19 de setembro de 2024 Doar
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“Mantemos o rito antigo, em perfeita comunhão com a Igreja”, diz bispo da administração apostólica

Dom Fernando Rifan | Davi Corrêa / ACI Digital

“O rito tradicional é mais vertical. Já o rito atual é mais horizontal, para os fiéis – e legítimo, desde que celebrado corretamente”, disse à ACI o segundo bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, dom Fernando Arêas Rifan. “Aqui, o pessoal admira isso, mesmo o latim, o gregoriano, o órgão tocando, o silêncio da missa, as pessoas gostam. Depois, vai dizer que isso está errado? A missa que santificou a Igreja durante 400 anos. O pessoal fala: nessa missa as pessoas não participam da missa. Você acha que santa Teresinha, são João da Cruz, os santos todos que viveram nesse período de 400 anos não se santificavam, não participavam da missa? Claro que participavam”.

Para manter essa liturgia, dom Fernando chegou a ficar décadas em situação irregular na Igreja quando ainda era padre. A Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney foi “uma solução que a Santa Sé, o papa são João Paulo II deu, nessa perfeita comunhão com a Igreja, conservando a missa na forma antiga do rito romano”, disse.

Dom Fernando Rifan celebra a missa na igreja principal da Administração Apostólica. Davi Corrêa / ACI Digital

A Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney foi criada em 2002 pelo papa são João Paulo II como uma circunscrição eclesiástica de caráter pessoal no território da diocese de Campos (RJ). Sua característica particular é a manutenção da liturgia antiga, a disciplina e os costumes tradicionais. É originária da União Sacerdotal São João Maria Vianney, um grupo de padres que depois da promulgação do Missal de Paulo VI, em 1969, decidiu junto com o então bispo de Campos (RJ), dom Antônio de Castro Mayer, manter o rito romano antigo.

A história da Administração Apostólica

A história da Administração Apostólica está ligada ao bispo emérito de Campos, dom Antônio de Castro Mayer. Nascido em Campinas (SP) em 1904, Castro Mayer foi ordenado padre em Roma, em 30 de outubro de 1927. Era doutor em Sagrada Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma. De volta ao Brasil, teve diversas funções em São Paulo, entre as quais professor do seminário e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Em 1948, foi nomeado bispo coadjutor de Campos, tendo recebido a ordenação episcopal em 23 de maio do mesmo ano. Em 1949, tornou-se bispo de Campos.

Dom Antônio de Castro Mayer participou do Concílio Vaticano II e fez parte do Coetus Internationalis Patrum, grupo liderado pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre, que mais tarde, em 1970, fundou a Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), e o arcebispo de Diamantina (MG), dom Geraldo de Proença Sigaud. Foi dom Sigaud que aproximou dom Castro Mayer de dom Lefebvre.

Dom Antônio de Castro Mayer era “um bispo muito conservador, muito fiel à Igreja, participou do Concílio [Vaticano II], publicou várias cartas pastorais sobre como interpretar bem o Concílio”, disse dom Fernando Rifan. “E ele formou um clero, porque ficou aqui 33 anos, formou o seminário, o clero. Quando chegou aqui, o clero era todo de fora, ele foi formando o clero, os padres, dando formação e uma correta interpretação dos documentos do Concílio”, acrescentou.

Segundo dom Fernando, “quando saiu a missa nova, de Paulo VI”, em 1969, dom Mayer conservou “a missa na forma antiga, assim como os padres [de Campos] também acabaram” fazendo. Ele “pediu” à Santa Sé “para continuar com a missa na forma antiga”.

Dom Mayer “distribuiu o missal [de Paulo VI] para todos os padres e explicou como seria a nova missa”, disse dom Fernando. “Aqui em Campos tinha mais missa nova do que antiga, com os salesianos, os redentoristas e outros padres também, sem dom Antônio fazer nada”, disse.

“Mas, depois começaram a vir muitas críticas à missa atual, muita má interpretação do Concílio e muito abuso litúrgico”, disse o bispo da Administração Apostólica. Isso “criou certo repúdio à missa atual, que acabam julgando que era a culpada de tudo aquilo. Na verdade, deu só ocasião para tudo aquilo”.

Em 1981, dom Antônio de Castro Mayer se tornou bispo emérito de Campos e foi sucedido por dom Carlos Alberto Navarro. “Quando veio o novo bispo, dom Carlos Alberto, ele quis impor a missa atual e muitos padres começaram a dizer ‘não quero, em consciência não posso’, naquele ritmo já formado”, recordou dom Fernando, que era um dos padres ordenados por dom Antônio Mayer e que continuou celebrando a missa antiga.

