16 de dezembro de 2024 Doar
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O que o papa Francisco disse em entrevista a TV dos EUA

Papa Francisco com a âncora do CBS Evening News, Norah O'Donnell. | CBS News/Adam Verdugo

Em sua primeira longa entrevista a uma rede de TV dos EUA, o papa Francisco falou de tópicos como a guerra na Ucrânia, o antissemitismo e a política de imigração americana.

Uma parte da entrevista foi ao ar no último domingo (19) no 60 Minutes, principal programa de entrevistas da rede de televisão americana CBS. A entrevista completa foi ao ar ontem (20) na mesma rede de televisão.

No programa, o papa respondeu a perguntas da âncora do CBS Evening News, Norah O'Donnell, por meio de um tradutor. Traduzimos as respostas do papa Francisco do original espanhol.

Sobre a ameaça de fome em Gaza antes da Jornada Mundial das Crianças:

“[A ameaça] não está apenas em Gaza. Pense na Ucrânia. Muitas crianças da Ucrânia vêm aqui. Você sabia disso? Que essas crianças não sabem sorrir? Eu digo uma coisa a elas [imita um sorriso]... Elas se esqueceram de como sorrir. E isso é muito doloroso.”

Sobre as guerras na Ucrânia e em outros lugares:

“Por favor, países em guerra, todos eles, parem. Parem a Guerra. Procurem negociar. Esforcem-se pela paz. Uma paz negociada é sempre melhor do que uma guerra sem fim.”

Sobre o crescente antissemitismo nos EUA em meio à guerra Israel-Hamas:

“Toda ideologia é ruim. E o antissemitismo é uma ideologia e é mau. Qualquer 'anti' é sempre ruim. Você pode criticar um governo ou outro, o governo de Israel, o governo palestino. Você pode criticar o quanto quiser, mas ser não 'anti' um povo. Nem anti-palestino nem antissemita. Não… Rezo muito pela paz. E também sugiro: 'Por favor, parem. Negociem.' "

Sobre imigração:

“A migração é algo que faz um país crescer. [Para O'Donnell:] Dizem que vocês, irlandeses, migraram e trouxeram o uísque, e que os italianos migraram e trouxeram a máfia... [risos] É uma piada. Não leve a mal. Mas, por vezes, os migrantes sofrem muito. Eles sofrem muito.”

Sobre a “globalização da indiferença”:

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“Você quer que eu diga isso claramente? As pessoas lavam as mãos! Há tantos Pôncios Pilatos à solta por aí… que vêem o que acontece, as guerras, as injustiças, os crimes… 'Tudo bem, tudo bem' e lavam as mãos. É indiferença. É o que acontece quando o coração endurece… e fica indiferente. Por favor, temos que fazer com que nossos corações sintam novamente. Não podemos ficar indiferentes diante de tais dramas da humanidade. A globalização da indiferença é uma doença muito feia. Muito feia."

Sobre casos de abuso sexual na Igreja:

“[A Igreja] deve continuar trabalhando. Infelizmente, a tragédia dos abusos é enorme. E contra isso, [é preciso] uma consciência reta e não só para não permitir, mas para criar condições para que isso não aconteça. … Isso não pode ser tolerado. Quando há um caso de um consagrado ou de uma consagrada que abusa, toda a força da lei recai sobre eles. Nisso houve um grande progresso.”

Sobre o documento da Santa Sé Fiducia supplicans, que permite bênçãos a uniões homossexuais:

“O que eu permiti foi não abençoar a união. Isso não pode ser feito porque não é um sacramento. Eu não posso. O Senhor fez assim. Mas para abençoar cada pessoa, sim. A bênção é para todos. Para todos. Abençoar uma união homossexual, porém, vai contra a lei; a lei natural, a lei da Igreja. Mas para abençoar cada pessoa, por que não? A bênção é para todos. Algumas pessoas ficaram escandalizadas com isso. Mas por que? É para todos! Todos!"

Respondendo sobre críticas de bispos “conservadores” nos EUA:

“Você usa o adjetivo 'conservadores'. Ou seja, conservador é alguém que se apega a algo e não quer ver além disso. É uma atitude suicida. Porque uma coisa é levar em conta a tradição, considerar situações do passado, outra é fechar-se numa caixa dogmática”.

Sobre a barriga de aluguel, proibida pela doutrina da Igreja:

“No que diz respeito à barriga de aluguel, no sentido técnico mais estrito do termo, não, não pode acontecer. Às vezes, a barriga de aluguel se tornou um negócio, e isso é muito ruim. É muito ruim... A outra esperança é a adoção. Eu diria que em cada caso a situação deve ser claramente considerada, considerada clinicamente e depois moralmente. Acredito que nesses casos existe uma regra geral, mas é preciso analisar cada caso em particular para avaliar a situação, desde que o princípio moral não seja contornado.”

Sobre dar esperança aos outros como papa:

“Você precisa estar aberto a tudo. A Igreja é assim: todos, todos, todos. 'Aquele fulano é um pecador...?' Eu também sou um pecador. Todos! O Evangelho é para todos. Se a Igreja coloca um funcionário da alfândega à porta, essa já não é a Igreja de Cristo. Todos."

Respondendo sobre o que lhe dá esperança:

"Tudo. Você vê tragédias, mas também vê tantas coisas bonitas. Você vê mães heroicas, homens heroicos, homens que têm esperanças e sonhos, mulheres que olham para o futuro. Isso me dá muita esperança. As pessoas querem viver. As pessoas seguem em frente. E as pessoas são fundamentalmente boas. Somos todos fundamentalmente bons. Sim, existem alguns bandidos e pecadores, mas o coração é bom.”

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