Sep 24, 2024 / 12:06 pm
Um grupo de freiras carmelitas em Arlington, Texas, EUA, anunciou este mês que passaria a se associar à Fraternidade São Pio X (FSSPX), grupo tradicionalista que não está em plena comunhão com a Igreja e tem um status canonicamente irregular.
As freiras estão sob investigação da diocese de Fort Worth sobre acusação de abuso sexual contra a madre superiora da ordem.
As freiras resistiram a um decreto da Santa Sé sobre seu mosteiro e pediram à Justiça ordem de restrição contra o bispo de Fort Worth, dom Michael Olson. A rejeição da autoridade das freiras "é escandalosa e é permeada pelo odor do cisma", disse dom Olson.
Líderes da Igreja já disseram a mesma coisa sobre a FSSPX, fraternidade de padres dedicada à celebração da missa tradicional em latim e à oposição às mudanças trazidas pelo Concílio Vaticano II (1962-1965).
O princípio animador do grupo "é o sacerdócio e tudo o que lhe diz respeito e nada além do que lhe diz respeito", diz a FSSPX em seu site. O grupo foi fundado em 1970 pelo arcebispo emérito de Tulle, França, dom Marcel Lefebvre, arcebispo francês que liderou no Vaticano II a resistência a muitas das mudanças que acabaram adotadas.
Além da mudança na liturgia, dom Lefebvre também se opôs ao "ecumenismo – um ponto de vista que considera todas as religiões como benéficas e válidas – e à colegialidade – que insiste que a Igreja seja governada principalmente pelo processo democrático e pelas conferências episcopais", segundo o site do grupo.
O grupo administra priorados, capelas, missões e seminários em todo o mundo. Ele congrega centenas de padres e seminaristas.
O momento mais crítico do grupo ocorreu em 1988, quando dom Lefebvre consagrou quatro bispos em Écône, Suíça, contra determinação explícita do papa são João Paulo II. Poucas horas depois, a Santa Sé disse que Lefebvre e os quatro bispos haviam incorrido em excomunhão.
Em seu motu proprio Ecclesia Dei, são João Paulo II disse que "não se pode permanecer fiel à Tradição rompendo o vínculo eclesial com aquele a quem o próprio Cristo, na pessoa do Apóstolo Pedro, confiou o ministério da unidade na sua Igreja".
O papa Bento XVI suspendeu a excomunhão em 2009, embora tenha escrito numa carta que a FSSPX não tem status canônico e, portanto, "seus ministros não exercem ministérios legítimos na Igreja".
O papa Francisco determinou que, durante o Jubileu Extraordinário da Misericórdia de 2015-2016, as confissões ouvidas pelos padres da FSSPX fossem válidas. Depois, o papa estendeu a validade dessa ordem indefinidamente.
Em 2017, Francisco aprovou uma maneira de os padres do grupo celebrarem casamentos validamente, dando aos bispos diocesanos ou outros ordinários locais a capacidade de autorizar as celebrações.
Católicos podem assistir a uma missa celebrada por padres da FSSPX?
Alguns católicos procuram missas ministradas pela FSSPX devido à sua solenidade e fidelidade às formas anteriores da liturgia. Mas isso é permitido pela Igreja?
Jimmy Akin, apologista sênior do grupo Catholic Answers (Respostas Católicas, em inglês), disse à CNA, agência em inglês da EWTN, que a FSSPX "não está atualmente em cisma".
"Em 1988, João Paulo II determinou que as ordenações episcopais que a sociedade havia conduzido em desobediência ao pontífice romano implicavam na prática a rejeição da primazia romana e, portanto, constituíam um ato cismático", disse Akin.
"Isso desencadeou a penalidade automática de excomunhão por cisma para os bispos envolvidos e, nas palavras de João Paulo II, para qualquer um que desse 'adesão formal' ao cisma".
O levantamento das excomunhões pelo papa Bento XVI em 2009 "implica que a FSSPX não está mais em cisma, uma vez que o cisma acarreta uma excomunhão automática", disse ele.
"Se eles ainda estivessem em estado de cisma, as excomunhões não poderiam ter sido suspensas sem que a lei as reimpusesse imediatamente. Portanto, eles não estão mais em cisma".
Mas os padres da sociedade estão "celebrando a missa sem as devidas permissões, criando uma situação canonicamente irregular", disse Akin.
Ele disse que o Código de Direito Canônico diz que os católicos "podem participar do sacrifício eucarístico e receber a sagrada comunhão em qualquer rito católico". Como a FSSPX usa o rito aprovado da missa de 1962, "os fiéis podem assistir e receber a Sagrada Comunhão".
"O fato de estar sendo celebrada em uma situação canonicamente irregular não muda isso", disse Akin.
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Ele disse que "toda vez que um padre comete um abuso litúrgico, isso cria uma situação canonicamente irregular", mas que a Igreja "não quer que os leigos tenham que julgar quais situações canonicamente irregulares envolvem 'muito' desvio da lei".
Assim, o "direito dos fiéis de assistir e receber a sagrada Comunhão em qualquer rito católico é protegido".
Embora os fiéis não sejam estritamente proibidos de participar das missas da FSSPX, os líderes da Igreja já desaconselharam isso, exceto em circunstâncias graves.
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