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Padre do Haiti diz que condições no país são ‘inaceitáveis, intoleráveis e inconcebíveis’

Mulher caminha na chuva em Porto Príncipe, Haiti, em 24 de outubro de 2022. | Richard Pierrin/AFP via Getty Images

A catástrofe humanitária em curso no Haiti, em que gangues tomaram conta da maior parte do país, inclui "uma campanha organizada contra a Igreja", com muitos católicos sofrendo com sequestros, roubos e agressões, segundo um padre haitiano.

O padre Baudelaire Martial, CSC, da Congregação da Santa Cruz, falou recentemente com a instituição de caridade papal Ajuda à Igreja que Sofre (ACN, na sigla em inglês) em uma visita à sede do grupo em Königstein, Alemanha. Os padres da Santa Cruz administram oito paróquias e várias escolas no Haiti, segundo o seu site .

“A situação em Porto Príncipe é inaceitável, intolerável e inconcebível. Vivemos em condições muito precárias”, disse o padre à ACN.

“As pessoas estão com fome, e há escassez de medicamentos. Muitos médicos foram sequestrados. Algumas escolas ainda estão fechadas, os professores ganham muito pouco dinheiro, não há turismo, e o principal complexo turístico de Labadee, no norte, está fechado”.

Martial disse que muitas paróquias, incluindo a catedral da cidade, foram forçadas a fechar devido ao conflito.

“Outras áreas são mais acessíveis, e então os fiéis têm se reunido nas paróquias que estão abertas. Também oferecemos suporte pastoral online. A fé das pessoas continua viva. Uma grande multidão compareceu à missa na Quinta-feira Santa, por exemplo, apesar do perigo”, disse ele.

“Quando saímos de casa, nunca sabemos se voltaremos”, disse Martial. No Foyer de l'Esperance, centro social que Martial administra para jovens em Porto Príncipe, uma menina de 12 anos foi assassinada e outra foi violentamente atacada. Algumas escolas foram forçadas a fechar e mudar para o ensino online, disse ele.

“Algumas vezes, tive que me jogar no chão para desviar de balas. Ouvimos o som de armas automáticas durante todo o dia. Temos medo, mas temos que estar presentes para apoiar nosso povo. Estamos sofrendo, mas somos chamados a ir além desse sofrimento, em direção à esperança”, disse ele.

“Algumas pessoas estão traumatizadas e sofreram ferimentos graves ou abusos, mas com o passar do tempo, o choque diminui. O medo permanece, mas, como Igreja, não podemos nos render. Temos que continuar avançando e dar esperança.”

O setor agrícola do Haiti também enfrenta grandes dificuldades, disse ele, com áreas produtivas como os arrozais da região de Artibonito sendo tomadas por gangues armadas. Tudo isso está contribuindo para que o povo do Haiti — o país mais pobre do hemisfério ocidental — fique “mais pobre a cada dia”.

A prioridade no momento, disse Martial, “para todos, é a segurança e colocar comida na mesa”.

“Tenho a impressão de que há uma campanha organizada contra a Igreja, porque vimos muitos padres e religiosos serem vítimas dessas gangues”, continuou Martial.

“Na minha comunidade, um padre foi sequestrado, e tivemos que pagar um resgate para sua libertação. Muitas dioceses e comunidades sofreram com roubos e agressões. É assim que eles pressionam a Igreja a se calar, mas nossa missão profética exige que denunciemos o que é mau. Sabemos que essa é uma posição arriscada, mas essa é a nossa cruz, e a aceitamos. Como Igreja, devemos ter a fé e a força para acompanhar nosso povo e todos aqueles que sofrem, e continuaremos a fazê-lo, mesmo arriscando nossas próprias vidas.”

Muitos relatos surgiram nos últimos anos de padres e irmãs religiosas sendo sequestrados por gangues e mantidos como reféns. A conferência episcopal do país tem pedido repetidamente o fim da violência.

O assassinato do presidente haitiano Jovenel Moïse em julho de 2021 lançou o país em mais caos. O primeiro-ministro Ariel Henry foi impedido de retornar de uma viagem ao exterior devido à violência e terminou renunciando. O Haiti não tem nenhum funcionário eleito em exercício desde janeiro do ano passado.

Em junho, centenas de policiais quenianos chegaram ao país como parte de uma força multinacional mandatada pela Organização das Nações Unidas (ONU) que busca restaurar a paz no Haiti, informou a rede pública de comunicações do Reino Unido BBC, mas até agora o esforço não produziu mudanças duradouras na situação da segurança do país.

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