“Dom Carlos então fez um decreto de que quem não celebrasse a missa na forma atual seria retirado das paróquias. Os padres não arredaram o pé e ele tirou todo mundo. Aí, começaram a atender o povo em capelas privadas”, contou.

Segundo dom Fernando Rifan, a partir desse momento, “começou a se formar uma espécie de Igreja paralela, o que não estava certo, uma espécie de um cisma, com duas dioceses em uma só”.

Nesse contexto, foi criada a União Sacerdotal São João Maria Vianney, formada pelos cerca de 25 padres da diocese de Campos que mantiveram a celebração da missa antiga e o bispo emérito dom Antônio de Castro Mayer. Os padres da União Sacerdotal e dom Mayer tinham proximidade com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, de dom Marcel Lefebvre, que tinha sede na Suíça, mas com presença em vários países da Europa, da América e da África.

A situação “piorou”, disse dom Fernando Rifan, quando dom Lefebvre sagrou quatro bispos para a Fraternidade, em Écône, Suíça, indo contra uma proibição expressa da Santa Sé, em 30 de junho de 1988. Os bispos sagrados foram: Bernard Fellay, Bernard Tissier de Mallerais, Richard Williamson e Alfonso de Galarreta. O então bispo emérito de Campos, dom Antônio de Castro Mayer, participou como co-sagrante.

“O papa São João Paulo II, na carta apostólica Ecclesia Dei Adflicta falou que aquilo era um ato cismático”, disse dom Fernando. “Mas, nós achávamos que aquilo era certo e demos adesão”.

No dia seguinte à sagração dos bispos, 1º de julho de 1988, a Congregação para os Bispos da Santa Sé emitiu decreto declarando que Lefebvre e os quatro bispos ordenados tinham incorrido em excomunhão latae sententiae reservada à Sé Apostólica. O decreto também cita dom Antônio de Castro Mayer e diz que ele “incorreu na excomunhão latae sententiae” por ter “participado diretamente na celebração litúrgica como co-consagrante e tendo publicamente aderido ao ato cismático”.

Em 2 de julho de 1988, o papa são João Paulo II publicou a carta apostólica Ecclesia Dei. O documento diz sobre a ordenação dos quatro bispos: “Em si mesmo, tal ato foi uma desobediência ao Romano Pontífice em matéria gravíssima e de importância capital para a unidade da Igreja, como é a ordenação dos bispos, mediante a qual é mantida sacramentalmente a sucessão apostólica. Por isso, tal desobediência ― que traz consigo uma rejeição prática do Primado romano ― constitui um ato cismático. Ao realizar tal ato, não obstante a advertência formal que lhes foi enviada pelo Prefeito da Congregação para os Bispos no passado dia 17 de junho, Mons. Lefebvre e os sacerdotes Bernard Fellay, Bernard Tissier de Mallerais, Richard Williamson e Alfonso de Galarreta, incorreram na grave pena da excomunhão prevista pela disciplina eclesiástica”. A carta apostólica não cita dom Antônio de Castro Mayer.

Em 2009, o papa Bento VXI levantou a excomunhão dos quatro bispos ordenados pela FSSPX, Bernard Fellay, Bernard Tissier de Mallerais, Richard Williamson e Alfonso de Galarreta.

Dom Mayer morreu em 25 de abril de 1991. O atual bispo de Campos, dom Roberto Francisco Ferrería Paz, disse à ACI Digital que “ele morreu cismático”. Mas, “a excomunhão é um ato jurídico que tem eficácia jurídica nesta vida”, disse o bispo que tem mestrado em Direito Canônico pelo Instituto Superior Arquidiocesano de Direito Canônico do Rio de Janeiro.  “Não significa que se condenou, que Deus não perdoou, porque só a Deus corresponde avaliar a intenção que ele tinha e se ele queria voltar”.

Dom Roberto Francisco Ferrería Paz. Davi Corrêa / ACI Digital

Depois da morte de dom Antônio Mayer, contou dom Fernando Rifan, os padres da União Sacerdotal São João Maria Vianney pediram aos padres da Fraternidade Sacerdotal São Pio X que sagrassem um bispo para eles. Foi então sagrado bispo, sem mandato pontifício, dom Licínio Rangel. “E consumou mesmo o cisma, ficou separado”, disse dom Fernando. “Nós achamos que estávamos indo bem, mas estávamos errados”, acrescentou.

