Sep 25, 2024 / 11:30 am
O secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin, criticou a promoção do aborto e da ideologia de gênero pela Organização das Nações Unidas (ONU), em discurso na Cúpula do Futuro, na sede da ONU m Nova York, EUA.
Parolin discursou aos membros da ONU reunidos para a cúpula na segunda-feira (23). Embora tenha elogiado os participantes da cúpula por se envolverem no diálogo, Parolin disse que há uma “necessidade de repensar ações em várias áreas”.
O cardeal falou sobre as preocupações da Santa Sé com o documento do Pacto para o Futuro, aprovado pelos participantes da cúpula no domingo (22) . Ele disse que a Santa Sé, “em conformidade com sua natureza e missão particular, deseja expressar suas reservas” quanto à promoção do aborto e da ideologia de gênero pela assembleia.
A Santa Sé mantém o status de “observador permanente” sem direito a voto nas Nações Unidas.
Elogios e críticas
Parolin falou sobre a necessidade de promover a dignidade da pessoa humana em todo o mundo. Ele elogiou a cúpula como uma “razão para esperança” em meio a um momento de crise em que há uma contínua “erosão da confiança entre as nações, como evidenciado pela crescente prevalência e intensidade dos conflitos”.
“Hoje, o senso de pertencer a uma única família humana está desaparecendo, e o sonho de trabalhar juntos por justiça e paz parece ultrapassado e utópico”, disse Parolin. “Esse não precisa ser o caso, se houver vontade de se engajar num diálogo genuíno. Se a dignidade é a base e o desenvolvimento humano integral é a meta do nosso futuro, o diálogo é o meio necessário”.
Embora o Pacto para o Futuro aprovado pela cúpula não mencione o aborto explicitamente, fala sobre o objetivo da cúpula de “garantir o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e aos direitos reprodutivos”.
“Saúde reprodutiva” e “direitos reprodutivos” são termos usados para se referir a uma série de serviços de saúde principalmente para mulheres, que frequentemente incluem o aborto.
“Em primeiro lugar, os termos ‘saúde sexual e reprodutiva’ e ‘direitos reprodutivos’: a Santa Sé considera que estes termos se aplicam a um conceito holístico de saúde, que abrange, cada um a seu modo, a pessoa na totalidade da sua personalidade, da sua mente e de seu corpo, e que favorecem a conquista da maturidade pessoal na sexualidade e no amor recíproco e no processo de tomada de decisões que caracterizam a relação conjugal entre um homem e uma mulher de acordo com as normas morais”, disse Parolin. “A Santa Sé não considera o aborto ou o acesso ao aborto ou aos abortivos como uma dimensão destes termos”.
“Quanto a 'gênero', a Santa Sé sempre entende o termo como baseado na identidade sexual biológica que é masculina ou feminina”, disse o cardeal.
Ideologia de gênero é a militância política baseada na teoria de que a sexualidade humana independe do sexo e se manifesta em gêneros muito mais variados do que homem e mulher.
A ideia contraria a Escritura que diz, no livro do Gênesis 1, 27: “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher Ele os criou”, na tradução oficial da CNBB.
O Catecismo da Igreja Católica diz, no número 369: “O homem e a mulher foram criados, quer dizer, foram queridos por Deus: em perfeita igualdade enquanto pessoas humanas, por um lado; mas, por outro, no seu respectivo ser de homem e de mulher. «Ser homem», «ser mulher» é uma realidade boa e querida por Deus: o homem e a mulher têm uma dignidade inamissível e que lhes vem imediatamente de Deus, seu Criador. O homem e a mulher são, com uma mesma dignidade, «à imagem de Deus». No seu «ser homem» e no seu «ser mulher», refletem a sabedoria e a bondade do Criador.
Pobreza, paz e IA
Parolin falou sobre a crença da Santa Sé de que a “erradicação da pobreza” por meio do desenvolvimento global deve ser o “objetivo primordial de todas as ações futuras”.
Ele também falou sobre a necessidade de buscar a paz por meio do desarmamento global e da “eliminação total das armas nucleares”. Para ele, é necessário “deixar de lado as restritas considerações geopolíticas e resistir aos fortes lobbies econômicos para defender a dignidade humana e garantir um futuro em que todos os seres humanos possam desfrutar de um desenvolvimento integral, quer como indivíduos, quer como comunidades”.
Por fim, Parolin também disse que há uma “necessidade urgente” dos governos regularem o desenvolvimento da inteligência artificial para promover “a ética da IA que abrange o ciclo de vida da IA e aborda, entre outros, a proteção de dados, a responsabilidade, os preconceitos e o impacto da IA no emprego”.
“Acima de tudo”, disse Parolin, “pensar no futuro deve levar em conta as necessidades e os interesses das gerações futuras. É um imperativo garantir a todos um futuro digno, assegurando as condições necessárias - entre as quais um ambiente familiar acolhedor - para facilitar a prosperidade, enfrentando ao mesmo tempo a miríade de desafios que a dificultam, entre os quais aqueles resultantes da pobreza, conflitos, exploração e dependência”.
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