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Homilia do papa Francisco na missa da Solenidade de São Pedro e São Paulo 2024

O Papa Francisco celebra a missa da Solenidade de São Pedro e São Paulo em 29 de junho de 2024. | Crédito: Daniel Ibáñez - EWTN News.

No sábado, 29 de junho, foi a Solenidade de São Pedro e São Paulo. O papa Francisco celebrou a missa na Basílica de São Pedro e abençoou os pálios dos 42 arcebispos metropolitanos nomeados no último ano, entre eles cinco brasileiros.

Abaixo, a homilia do papa Francisco:

Fixemos o nosso olhar nos dois Apóstolos, Pedro e Paulo: o pescador da Galileia que Jesus fez pescador de homens; o fariseu perseguidor da Igreja transformado pela Graça em evangelizador dos gentios. À luz da Palavra de Deus, deixemo-nos inspirar pelas suas histórias e pelo zelo apostólico que marcou o caminho das suas vidas. Ao encontrarem o Senhor, fizeram uma verdadeira experiência pascal: foram libertados e abriram-se diante deles as portas de uma vida nova.

Irmãos e irmãs, nas vésperas do ano jubilar, detenhamo-nos precisamente na imagem da porta. Com efeito, o Jubileu será um tempo de graça no qual abriremos a Porta Santa, para que todos possam atravessar o limiar daquele santuário vivo que é Jesus e, n’Ele, experimentar o amor de Deus que revigora a esperança e renova a alegria. Também na história de Pedro e Paulo há portas que se abrem.

A primeira leitura contou-nos o acontecimento da libertação de Pedro da prisão. Esta narrativa tem muitas imagens que nos recordam a experiência da Páscoa: o episódio ocorre durante a festa dos Ázimos; Herodes recorda a figura do Faraó do Egito; a libertação tem lugar de noite, como aconteceu com os israelitas; o anjo dá a Pedro as mesmas instruções que foram dadas a Israel: levanta-te depressa, põe o cinto, calça as sandálias (cf. At 12, 8; Ex 12, 11). Portanto, o que nos é narrado é um novo êxodo: Deus liberta a sua Igreja, o seu povo acorrentado, e mostra-se mais uma vez como o Deus da misericórdia que sustenta o seu caminho.

Naquela noite de libertação, a princípio abrem-se milagrosamente as portas da prisão; depois diz-se, de Pedro e do anjo que o acompanha, que eles estão diante da «porta de ferro que dá para a cidade, a qual se abriu por si mesma» (At 12, 10). Não são eles que abrem a porta, ela abre-se por si mesma. É Deus que abre as portas, é Ele quem liberta e abre caminhos. A Pedro – como ouvimos no Evangelho – Jesus tinha confiado as chaves do Reino; mas ele experimenta que é o Senhor quem abre primeiro as portas. Ele vai sempre à nossa frente.

Chega a ser curioso: as portas da prisão são abertas pela força do Senhor, mas depois Pedro encontrará dificuldades para entrar na casa da comunidade cristã, aquela que vai à porta pensa que é um fantasma, e não a abre. Quantas vezes as comunidades não aprendem esta sabedoria de “abrir as portas”.

O caminho do apóstolo Paulo é, também e sobretudo, uma experiência pascal. Efetivamente, primeiro ele é transformado pelo Ressuscitado no caminho de Damasco e, depois, na contemplação contínua de Cristo crucificado, descobre a graça da fraqueza: quando somos fracos – afirma – é então que somos realmente fortes, porque já não nos apegamos a nós mesmos, mas a Cristo (cf. 2 Cor 12, 10). Alcançado pelo Senhor e crucificado com Ele, Paulo escreve: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20).O objetivo de tudo isto, porém, não é uma religiosidade intimista e consoladora, como hoje nos apresentam alguns movimentos na Igreja, com uma “espiritualidade de salão”; pelo contrário, o encontro com o Senhor acende na vida de Paulo o zelo pela evangelização. Como ouvimos na segunda leitura, no fim da sua vida ele declara: «O Senhor esteve comigo e deu-me forças, a fim de que, por meu intermédio, o anúncio fosse plenamente proclamado e todos os gentios o escutassem» (2 Tm 4, 17).

Precisamente para contar como o Senhor lhe deu tantas oportunidades de anunciar o Evangelho, Paulo recorre à imagem das portas abertas. Sobre a sua chegada a Antioquia juntamente com Barnabé, diz-se que «assim que chegaram, reuniram a igreja e contaram tudo o que Deus fizera com eles, e como abrira aos pagãos a porta da fé» (At 14, 27). Do mesmo modo, dirigindo-se à comunidade de Corinto, diz: «abriu-se ali uma porta larga e propícia» (1 Cor 16, 9); e escrevendo aos Colossenses, exorta-os assim: «orai também por nós, para que Deus abra uma porta à nossa pregação, a fim de que eu anuncie o mistério de Cristo» (Col 4, 3).

Irmãos e irmãs, os dois Apóstolos Pedro e Paulo fizeram esta experiência de graça. Tocaram com as mãos a obra de Deus, que lhes abriu as portas da sua prisão interior e também das prisões reais onde estavam encerrados por causa do Evangelho. E abriu-lhes, igualmente, as portas da evangelização, para que pudessem experimentar a alegria do encontro com os irmãos e irmãs das comunidades nascentes e levar a todos a esperança do Evangelho. E assim, nos preparamos para abrir a Porta Santa, neste ano!

Irmãos e irmãs, hoje os Arcebispos Metropolitanos nomeados durante o último ano recebem o Pálio. Em comunhão com Pedro e seguindo o exemplo de Cristo, porta das ovelhas (cf. Jo 10, 7), são chamados a ser pastores zelosos, que abrem as portas do Evangelho e que, com o seu ministério, ajudam a construir uma Igreja e uma sociedade de portas abertas.

Saúdo, com afeto fraterno, a Delegação do Patriarcado Ecuménico: obrigado por terem vindo manifestar o desejo comum da plena comunhão entre as nossas Igrejas. Envio uma sentida saudação cordial ao meu irmão, ao meu caro irmão Bartolomeu.

Que os Santos Pedro e Paulo nos ajudem a abrir a porta da nossa vida ao Senhor Jesus, que eles intercedam por nós, pela cidade de Roma e pelo mundo inteiro. Amém.

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