Com o tempo, os padres da União Sacerdotal começaram a ficar “incomodados, porque aquilo não estava certo”, segundo dom Fernando. “Principalmente, começamos a ver muitos dos nossos indo para o caminho do cisma completo”, disse. Então, decidiram buscar a reconciliação.

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“Quando foi no ano 2000, em peregrinação a Roma, o papa João Paulo II disse: ‘temos que resolver esse problema dos tradicionais que estão separados’. É o ecumenismo dentro. Temos o ecumenismo para fora, mas tem o dentro”, disse dom Fernando.

João Paulo II nomeou o então prefeito da Congregação para o Clero e presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, cardeal Darío Castrillón Hoyos, para “resolver esse problema”. “Ele chamou os bispos da Fraternidade [São Pio X] para conversar. A fraternidade ligou para nós e dom Licínio disse para eu ir. Eu fui à sede deles e conversamos bastante sobre como resolver a situação, mas percebi que eles não queriam”, contou dom Fernando. Foram duas reuniões em 2001, mas sem que a FSSPX cedesse.

“Dom Licínio falou para responder à Fraternidade que nós queríamos. Viemos para cá, escrevemos uma carta para o papa pedindo que ele nos recebesse porque queríamos ser católicos. Eu levei a carta, o cardeal Castrillón leu diante do papa e disse que o papa chorou contente e prometeu resolver a situação”, disse dom Fernando. Os padres da União Sacerdotal declararam aceitar o papa como vigário de Cristo na Terra, sucessor de são Pedro, reconhecer o Concílio Vaticano II como um dos concílios da Igreja Católica e a validade da missa atual, as exigências da Santa Sé que a FSSPX não quis aceitar.

No Natal de 2001, o cardeal Castrillón telefonou para o então padre Fernando Rifan e contou que o papa João Paulo II havia prometido “criar um organismo canônico” para acolher os padres da União Sacerdotal São João Maria Vianney “dentro da Igreja”.  Em 18 de janeiro de 2002, foi criada a Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, em uma cerimônia na catedral do Santíssimo Salvador, de Campos, com a presença do cardeal Castrillón, do então bispo de Campos, dom Roberto Guimarães, do clero da diocese de Campos e da União Sacerdotal, além de outros bispos.

“Dom Licínio Rangel foi reconhecido por Roma, que o legitimou”, e se tornou o primeiro bispo da Administração. Na época, ele estava com câncer e pediu um coadjutor. O então padre Fernando Rifan foi nomeado e recebeu a ordenação episcopal em 18 de agosto de 2002. Ele assumiu a Administração como bispo titular em 16 de dezembro de 2002, depois da morte de dom Licínio.

O que é uma Administração Apostólica Pessoal

O parágrafo 2º do cânon 371 do Código de Direito Canônico diz: “A administração apostólica é uma porção do povo de Deus, que, em virtude de razões especiais e muito graves, não está ereta em diocese, e cujo cuidado pastoral se confia a um Administrador Apostólico, que a governa em nome do Sumo Pontífice”.

A Administração Apostólica São João Maria Vianney tem a especificidade de ser “pessoal”, e não territorial, como existe em outras partes do mundo. “A nossa é a única pessoal, porque não se dirige a território, porque senão ia criar problemas com a diocese de Campos que é territorial”, disse dom Fernando.

“A Administração Apostólica é uma administração para abrigar todos os padres e fiéis que aderem à missa na forma antiga, ou seja, o rito romano antigo (no território da diocese de Campos), e que o papa disse: vocês vão ter cidadania na Igreja, vão existir na Igreja, em perfeita comunhão com a Igreja toda”, disse dom Fernando.

O decreto de ereção da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, Animarum Bonum, diz que a potestade é cumulativa “com o poder do bispo diocesano de Campos, no Brasil, uma vez que as pessoas que pertencem à Administração Apostólica são mesmo tempo fiéis da Igreja Particular de Campos”.

Segundo dom Fernando, esse caráter cumulativo significa que os fiéis da Administração Apostólica “são também fiéis da diocese de Campos”. Mas, o contrário não é verdadeiro, os fiéis da diocese de Campos não pertencem à Administração, a não ser que peçam adesão.

