23 de novembro de 2024 Doar
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'Deus está escondido na miséria humana', diz papa sobre dignidade de migrantes e prisioneiros

Papa Francisco celebra missa hoje (7) em Trieste, Itália, ao lado de imagem da Anunciação e da Encarnação. | Vatican Media

Diante de uma sociedade às vezes “anestesiada” e consumista, devemos lembrar o “escândalo” da nossa fé cristã — que Deus se fez homem e habita em cada um de nós, especialmente nos mais fracos, disse hoje (7) o papa Francisco em Trieste, Itália.

“Precisamos do escândalo da fé”, disse o papa durante a missa. "de uma fé arraigada no Deus que se fez homem e, portanto, de uma fé humana, de uma fé de carne, que entra na história, que acaricia a vida das pessoas, que cura os corações partidos, que se torna fermento de esperança e germe de um mundo novo".

“Uma fé que desperta as consciências do torpor, que põe o dedo nas feridas da sociedade (...) uma fé inquieta, uma fé que se move de coração a coração, uma fé que acolhe os problemas da sociedade, uma fé que nos ajuda a vencer a mediocridade e a acídia do coração, que se torna um espinho na carne de uma sociedade muitas vezes anestesiada e atordoada pelo consumismo”, disse o papa em missa para cerca de 8,5 mil pessoas na Piazza Unità d’Italia, próxima ao porto de Trieste.

O papa Francisco celebrou a missa durante visita a Trieste para o encerramento da 50ª Semana Social dos Católicos, um evento anual organizado pela Conferência Episcopal Italiana, dedicado a promover a Doutrina Social da Igreja. O tema do encontro deste ano, que teve cerca de 1,2 mil participantes, foi a democracia.

Depois de discursar para os participantes do congresso que ocorreu entre quarta-feira (3) e hoje (7) no Centro de Convenções Generali, o papa foi à Piazza Unità d'Italia em um carrinho de golfe para a missa, concelebrada com quase 100 bispos e 260 padres.

Segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé, o papa cumprimentou uma moradora de Trieste de 111 anos chamada Maria antes da missa.

Papa cumprimenta Maria, moradora de Trieste de 111 anos, antes da missa hoje (7). Vatican Media

"Deus se esconde nos cantos escuros da vida e das nossas cidades. A sua presença se revela precisamente nos rostos escavados pelo sofrimento e onde a degradação parece triunfar. O infinito de Deus está escondido na miséria humana, o Senhor se agita e se torna presença amiga precisamente na carne ferida dos últimos, dos esquecidos e dos descartados. Ali, Deus se manifesta”, disse o papa ao refletir sobre a humanidade de Deus na homilia.

“E nós, que às vezes nos escandalizamos inutilmente com muitas pequenas coisas, faríamos bem em nos perguntar: por que não nos escandalizamos diante do mal que se espalha, da vida humilhada, dos problemas do trabalho, do sofrimento dos migrantes?, disse Francisco.

A Semana Social dos Católicos foi realizada em Trieste, uma cidade portuária localizada em uma estreita faixa de território italiano no extremo nordeste do país, aninhada entre o Mar Adriático e a Eslovênia, com a fronteira com a Croácia próxima.

A posição da cidade fez dela um ponto de chegada comum para migrantes que chegam à Europa pela rota migratória dos Balcãs.

Em seu relatório anual, o grupo de ajuda Comitê Internacional de Resgate observou um aumento preocupante de crianças migrantes chegando à cidade.

Segundo o comitê, cerca de 3 mil crianças desacompanhadas chegaram como migrantes a Trieste no ano passado, um aumento de 112% em relação a 2022.

O grupo de ajuda diz ter encontrado e fornecido ajuda a cerca de 16 mil pessoas que  chegaram à estação de trem de Trieste pela rota migratória dos Balcãs no ano passado. Segundo o comitê, cerca de 68% dos migrantes eram do Afeganistão. 

Papa Francisco celebra missa hoje (7) para cerca de 8,5 mil pessoas na Piazza Unità d’Italia, em Trieste, Itália. Daniel Ibáñez/CNA

O papa disse hoje (7) em homilia para que continuem "trabalhando na linha de frente para difundir o Evangelho da esperança, especialmente para aqueles que chegam da rota dos Balcãs e para todos aqueles que, no corpo ou no espírito, precisam ser encorajados e consolados”. 

No início da manhã, Francisco encontrou-se brevemente com um grupo de cerca de 150 migrantes e pessoas com deficiência.

O papa também se lembrou dos prisioneiros em sua reflexão. Trieste marcou as manchetes no início do ano devido à terrível superlotação na principal prisão da cidade.

“Por que permanecemos apáticos e indiferentes diante das injustiças do mundo? Por que não levamos a sério a situação dos encarcerados, que também desta cidade de Trieste se eleva como um grito de angústia? Por que não contemplamos a miséria, a dor, o descarte de tantas pessoas da cidade? Temos medo. Temos medo de encontrar Cristo ali.”

Ao final da missa, o papa rezou o ângelus, como faz todos os domingos. Antes de rezar a oração mariana, o papa falou sobre a recepção de migrantes em Trieste.

Trieste “é uma porta aberta para os migrantes — e para todos aqueles que mais lutam”, disse Francisco.

“Trieste é uma dessas cidades que tem a vocação de reunir pessoas diferentes: primeiro porque é um porto, é um porto importante, e depois porque está localizada na encruzilhada entre a Itália, a Europa Central e os Bálcãs”, disse o papa. “Nessas situações, o desafio para as comunidades eclesiais e civis é saber como combinar abertura e estabilidade, acolhida e identidade.”

Segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé, o papa Francisco embarcou em um helicóptero no pier Audace depois de celebrar a missa e rezar o ângelus e chegou ao Vaticano pouco antes das 14h (horário local).

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