Sep 13, 2024 / 15:49 pm
O Observatório da Comunicação Religiosa (OCR), ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), considerou seu “dever chamar a atenção” da Canção Nova para os “graves riscos” de sua parceria com a empresa de produção de conteúdo Brasil Paralelo. Uma nota publicada diz que a Canção Nova “é um importante e poderoso meio de comunicação que faz parte da comunidade católica brasileira” e a Brasil Paralelo tem um viés de “extrema direita”.
Segundo o OCR, “a empresa Brasil Paralelo notoriamente se alinha com o pensamento de extrema direita; divulga teorias conspiratórias que já foram contestadas, dentre outros, pela Associação Nacional de História; e divulga, reiteradamente, notícias falsas identificadas e denunciadas por agencias de checagem idôneas e pelo próprio TSE”.
A nota do OCR continua dizendo que “julga de seu dever chamar a atenção da própria Canção Nova e das autoridades eclesiásticas para os graves riscos que esta parceria com a empresa Brasil Paralelo representa para o cumprimento das Diretrizes da Igreja Católica, o alinhamento com o ensinamento do Papa Francisco e a fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo”, conclui.
A nota do OCR diz que “tomou conhecimento em julho da parceria entre a TV Canção Nova (Estúdio Anuncia-me) e a empresa Brasil Paralelo”.
A TV Canção Nova disse à ACI Digital que não tem nenhuma parceria com a Brasil Paralelo.
“O ‘Estúdio Anuncia-me’ é um projeto voltado à evangelização na África, coordenado pela Comunidade Obra de Maria, em parceria com outras instituições, dentre as quais a Fundação João Paulo II, mantenedora da TV Canção Nova”, diz a nota da empresa. “Não há relação (veiculação) de conteúdo de terceiros do projeto Anuncia-me com a programação da TV Canção Nova”.
A TV Canção Nova é a maior emissora de televisão católica do Brasil, pertence à Fundação João Paulo II que é uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos que mantém a Rede de Desenvolvimento Social Canção Nova e o Sistema Canção Nova de Comunicação. As duas foram fundadas por monsenhor Jonas Abib.
Sobre a parceria com o “Estúdio Anuncia-me”, a Brasil Paralelo diz que põe o seu conteúdo à disposição “como forma de apoio a projetos como "Estúdio Anuncia-me", entre outros”.
O Catálogo da Brasil Paralelo inclui filmes, programas e documentários originais como “A Última Cruzada” que no texto de divulgação diz “no bicentenário da Independência do Brasil, resgatamos nossa verdadeira história – muito mais gloriosa e digna de orgulho do que a escola nos ensinou”. Outro exemplo de conteúdo original é o documentário “Pátria Educadora” cuja divulgação diz que “nesta jornada pela educação, trazemos conceitos, análises e denúncias de diferentes ideologias e personagens que pensaram o sistema de ensino brasileiro.
O que é o estúdio Anuncia-me?
O estúdio Anuncia-me foi criado a pedido do arcebispo de Maputo, Moçambique, dom João Carlos Hatoa, por causa da necessidade de oferecer ao continente africano conteúdo de evangelização atraente e relevante para os jovens através dos meios de comunicação.
Esse pedido de apoio foi feito durante uma visita ao continente africano do fundador da Comunidade Obra de Maria, cujo carisma é “evangelizar de todas as formas com alegria”, e do cofundador da Comunidade Canção Nova, Wellington Jardim, conhecido como Eto.
O estúdio Anuncia-me fica em Cachoeira Paulista (SP) e transmite 24 horas de programação catequética e evangelizadora para jovens no Youtube. Além de produzir conteúdo digital, o estúdio forma missionários brasileiros e africanos, monta estúdios em dioceses africanas e forma comunicadores.
O Anuncia-me tem o apoio de muitos produtores de evangelização e conteúdos educativos no Brasil como: o bispo de Paranavaí (PR), dom Mario Spaki, frei Gilson, padre Paulo Ricardo, Comunidade Colo de Deus, Lumine Filmes Católicos, Fraternidade São João Paulo II, Instituto Hesed, Produtora Brasil Paralelo, Centro de Mídia Cristã da Terra Santa, Comunidade Obra de Maria, Jovens Sarados, entre outros.
Segundo o Anuncia-me, “os parceiros fornecem conteúdos de fé que permite que os africanos tenham acesso a uma formação cristã sólida, alinhada às necessidades e desafios atuais da juventude”.
O que é o Observatório da Comunicação Religiosa?
O Observatório da Comunicação Religiosa no Brasil (OCR) é uma iniciativa da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), a serviço da Comissão Episcopal de Pastoral para a Comunicação Social da CNBB. É um observatório independente, mas à disposição da Comissão de Comunicação da CNBB. O seu site diz que a missão do OCR é “contribuir na reflexão a respeito de acontecimentos de comunicação que nos dizem respeito como cidadãos e cristãos”.
O OCR foi criado em 2020 com o incentivo do bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG), dom Joaquim Mol, quando presidia a Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB, entre 2019 e 2023.
Segundo uma reportagem publicada no Instituto Humanitas Unisinos, o OCR foi criado por causa da preocupação com o crescimento de veículos de mídia católica com capacidade de “influenciar a espiritualidade, a reflexão e as posições do Povo de Deus no Brasil”. Também pela “preocupação ao respeito de outros fenômenos como as redes sociais, os famosos influencers, vários dos quais representam uma visão bastante conservadora e fundamentalista da Igreja”.
Os coordenadores do OCR são o padre Dario Bossi, missionário comboniano italiano que está há cerca de 20 anos no Brasil. Bossi é assessor da Rede Eclesial Panamazônica (REPAM), coordenador da rede ecumênica latino-americana Iglesias y Minería, envolvido com causas socioambientais e lutas das minorias, e Venício Lima, professor emérito e titular de Ciência Política e Comunicação da Universidade de Brasília.
Também fazem parte da coordenação a irmã Maria Inês, ex-presidente da CRB Nacional; irmã Helena Corazza, FSP, diretora do Serviço à Pastoral da Comunicação Paulinas; irmão Alan Patrick Zuccherato, C.Ss.R, diretor de programação da TV Aparecida; padre Antônio Iraildo Alves de Brito, SSP, diretor da FAPCOM (Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação); Robson Sávio Reis Souza, especialista em Teoria e Prática da Comunicação, coordenador do Nesp/PUC Minas e membro do grupo de análise de conjuntura política da CNBB; Milton Rondó Filho, diplomata aposentado pelo Instituto Rio Branco; Janaína Gonçalves, formada em jornalismo e mestre em Ciências da Religião pela PUC Minas; e irmão Natanael de Melo Carvalho, membro da Equipe Nacional de Comunicação da CRB Nacional.
ACI Digital procurou a CNBB e a Comissão de Justiça e Paz para comentários, mas não teve resposta.
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