Qualquer fiel pode participar das missas e atividades das paróquias da Administração Apostólica, mas essa participação não significa necessariamente que ele pertença à Administração. “A adesão à Administração é pelo batismo, pelo registro do batismo, e pela adesão pessoal, tem um livro de adesão pessoal”, contou o bispo.

O decreto de criação da Administração diz: “Os fiéis leigos que até o momento pertencem a União São João Maria Vianney passam a ser membros da nova circunscrição eclesiástica. Os fiéis leigos que se ajustam a peculiaridades da Administração Apostólica Pessoal, para ela pertencerem, deverão manifestar abertamente sua vontade por escrito e serão registrados num livro específico que deverá ser guardado na sede da Administração Apostólica”; “Nesse livro específico serão também inscritos os leigos que pertencem à Administração Apostólica e os que nela forem batizados”.

“Podemos fazer casamentos, batizados, normal, todos os sacramentos. Se algum fiel [da Administração Apostólica] quiser recorrer à diocese, não tem problema”, disse dom Fernando. “O fiel nosso que quiser casar na diocese, o bispo [de Campos] tem o poder, não precisa pedir autorização. Do contrário sim, se o de lá quiser casar aqui, aí precisa pedir autorização lá e aqui”, disse.

Segundo o atual bispo de Campos, dom Roberto Ferrería Paz, o poder cumulativo também diz respeito a outras “coisas que devem ser combinadas, como as taxas e emolumentos”. “Eles não podem colocar uma taxa de crisma e outras taxas referentes aos atos da cúria diferentes da minha, porque seria algo dissonante”, disse.

Segundo dom Fernando Rifan, a maioria das igrejas da administração foi construída pela administração. “Algumas já existiam, nós estávamos com elas e continuamos”. Mas, “quando vamos criar uma nova paróquia, eu comunico ao bispo local”, disse.

Entre as igrejas construídas pela própria Administração está a do Imaculado Coração de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Campos. Sua construção teve início há cerca de 35 anos, quando ainda não estava regularizada a situação dos padres da União Sacerdotal. Hoje, ela é chamada de igreja principal e corresponde à catedral da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney. Segundo dom Fernando, “não se chama catedral, porque a Santa Sé mandou chamar igreja principal, para não criar confusão com a catedral diocesana [de Campos]”, que é a basílica do Santíssimo Salvador.

Igreja principal da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney. Davi Corrêa / ACI Digital

O rito romano antigo atrai as pessoas

Dom Fernando Rifan disse que a vida na Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney “é muito viva” e muitas pessoas são atraídas pela “beleza do rito, a seriedade, a verticalidade”.

O bispo da Administração ressaltou que a “missa é em latim, mas as leituras são em português, o sermão é em português, os hinos são em português”. “Isso não impede a participação dos fiéis. Por isso, muitos fiéis estão vindo e gostam e apreciam, e apreciam a união com o papa e a Igreja, essa nossa adesão ao magistério”, acrescentou.

Fiéis na igreja da Administração Apostólica. Davi Corrêa / ACI Digital

Perfeita comunhão com a Igreja

Além dos padres e fiéis, a Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney “tem seminário próprio, tem paróquias, capelanias, mais ou menos uns 100 lugares onde damos assistência”, disse dom Fernando. “Temos obras sociais, abrigo para velhos em Bom Jesus [do Itabapoana], abrigo para crianças deficientes em Itaperuna, 15 escolas, 3 mil alunos, 300 professores, muitas obras sociais para assistência aos pobres”.

“O mais importante, em perfeita comunhão com a Igreja”, ressalta dom Fernando. “Não interessa o que nós fomos atrás, não interessa o que falamos atrás – muitas coisas até erradas –, interessa é que agora nós seguimos o magistério vivo da Igreja”.

“Para mim, dom Fernando é um amigo, um irmão, e sempre estamos em uma atitude sinodal, caminhando juntos com o papa Francisco”, disse dom Roberto Francisco Ferrería Paz.

Ele contou à ACI Digital que pôde verificar a comunhão da Administração Apostólica com a Igreja principalmente depois que foi transferido para o Regional Leste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que engloba as dioceses e arquidioceses do Rio de Janeiro. Nascido em Montevidéu, Uruguai, ele foi ordenado padre em 1989, incardinado na arquidiocese de Porto Alegre (RS). Em dezembro de 2007, foi nomeado bispo auxiliar de Niterói (RJ).

