem para olhar e ficarem atentas, podemos ver que o Espírito Santo está sempre agindo. Só temos que dar espaço a ele ”, disse madre Marla.

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