Jun 14, 2024 / 15:58 pm
A queda de Mossul, no Iraque, para o grupo terrorista Estado Islâmico (ISIS) em 2014 não foi o início da luta para os cristãos da cidade. Assassinatos, sequestros e ameaças de grupos armados atormentavam a comunidade desde a invasão do país pelos EUA em 2003. Clérigos e leigos suportaram o peso da violência, com bombardeios também visando igrejas.
A situação atingiu um pico quando as forças de segurança desmoronaram, falhando em proteger Mossul, a segunda maior cidade do Iraque e o coração da província de Nínive. O Estado Islâmico assumiu o controle em 10 de junho de 2014, mergulhando os cristãos de Mossul no período mais sombrio de sua história recente. Hoje, eles lutam para reconstruir suas vidas enquanto exigem responsabilidade e um futuro construído sobre equidade e justiça.
Na sequência de confrontos e atentados entre as forças de segurança e o Estado Islâmico, os moradores de Mossul foram deixados à própria sorte. A testemunha Nahed Abdul Ahad descreveu a completa ausência das forças de segurança em entrevista à ACI Mena, agência em árabe do grupo EWTN, a que pertence ACI Digital.
"Muitas famílias fugiram da cidade, particularmente os cristãos", disse Abdul Ahad. "Eles temiam o pior, especialmente depois de relatos generalizados de assassinatos e torturas por terroristas. Outros se agarraram à esperança de que isso fosse apenas um lapso temporário de segurança".
A brutalidade do Estado Islâmico foi rápida e simbólica. Em 20 de junho de 2014, destruíram a imagem de "Nossa Senhora de Tigre" no topo da Igreja Al-Tahera como parte de uma campanha para "limpar o lugar de feições politeístas". Esse ato espelhou a destruição de outras estátuas que há muito estavam tecidas no caráter da cidade.
O terror aumentou ainda mais em 28 de junho de 2014, com o sequestro de duas religiosas, a irmã Atur e a irmã Maskanta, da Congregação Caldeia das Filhas de Maria, juntamente com três crianças do orfanato que administravam. Felizmente, eles foram liberados ilesos em 17 de julho. Esses eventos coincidiram com a declaração do chamado "Estado Islâmico no Iraque e na Síria" e o estabelecimento do "califado islâmico" sob o líder do grupo terrorista Abu Bakr al-Baghdadi.
A brutalidade do Estado Islâmico não conhecia limites. Depois de acusar o clero cristão de recusar uma reunião, o grupo publicou um documento assustador intitulado "Destino" em 18 de julho de 2014. Distribuído por membros do Estado Islâmico, ele deveria ser lido em voz alta nas mesquitas depois das orações de sexta-feira.
Este documento apresentava uma escolha impossível para os cristãos de Mossul: sair em um prazo de 24 horas ou enfrentar a conversão forçada ao Islã, um imposto pesado para os não-muçulmanos (jizya) ou a morte. Abdul Ahad, testemunha desses terríveis acontecimentos, relatou o êxodo desesperado que se seguiu.
"O ISIS nos proibiu de tomar qualquer coisa", disse Abdul Ahad em entrevista à ACI Mena. "Móveis, documentos de identificação, dinheiro, ouro, tudo foi confiscado. Muitos foram forçados a abandonar seus carros e caminhar, às vezes descalços, em direção a Duhok e Erbil, no Curdistão iraquiano ou no vale de Nínive, antes que também caísse nas mãos do ISIS”.
O grupo terrorista marcou as propriedades cristãs com a letra "N", em referência ao termo corânico "Nasara" (nazarenos), efetivamente reivindicando-as para o Estado Islâmico. Mossul, uma cidade com uma rica herança cristã com 35 igrejas que datam de 1.500 anos, foi esvaziada de seus habitantes cristãos. Pela primeira vez em sua história, a cidade ficou praticamente desprovida de cristãos, com apenas alguns muito doentes ou empobrecidos para sair.
Depois da libertação de Mossul, em 2017, um grupo de cristãos começou a retornar à cidade. O arcebispo caldeu de Mossul, dom Mikail Najeeb, descreveu o retorno como "tímido".
Em entrevista à ACI Mena, o arcebispo disse que "segundo as estatísticas diocesanas, não mais do que 100 famílias retornaram, sendo apenas 35 de caldeus". Najeeb pediu ao governo que apoie essas famílias por meio de reparações por bens perdidos, um passo crucial para incentivar um retorno mais substancial.
As dioceses em Mossul estão lentamente reconstruindo suas igrejas com seus próprios recursos, complementados pelo apoio de organizações cristãs em todo o mundo. Igrejas como São Tomé, a Igreja da Anunciação, Al-Tahera para os católicos sírios, São Paulo e Nossa Senhora da Ajuda para os caldeus estão atualmente passando por reconstrução.
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