“Eu tinha uma experiência do [Regional] Sul 3 (dioceses e arquidiocese do Rio Grande do Sul), que é uma experiência pastoral bastante ativa, na linha da CNBB”, disse. “Conhecer a Administração foi uma surpresa porque eu acreditava que era difícil uma caminhada conjunta”.

Dom Ferrrería usa a mesma expressão de dom Fernando ao falar da regularização da administração: “aquele acordo sob a inspiração de são João Paulo II foi uma atitude verdadeiramente de ecumenismo interno”. Para dom Roberto, esse contato com a Administração “foi superar não um preconceito, mas uma apreensão que tinha”.

Em 2011, ele foi nomeado bispo de Campos. Depois disso, “é que tivemos experiências diretas”, disse. “Dom Rifan sempre foi um parceiro, sempre esteve conosco e sempre fez questão de participar dos grandes eventos da diocese, a festa do Santíssimo Salvador, meus aniversários episcopais, natalícios, e outros eventos também civis que participamos juntos”, disse.

Segundo o bispo de Campos, essa relação também se reflete na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. “O mesmo que fazemos aqui, fazemos os dois juntos na CNBB. Muitos bispos convidam dom Rifan para pregar missas, retiros para os cleros. Mudou bastante, porque viram que dom Rifan, diante dos movimentos hostis à CNBB sempre foi fiel à CNBB”, disse.

“Evidente que há diferenças”, disse, citando as Igrejas Orientais, que também “estão lá” na CNBB. “Isso, longe de empobrecer, enriquece, porque amplia e torna mais católica nossa missão. Afinal de contas, a Igreja sempre trabalhou, a Igreja Católica prima pela tolerância”, completou.

Dom Roberto contou que os padres da Administração Apostólica também participam de atividades da diocese e celebram a missa de Paulo VI, quando necessário, há padres que ajudam no atendimento de confissão na catedral, outros que são professores no seminário da Administração Apostólica e no seminário da diocese de Campos.

O bispo de Campos disse ainda que, ao mesmo tempo em que veio se “alegrar” com a “proximidade com a Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, surgiram os movimentos tradicionalistas com toda a agressividade, e mesmo com dom Fernando, que atualmente vem sofrendo ataques diretos desses mesmos grupos”.

Para dom Fernando, alguns grupos tradicionalistas “às vezes criticam demais, gostam de criticar tudo e todos, falam contra o bispo local, falam contra o papa”.

“Isso não tem nada a ver conosco. Nós não somos assim, não podemos ser, nem queremos ser”, disse.

Traditionis custodes

Em 16 de julho de 2021, o papa Francisco publicou o motu proprio Traditionis custodes, com o qual restringiu a celebração da missa no rito romano antigo. O documento revoga a permissão que Bento XVI havia concedido, por meio da carta apostólica Summorum pontificum, para que todos os sacerdotes pudessem rezar a missa segundo o Missal Romano de 1962. A partir de Traditionis custodes, cabe ao bispo autorizar a missa no rito antigo em sua diocese. Ele também deve estabelecer um ou mais lugares onde se pode usar a liturgia na forma antiga, “mas não em igrejas paroquiais e sem erigir novas paróquias pessoais”. Além disso, os padres ordenados depois da publicação de Traditionis custodes que queiram celebrar a missa no rito antigo, devem pedir autorização ao bispo, que consultará a Santa Sé.

A restrição “não nos atingiu porque temos o decreto próprio nosso”, disse dom Fernando. “Qualquer lei, se não for mencionada, não é ab-rogada”, como determina o cânon 20 do Código de Direito Canônico. “Então, a lei que criou a Administração Apostólica continua de pé, porque não foi mencionada. Continuamos com essa concessão que Roma nos deu de conservar o rito romano antigo”.

Fiéis lotam a igreja para a missa dominical na Administração Apostólica. Davi Corrêa / ACI Digital

Nem mesmo o apostolado externo da administração apostólica foi afetado por Traditionis custodes. Padres da Administração dão assistência a grupos fora do território da diocese de Campos, “a pedido do bispo local e em união ao bispo local”.

Atualmente, há 13 outros locais em dez dioceses em que padres da administração celebram: Nova Iguaçu (RJ), Rio de Janeiro (RJ), Volta Redonda (RJ), Nova Friburgo (RJ), São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Itaúna (MG), Divinópolis (MG), Barbacena (MG), Itaverava (MG), São Lourenço (MG) e Vitória (ES).

Esta matéria faz parte de uma série de reportagens sobre a Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney. A próxima será publicada amanhã, 3 de setembro.

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