19 de setembro de 2024 Doar
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O caso do padre da diocese de Coari acusado de pedofilia e a prevenção de abusos sexuais na Igreja

Padre Paulo Araújo da Silva. | Crédito: Diocese de Coari.

O padre Paulo Araújo da Silva, de 31 anos, foi preso no domingo (18) em Coari (AM) acusado de cometer crimes sexuais contra adolescentes, aborto e participação no enterro do feto no quintal de um amigo. Segundo a Polícia Civil, ao menos quatro adolescentes foram abusadas sexualmente pelo padre que foi preso na casa paroquial da paróquia São Pedro, da diocese de Coari (AM). Com ele foram apreendidos mais de R$ 30 mil e 260 vídeos de cenas de sexo com adolescentes e outras pessoas.

Francisco Rayner, amigo do padre que participou do aborto e enterrou o feto no quintal de sua casa, foi preso na quinta-feira (22).

“O fato ocorrido nos encheu a todos de muito sofrimento e de surpresa”, disse à ACI Digital o bispo de Coari, dom Marcos Piatek. “O padre Paulo foi afastado das funções ministeriais, como prevê a legislação da Igreja Católica e o ensinamento do nosso papa Francisco”.

“Não é fácil detectar um agressor sexual”, disse à ACI Digital Dante Aragón, membro do Sodalício de Vida Cristã e coordenador geral da Reconciliatio, que desenvolve um programa de prevenção de abuso sexual e construção de ambientes seguros para crianças, adolescentes e adultos vulneráveis. Mestre em psicologia, Aragón diz que há características psicológicas que podem ser fatores de risco “como compulsões graves, transtornos de personalidade, abuso de autoridade, imaturidade emocional e sexual”.

Os abusos sexuais não têm relação com o celibato. “As estatísticas apontam que 90% dos casos de abuso sexual são cometidos por familiares e pessoas próximas à vítima que não viviam o celibato e não tinham pretensão de vivê-lo”, diz Aragón. Mas se “uma pessoa vive seu celibato como uma autocensura do desejo sexual, desenvolverá problemas psicológicos relacionados com a imaturidade, em alguns casos poderia ser um fator de risco que poderiam derivar em tendências perversas”.

“No caso dos abusadores dentro da Igreja a maioria dos casos são de pessoas narcisistas com traços psicopatas”, disse. “Os sacerdotes ou religiosos desenvolvem caraterísticas narcisistas, no qual se sentem superiores, especiais, admirados e poderosos”.

Na formação dada nos seminários “não há nada que possa nos garantir 100% de resultados, pois existe o mistério da liberdade humana e da providência divina”, disse Aragón. Mas é importante que se faça uma apresentação “orgânica da sexualidade visando a integração de seu mundo afetivo-sexual, que não envolve somente a realização ou não de atos sexuais, mas uma complexa visão integral da pessoa e de sua relação com os outros, como também uma boa formação sobre o bom uso do poder e da autoridade, como serviço, para serem servidores de Cristo”.

O documento Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis: O dom da vocação presbiteral, da Congregação, hoje Dicastério, para o Clero, que rege a formação sacerdotal nos seminários diz que “deverá ser dada máxima atenção ao tema da proteção dos menores e dos adultos vulneráveis”, sendo obrigatório no programa de formação inicial e permanente do sacerdote incluir “lições específicas, seminários ou cursos sobre a proteção dos menores”.

“Deve ministrar-se uma informação adequada de um modo apropriado, dando também relevo às possíveis áreas de exploração ou de violência, como, por exemplo, o tráfico de menores, o trabalho”, continua o documento de 2016.

Para Aragón, os abusos diminuiriam muito se essa formação fosse feita nas dioceses e se “os processos de formação trabalhassem melhor os temas da identidade vocacional, da vida espiritual e o referente à maturidade humana, com mais coerência na vivência e sem mediocridade”.

Os abusos sexuais geram feridas na vítima que “englobam aspectos físicos, psicológicos e sociais”, disse Aragón. “No caso de um abuso perpetrado por um sacerdote, este também exerce um papel espiritual, então esta quebra de confiança se dá na dimensão espiritual da pessoa podendo gerar feridas muito profundas na visão que as vítimas têm do próprio Deus”.

A diocese de Coari tem uma comissão diocesana para a proteção dos menores e pessoas em situação de vulnerabilidade, segundo dom Marcos. Ela faz parte da Comissão Arquidiocesana para Proteção de Menores e de Pessoas em Situação de Vulnerabilidade.

Mas, no Brasil, segundo Aragón, “em muitas dioceses ainda não existem estas comissões”. Em outras as comissões “foram criadas, mas sem ter funcionamento, acabam sendo comissões cosméticas”.

“São raras as situações em que, no ambiente eclesial, existe liberdade para se falar do tema e raríssimos os casos onde os leigos sabem a quem recorrer para fazerem as denúncias ou que encontrem as estruturas ‘estáveis e facilmente acessíveis’ que façam os processos acontecerem sem demora”, conclui Aragón.

“Rezemos uns pelos outros para que a justiça e a verdade prevaleçam e para que o mal seja vencido pelo bem”, disse dom Marcos em mensagem enviada à ACI Digital. “O mundo precisa dos bons, maduros e santos sacerdotes servindo a Deus e ao Povo de Deus”.

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