May 31, 2024 / 15:18 pm
“Celebrar a Eucaristia tem a ver com todo este ser Igreja no meio do mundo, como sal e semente do mundo novo, anunciando o Reino de Deus, que começa nesta terra, mas vive e anuncia o mundo novo na plenitude da vida de Deus”, disse o bispo de Leiria-Fátima, dom José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), na abertura do Congresso Eucarístico Nacional, hoje (31), em Braga.
O V Congresso Eucarístico Nacional segue até domingo (2), com o tema “Partilhar o Pão, alimentar a Esperança. ‘Reconheceram-n’O ao partir o Pão’”. O evento recorda os cem anos do primeiro congresso eucarístico nacional, que aconteceu em 1924, também em Braga.
A cerimônia de abertura contou com a presença de dom Ornelas, do arcebispo de Braga, dom José Cordeiro, do núncio apostólico em Portugal, dom Ivo Scapolo, e da vereadora da Câmara Municipal de Braga, Olga Pereira.
Segundo os organizadores, estão inscritas no evento cerca de 1.400 pessoas, representantes de todas as dioceses de Portugal. Também participam quatro cardeais e 30 bispos.
Em seu discurso na abertura do evento, dom Ornelas disse que o Congresso Eucarístico Nacional está sendo celebrado “em tempos de rápida e radical mudança em todo o mundo e também no nosso país e Igreja, que não poupa e não pode deixar indiferentes aqueles que creem em Jesus Cristo neste país em que vivemos e nos comprometemos”.
O presidente da CEP citou o Concílio Vaticano II, quando “também a Igreja despertou neste mundo em vertiginosa transformação” para “uma nova compreensão da sua essência e missão e para uma nova forma de ver e de se relacionar com o mundo sem medo de estar nele, mas participando como sal e fermento na complexidade desta sociedade, deste mundo que está a nascer”, disse.
Para o bispo, “o pós-Concílio tem sido um percurso rico e complexo da Igreja, tanto no seu nível interno como na sua relação com o mundo, com a cultura, com a ciência, os desafios novos e impensáveis com que nos confrontamos e para os quais não temos receitas escritas ou contadas nos anais do passado”.
Nesse contexto, dom Ornellas disse que a Eucaristia é “a celebração da Igreja como sacramento da sua presença viva, ativa e salvadora de Cristo ressuscitado através dos tempos”.
Temas ligados de atualidade concreta
Dom José Ornelas destacou a necessidade de “interrogar-se sobre os temas que são diretamente ligados” ao “significado transformador da Eucaristia e que são de concreta e gritante atualidade”.
O primeiro tema, disse, “é necessariamente a questão do pão, o pão necessário e fundamental para a vida de todos nós humanos”. O bispo citou a passagem evangélica da multiplicação dos pães e disse que “Jesus sente compaixão da multidão faminta e multiplica para ela o pão, para que não desfaleçam no caminho”. Segundo ele, Jesus mostrou aos discípulos que era preciso que estivessem com aquelas pessoas, e não “simplesmente” mandá-las “ao mercado, para casa”.
“Mas vocês têm obrigação com eles, vocês que professam a fé assumem uma responsabilidade fundamental na questão do pão da vida, o pão da cultura, o pão da dignidade e da justiça”, completou.
Dom Ornelas disse que “a Eucaristia é exigente, não é apenas um rito” e questionou: “quem participa da Eucaristia, como pode ficar inativo à falta de pão em casa, em tantas outras situações de conflitos, nas numerosas crianças que a cada hora morrem de fome no mundo, das situações de conflito e penúria?”
O bispo de Leiria-Fátima também disse que é “fundamental refletir sobre a opinião de Jesus acerca daquilo que podemos considerar as condições para se ter o pão que Ele concede como fonte de bênção e salvação”.
“Ele é acusado de se pôr à mesa com publicanos, prostitutas e pecadores. Deixa-se tocar e lavar os pés por uma dessas prostitutas e, escândalo dos escândalos, os enxuga com os cabelos. Está Jesus a pensar sobre as nossas discussões enormes para se aproximar do pão que Ele oferece a todos?”, disse.
Outro tema que convidou a refletir foi sobre a autoridade. “A Eucaristia não é local de poder, de papeis, de importâncias, é local de serviço em que todos no meio da comunidade, nos seus diversos ministérios e funções desempenham um papel a serviço de todos e para que todos dela se beneficiem. Não é uma questão de poder ou de representatividade, também não é uma questão simplesmente de um ato democrático, porque é um dom de Deus para todos”, disse.
Para dom Ornelas, “uma questão fundamental da Eucaristia” também “é o anúncio, porque isso é o ser da Igreja”. “Nós Igreja que peregrinamos neste mundo, temos como função a missão, é para isso que foi fundada, é para dar a conhecer o evangelho, é para cuidar da multidão faminta como Jesus fez”, disse.
O bispo recordou o “pendor missionário” de Portugal, que ao longo dos séculos realizou a missão “para fora”. Mas, disse, “hoje, nós recordamos de fato para dizer que é muito necessária a missão nesta terra, entre nós, não só para o interior daqueles que ainda se dizem cristãos, mas para todos os outros e para os imigrantes que chegam”.
Por fim, disse ser “tema fundamental” o da “Igreja sinodal, em que toda a comunidade crente no mundo inteiro se encontra envolvida”. “Como essa Igreja, na diversidade dos seus carismas e ministérios, exprime, cresce e se anuncia nas nossas celebrações?”, questionou.
Eucaristia é para todos
O arcebispo de Braga, dom José Cordeiro, disse que “hoje existe uma consciência unitária da Eucaristia, memória, sacrifício, banquete, presença permanente, vista como uma ação participativa da Igreja”, mas que também “sentimos a necessidade de recentrar a Eucaristia e o domingo na experiência da fé pessoal, familiar e comunitária para melhorar o cuidado das celebrações e da adoração eucarística e da caridade para com os necessitados que parte da Eucaristia”.
“Partilhar o pão é o dom maior para alimentar a esperança. Podemos até dizer que a Igreja acredita conforme a Igreja celebra a Eucaristia no seu caminho sinodal de Páscoa. A Eucaristia é para todos, depende de nós que seja cada vez mais de todos”, disse.
Dom Cordeiro também destacou que a celebração do Congresso Eucarístico acontece “no ano da oração” proposto pelo papa Francisco, entre a Jornada Mundial da Juventude, que aconteceu em agosto de 2023 em Lisboa, e o Jubileu 2025.
O arcebispo de Braga também propôs que o congresso eucarístico aconteça de 10 em 10 anos, nas várias dioceses portuguesas.
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