5 de dezembro de 2024 Doar
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Papa Francisco reza no túmulo de Balduíno, o rei que não quis assinar a lei do aborto

Papa Francisco reza no túmulo do rei Balduíno | Vatican Media

A visita ao túmulo do rei Balduíno, que morreu em 1993, não é só uma oportunidade para o papa Francisco venerar um rei profundamente católico, cuja causa de beatificação foi aberta em 1995.

É também uma ocasião para reafirmar a sua rejeição ao aborto e, como informou a Sala de Imprensa da Santa Sé, para exortar “os belgas a se inspirarem nele neste momento em que estão surgindo leis criminosas”, desejando que a “sua causa de beatificação avance”.

A visita ao túmulo dos reis ocorreu depois de um encontro com religiosos e fiéis na basílica de Koekelberg. Antes de voltar à nunciatura, onde cumprimentou duas famílias de refugiados, o papa Francisco parou na cripta real da basílica, dedicada a Nossa Senhora de Laeken. Ali se encontram os túmulos de muitos membros da Casa Real da Bélgica.

Segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé, “recebido pelo rei e pela rainha”, o papa "parou diante do túmulo do rei Balduíno em oração silenciosa". Depois, diante do Rei e dos presentes, "elogiou a sua coragem" de Balduíno, quando ele escolheu “deixar seu posto de rei para não assinar uma lei homicida”.

Assim, o papa Francisco apresenta Balduíno como um exemplo para os belgas, que vivem num contexto secularizado, com uma das leis de eutanásia mais avançadas do mundo e onde o aborto é legal até as 12 semanas de gestação, embora exista um debate sobre a extensão do limite para 18 meses.

A lei do aborto foi legalizada na Bélgica em 1990 e, para não a assinar, Balduíno abdicou temporariamente, ou melhor, suspendeu as suas funções de rei da Bélgica de 3 a 5 de abril desse ano. Quando morreu, em 1993, em Motril, na Espanha, ele tinha 63 anos e reinou ininterruptamente durante 42 anos, exceto durante esses três dias.

Era a isto que o papa Francisco se referia. No entanto, há uma história mais oculta, que foi revelada pelo sindicalista Giovanni Santachiara e depois confirmada pelo padre Mario Pigini ao Avvenire em 2019: o rei da Bélgica, junto com sua devotíssima esposa Fabiola, que o acompanhou por 11 anos, esteve em Loreto nos meses anteriores à lei e pediu a Nossa Senhora a coragem de lutar contra a lei que estava então em discussão.

Santachiara conhecia a história porque quem acolheu os reis foi o padre Estanislau Santachiara de Sanseverino, seu tio e então reitor do santuário.

Balduíno foi para Loreto no meio de uma crise de fé provocada pela obrigação de promulgar a lei que descriminalizava o aborto. Por esta razão, interrompeu os seus poderes reais e a lei foi aprovada, com o apoio do primeiro-ministro democrata-cristão Wilfried Martens.

Depois de três dias, graças a um artigo constitucional adotado pelo parlamento, Balduíno, amado pelo povo, voltou ao trono. Entretanto, foi uma decisão difícil.

Balduíno e Fabíola não tinham filhos e, em meio a essa crise, decidiram fazer uma peregrinação a Loreto, por ocasião de seu 30º aniversário de casamento, para renovar seus votos matrimoniais dentro dos muros da Santa Casa.

Fizeram a viagem de carro, sem escolta, da residência de Laeken até Loreto, 1.400 quilómetros de noite, e chegaram de madrugada, parando em frente ao pórtico.

Lá, seguidos pelo motorista que levava suas roupas matrimoniais, ajoelharam-se diante da Casa de Maria e permaneceram por três horas rezando diante de Nossa Senhora. Depois almoçaram na sala de jantar dos frades e o reitor do santuário conversou longamente com os reis.

Consta que o rei disse ao padre Stanislao, com quem falava em inglês, idioma que o frade dominava bem, pois tinha sido ordenado em Londres: “Eu gostaria de ter sido pai e não pude ser, e agora deveria assinar uma lei que interrompe uma vida que mal começa. Além disso, sou o guia do meu país e deveria apontar justamente este horizonte, promulgando a lei do aborto. Não acho que faça isso. Nas mãos de Maria, minha esposa Fabiola e eu colocamos hoje nossos destinos, pedindo coragem e força para enfrentar esta grande prova".

A visita permaneceu em segredo durante quase 30 anos; nem sequer o delegado pontifício do santuário de Loreto, o arcebispo Pasquale Macchi, antigo secretário de Paulo VI, foi informado.

“Balduíno foi o grande guardião dos direitos da consciência humana”, disse o papa são João Paulo II na audiência geral de 7 de junho de 1995.

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