Sep 5, 2024 / 08:00 am
A Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney tem “15 escolas, 3 mil alunos e 300 professores”, contou à ACI Digital o bispo dom Fernando Arêas Rifan. Nessas instituições de ensino, a vivência da fé católica está inserida na rotina dos estudantes. São colégios que tem o “perfil de procurar formar bons cristãos e, por consequência, bons cidadãos”, disse o coordenador pedagógico do Colégio Três Pastorinhos, em Campos dos Goytacazes (RJ), José Antônio de Faria, conhecido como professor Faria.
A Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney foi criada em 2002 pelo papa são João Paulo II, como uma circunscrição eclesiástica de caráter pessoal no território da diocese de Campos (RJ). Sua característica particular é a manutenção da liturgia antiga, a disciplina e os costumes tradicionais. Tem seminário próprio, paróquias, associações de fiéis, institutos de vida consagrada, tribunal eclesiástico, diversas obras sociais e escolas.
Nas escolas da Administração, a formação de “bons cristãos, com identidade católica”, é vista como algo importante “para que estejam preparados para lidar com esse mundo materialista, porque a gente entende que a espiritualidade é algo fundamental para que o ser humano tenha uma vida feliz”, disse o professor Faria, que está há 32 anos no Colégio Três Pastorinhos, e participa da Pastoral da Educação da Administração Apostólica São João Maria Vianney.
Segundo ele, nas escolas, se oferece uma “formação integral para seus educandos, que considera a questão da formação da inteligência cognitiva, a formação emocional e, principalmente, espiritual”.
“Pensando em educação integral, não podemos desprezar o espiritual, ele é parte essencial. Então, deixar de lado a espiritualidade é não fazer uma formação integral, é não fazer uma formação do ser humano como um todo”, disse.
Rotina católica
Em Bom Jesus do Itabapoana (RJ) está uma das escolas da Administração Apostólica São João Maria Vianney, o Colégio Maria da Conceição Baptista de Oliveira (CMCBO), atendido pelas irmãs do Instituto do Imaculado Coração de Maria e São Miguel Arcanjo.
A identidade católica é visível desde a entrada do colégio, onde há uma imagem do Sagrado Coração de Jesus. As salas de aulas todas têm nomes de santos e beatos, como são João Bosco, beato Carlo Acutis, beata Albertina Berkenbrock.
O diretor administrativo do colégio, Antônio Francisco Degli Esposti de Oliveira, contou à ACI Digital que a rotina católica dos alunos começa logo cedo, com uma oração inicial, feita por uma das irmãs através de um sistema de som nas salas de aula. Depois, há “oração antes de descer para o lanche, visita à capela do Santíssimo todos os dias, direcionada pelas religiosas”. A capela fica dentro da escola, no segundo andar.
O CMCBO está ao lado da paróquia do Senhor Bom Jesus Crucificado e do Imaculado Coração de Maria, onde há exposição do Santíssimo às quintas-feiras. “Então, neste dia, os alunos saem daqui e vão até à igreja para fazer essa visita ao Santíssimo exposto”, disse o diretor.
Os estudantes e funcionários da escola também participam da celebração da “primeira sexta-feira do mês, com confissão e a missa do Coração de Jesus”.
Além disso, há “a orientação espiritual que os padres sempre estão prontos a atender aqui no colégio” e a presença constante das irmãs, “que fazem toda a diferença”, diz Oliveira. “No recreio, elas estão sempre acompanhando os alunos em uma dificuldade ou outra”. Para ele, “esse é o grande diferencial que a escola oferece às crianças, aos jovens e às famílias”.
Em Campos dos Goytacazes, o Colégio Três Pastorinhos fica ao lado da paróquia do Imaculado Coração de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, a igreja principal da Administração Apostólica. Lá, os estudantes também seguem a rotina de espiritualidade, “rezam antes e depois das aulas, participam de todas as cerimônias, eventos religiosos”, contou o professor Faria. Os alunos “vão à capela todos os dias”, participam da adoração ao Santíssimo Sacramento na igreja principal nas quintas-feiras, “fazem a primeira sexta-feira do mês, confessam e, quem pode, faz a comunhão em desagravo ao Coração de Jesus”, tem a missa mensal da escola.
