15 de dezembro de 2024 Doar
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Análise: primeira semana no Sínodo da Sinodalidade, revolução ou muito barulho por nada?

O arcebispo de Barcelona, Espanha, dom Juan José cardeal Omella y Omella, chega à basílica de São Pedro para vigília penitencial para o Sínodo da Sinodalidade celebrada na terça-feira (1) pelo papa Francisco no Vaticano. | Franco Origlia/Getty Images

Talvez esteja na própria natureza do Sínodo da Sinodalidade dar passos para trás depois de ter dado vários passos para frente. Mas o tom dos dias de abertura da assembleia geral final do sínodo deixa claro que, por enquanto, não se fala em revolução dentro da Igreja.

Esse tom foi definido dias antes do início do encontro desta semana no Vaticano, quando em seu discurso na Bélgica em 27 de setembro, o papa Francisco disse que o sínodo não tinha como objetivo promover o que ele chamou de "reformas da moda".

Agora parece claro que, embora os delegados possam discutir muitas coisas nas próximas três semanas, nada será decidido. Não haverá mudanças doutrinárias. Nenhuma diminuição do papel dos bispos. Nenhuma pressa para resolver a questão da abertura do diaconato para mulheres.

Em vez disso, o verdadeiro desafio deste mês pode muito bem ser como administrar as expectativas daqueles que esperam e pressionam por mudanças radicais. O arcebispo de Luxemburgo, o cardeal Jean-Claude Hollerich, relator-geral do sínodo, falou sobre esse perigo no final da assembleia do ano passado, quando observou que muitos ficariam decepcionados se as mulheres não tivessem um papel maior na Igreja.

Mas uma grande mudança na governança da Igreja está próxima? Isso parece improvável. O próprio papa Francisco, em suas observações na abertura da assembleia deste ano, na terça-feira (1), disse que “a presença na Assembleia do Sínodo dos Bispos de membros que não são bispos não diminui a dimensão episcopal da assembleia”, uma referência às dezenas de leigos e religiosas que participam como delegados votantes.

O papa disse, com evidente aborrecimento, que as sugestões em contrário devem-se a “alguma tempestade de fofocas que ia de um lado para o outro”. Não há nem mesmo “algum limite ou derrogação à autoridade do bispo individual ou do colégio episcopal”, disse Francisco.

Em vez disso, o papa disse que a assembleia “indica a forma que o exercício da autoridade episcopal é chamado a tomar numa Igreja ciente de ser constitutivamente relacional e, portanto, sinodal”. Ou seja, é um “modus gubernandi”, uma forma de governar. No entanto, continua a ser uma governança em vez de um fórum aberto.

Houve muitos outros sinais de que nenhuma revolução é iminente.

O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, cardeal Víctor Manuel Fernández, disse em seu relatório sobre novos ministérios que o papa Francisco não considera o diaconato feminino “maduro” neste momento. A reflexão continua, em outras palavras. A Igreja se esforçará para dar mais espaço às mulheres em papéis de tomada de decisão, mas mais discussão é necessária quanto a qualquer tipo de ministério ordenado — algo que o papa já disse em coletiva de imprensa a bordo do avião papal em 29 de setembro, ao retornar da Bélgica.

Em seus relatórios intermediários para o sínodo, os grupos de estudo comissionados pelo papa para examinar questões de um diaconato feminino e outras questões controversas mostraram uma certa prudência por parte dos bispos ao abordar questões doutrinárias. Os bispos podem dar aos leigos uma voz maior na tomada de decisões, talvez, mas não quando se trata de questões doutrinárias.

O grupo de estudo encarregado de examinar o papel do “bispo-juiz” é um exemplo claro. O papa Francisco colocou os bispos no centro do processo de anulação do casamento, pedindo — na verdade, quase impondo — que eles sejam os juízes finais. Mas os bispos chamados a falar sobre o assunto disseram que o bispo, em alguns casos, deveria ter a opção de delegar essa responsabilidade a tribunais regionais e nacionais que “poderiam garantir grande imparcialidade nas decisões”. Isso é um passo atrás do que o papa Francisco já pediu?

E quando se trata de tornar o processo de seleção de bispos mais transparente, muito depende de como o núncio apostólico em cada país exerce o processo de seleção. Há um chamado para “mais atenção à Igreja local” e “mais envolvimento da Igreja local”, mas essa é uma questão de abordagem, não de mudança revolucionária.

Da mesma forma, embora haja notícias de que o Dicastério para os Bispos iniciou uma investigação para avaliar a prática de visitas ad limina, já sabemos que o papa Francisco há muito tempo inclui reuniões interdepartamentais em visitas ad limina quando a situação local exige.

Os grupos de estudo também disseram que não há necessidade de mudar a Ratio Fundamentalis , documento da Santa Sé já revisado pelo papa Francisco em 2016, que serve de base para a formação de padres e diáconos. No máximo, diz o texto do grupo de estudo, pode-se escrever “um preâmbulo, por um lado, descrevendo claramente a identidade relacional dos ministros ordenados numa Igreja sinodal e missionária e, por outro lado, indicando princípios e critérios para a implementação da Ratio Fundamentalis e da Ratio Nationalis em harmonia com esta estrutura eclesiológica e missiológica”.

Talvez a parte mais interessante diga respeito à questão da relação entre as Igrejas Orientais Católicas e a Igreja Latina porque, diz o texto do grupo de estudo, ela pretende ter um “documento da Santa Sé, editado pelo Dicastério para as Igrejas Orientais, dirigido pelo Santo Padre aos bispos latinos e contendo algumas orientações sobre esses aspectos”.

A comissão canônica do sínodo se concentra em tornar os conselhos pastorais diocesanos/eparquiais e paroquiais obrigatórios. Mas esse tema já foi destacado no documento da Comissão Teológica Internacional sobre sinodalidade, lançado em 2018.

Resumindo, até aqui, há muito barulho por nada. Talvez haja uma ênfase maior no “clamor dos pobres” e na necessidade de não focar em questões doutrinárias. E, no entanto, quando se trata de fazer uma proposta concreta, os bispos parecem contentes com sua disciplina ordinária.

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