Há também a festa da padroeira, Nossa Senhora de Fátima, em 13 de maio, “que é a mais concorrida”, disse o professor Faria. “A igreja fica lotada e tem uma coroação muito bonita”. Há ainda “outros eventos, cantatas, procissões” e as famílias “são convidadas para participar dos eventos da paróquia”, disse.
“De forma que uma boa porcentagem do pessoal que frequenta a igreja hoje tem alguma relação e, de certa forma, tem uma origem ligada à escola”, disse o coordenador pedagógico do Colégio Três Pastorinhos. “A escola se torna um fator de apostolado muito grande para a própria paróquia. Por isso que dom Fernando sempre incentivou os padres a montar escolas católicas nas suas paróquias”.
A união entre o colégio e a paróquia se mostrou de forma concreta no sábado 17 de agosto, com um evento para comemorar o Dia dos Pais, celebrado no domingo anterior, e o encerramento da Semana Nacional da Família, celebrado anualmente pela Igreja no Brasil na semana seguinte ao Dia dos Pais. O evento reuniu várias famílias para um passeio de bicicleta nas ruas da redondeza, com música, carro de som e, depois, um café da manhã e brincadeiras em família.
Para o diretor administrativo do Colégio Maria da Conceição Baptista de Oliveira, “o diferencial” dessas escolas “é levar a criança a conhecer a Verdade, o amor a Deus, preparando-a para a vida toda, no sentido acadêmico e também espiritual”. Embora, “às vezes, não tenhamos resultado muito imediato”, disse Francisco de Oliveira, “vemos ex-alunos que depois voltam para a confissão, para a devoção da primeira sexta-feira, do primeiro sábado, ou até em uma associação religiosa que a paróquia tem e as crianças acabam se identificando e pertencendo”.
Princípios católicos como eixo transversal
“O currículo diz respeito às matérias, às disciplinas que são ensinadas”, disse o professor Faria. “Mas, currículo é uma coisa muito mais ampla, diz respeito a uma mentalidade que inspira tudo o que se faz na educação em uma escola. No nosso caso, então, faz parte de todo o currículo como eixo transversal os princípios católicos”.
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O coordenador pedagógico contou que, mesmo tendo uma disciplina específica de religião, “em todas as disciplinas que são dadas também [há] como um eixo transversal o elemento católico sempre presente”. “Não no sentido moralista, no sentido de ficar falando o tempo todo, mas no sentido de que filtramos os nossos conteúdos a partir desses princípios”, disse.
Para isso, procuram também proporcionar “um ambiente que seja católico”. “Procuramos formar bons valores, ensinamos os alunos que devem respeitar os outros, que devem tratar o diferente com muito acolhimento, que não devem xingar, que não devem falar palavrões, que devem evitar certas conversas para criar um ambiente saudável, propício para essa formação católica”, disse.
Mesmo sendo confessionais católicos, os colégios da Administração Apostólica são abertos a todos. Mas, “não há dispensa para alunos não católicos”, disse o diretor administrativo do CMCBO, Francisco de Oliveira. “Quando os pais matriculam, já sabem que a escola é confessional e tem essas atividades” católicas, acrescentou. E há grande procura, inclusive “de cidades vizinhas”. “Hoje, o mundo está com tantas situações, com tantas ideologias que vêm de todos os lados. Então, os pais ainda querem preservar os filhos, encaminhar para o bem”, disse.
O professor Faria disse que, no Colégio Três Pastorinhos, seguem “aquele ideal da pedagogia do amor, de são João Bosco, receber todos muito bem, acolher, escutar, ajudar no que for possível, servir, estamos aqui para servir”. Ele ressaltou, porém, que a escola busca “dar sim um ensino católico” e, por isso, seus “critérios são os valores do Evangelho, são os documentos da Igreja Católica, é o magistério da Igreja”. “Esses são os critérios que usamos como filtro para a educação que nós fazemos. Mas, acolhemos e respeitamos a todos, as consciências de todos”, disse.
O ensino religioso
A irmã Alessandra Morais de Almeida é professora de ensino religioso no Colégio Três Pastorinhos. Ela contou que, durante as aulas, passa “a doutrina católica, porque somos da Igreja Católica”. Mas, procura “frisar mais com essas crianças” de outras religiões ou sem religião o “ponto de encontro, que é Jesus Cristo”. “Procuro focar muito em Jesus Cristo, não desfazendo dos outros, claro, nem de Nossa Senhora, nem de outras partes de nossa doutrina onde são diferentes”, disse.
Segundo ela, a maioria de seus alunos não-católicos “tem atitudes externas católicas, eles vão à igreja, ajoelham, rezam, rezam a Ave-Maria”. “Então, é um convívio bom. Na verdade, a maneira como vamos passando o ensino religioso, eles vão gostando, embora não troquem de religião, mas vão respeitando a religião católica e vão se adaptando àquilo que a escola vai fazendo. Eles têm o livro, fazem as atividades, fazem provas, como qualquer outro aluno”, disse.
A irmã disse que há histórias de famílias que se converteram através de alunos das escolas da Administração Apostólica. Ela recordou o caso de um estudante de Bom Jesus do Itabapoana, cuja família começou “a vir, gostar, depois o menino quis ser coroinha, fazer catequese de primeira comunhão – e os pais tinham que trazer”. Hoje, a família frequenta a igreja.
Programa de virtudes
O Colégio Três Pastorinhos tem como lema “educação para a vida, valores para sempre”. Essa questão é trabalhada em todas as atividades, mas especificamente no programa de virtudes. “O objetivo é levar a uma conscientização da necessidade da prática de virtudes desde a infância, dentro daquela questão da preparação dos valores para a vida, para sempre. Então, ajudar mesmo, colaborar com as famílias, porque nós colaboramos com as famílias na formação das virtudes necessárias para o ser humano, a fé, a esperança... e também as virtudes humanas, a humildade, a ordem, a temperança, a honestidade e todas as outras virtudes”, disse o professor Faria.
Para ele, “em uma sociedade carente de valores, que tem tanto conflito, tantas questões, tantos problemas familiares”, com a “aula de virtudes, certamente” o colégio contribui “para ordenar a vida das crianças desde pequenas” e “romper também com essa ideia do egoísmo que é reinante no mundo de hoje”.
Segundo o coordenador pedagógico, essa também “é uma forma de contemplar aquilo que está lá na BNCC, que é a Base Nacional Comum Curricular”. “Lá tem dez competências gerais que devem ser desenvolvidas nos alunos e três delas falam dessa questão da educação socioemocional”. Para Faria, “melhor educação socioemocional que tem é ensinar virtudes, ensinar colocar a vida em ordem, ensinar a discernir e, de certa forma, controlar suas emoções”. “Então, estamos fazendo aquilo que a normatização, os documentos pedem, com nossa identidade própria”, disse.
Seria muito importante se todas as paróquias tivessem uma escola católica
O representante comercial Antônio Flávio Bon Robert, 61 anos, e a dona de casa Doroteia Silva Robert, 52 nos, são casados há 35 anos e têm três filhos, “atualmente todos adultos”, e que estudaram no Instituto de Educação Santo Antônio (IESA), em Santo Antônio de Pádua (RJ), escola da Administração Apostólica São João Maria Vianney. Atualmente, o casal também acompanha os trabalhos da escola.
Flávio destacou a “importância que é uma escola católica voltada para a comunidade e principalmente para os paroquianos”. “O formato de ensino é muito interessante porque busca que as crianças tenham um regime escolar mais responsável, menos bagunça, participam de missa, busca a religiosidade do menor para quando ele chegar à vida adulta ele tenha uma base”, disse, ressaltando que, além dos próprios filhos, observa o mesmo na vida de outras crianças que estudam na escola católica.
Segundo Doroteia, esse modelo de ensino “dá uma continuidade” ao que as famílias fazem “em casa, porque às vezes a escola faz o contrário do que praticamos”. “Não tem como medir a ajuda que a gente teve na educação dos filhos com eles na escola católica”, disse. Para ela, “foi um pacote completo”, porque “eles tinham a catequese, a escola, a família, todos na mesma sintonia”.
“Seria muito importante se todas as paróquias tivessem uma escola católica. É muito importante para ajudar os pais”, concluiu Flávio.
Esta matéria faz parte de uma série de reportagens sobre a Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney. A próxima será publicada amanhã, 6 de setembro.
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