16 de outubro de 2024 Doar
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Quase 150 hospitais católicos nos EUA fizeram “mudança de sexo” em crianças, diz relatório

Imagem referencial. | ADragan/Shutterstock

Quase 150 hospitais católicos nos EUA deram medicamentos de “mudança de sexo” a crianças ou fizeram cirurgias de “mudança de sexo” entre 2019 e 2023, contradizendo a doutrina da Igreja e a proibição da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês) de profissionais de saúde católicos oferecerem tais intervenções, segundo dados publicados esta semana por um grupo de vigilância médica.

No total, mais de 520 menores receberam tratamento em hospitais católicos em cerca de 40 Estados ao longo do período de cinco anos, mostra uma análise dos dados feita pela EWTN News.

Desses pacientes, mais de 150 passaram por cirurgias para mudar a sua aparência e se assemelharem ao sexo oposto, enquanto mais de 380 crianças receberam bloqueadores da puberdade ou terapias hormonais.

Bloqueadores da puberdade interrompem o desenvolvimento natural da criança durante a puberdade e terapias hormonais fornecem testosterona para meninas que querem se parecer com meninos e estrogênio para meninos que querem se parecer com meninas. Com base nos registros no banco de dados, a EWTN News descobriu que médicos em hospitais católicos fizeram mais de 1.850 prescrições para menores para facilitar uma "mudança de sexo".

Os prestadores de serviços de saúde católicos contactados pela EWTN News criticaram a metodologia e os motivos do grupo de vigilância sem contradizer nenhum de seus dados específicos.

Em 2023, a USCCB publicou diretrizes afirmando que qualquer tentativa de mudar as características sexuais físicas de alguém para facilitar uma cirurgia de “mudança de sexo” "não é moralmente justificada" porque não "respeita a ordem fundamental da pessoa humana como uma unidade intrínseca de corpo e alma, com um corpo que é sexualmente diferenciado".

“Os serviços de saúde católicos não devem realizar intervenções, sejam elas cirúrgicas ou químicas, que visem transformar as características sexuais de um corpo humano nas do sexo oposto ou participar do desenvolvimento de tais procedimentos”, acrescenta o documento preparado pelo Comitê de Doutrina da USCCB, intitulado “Nota Doutrinária sobre os Limites Morais da Manipulação Tecnológica do Corpo Humano”.

O documento cita o papa Francisco várias vezes, incluindo sua exortação apostólica de 2016, Amoris Laetitia : “Para além de compreensíveis dificuldades que cada um possa viver, é preciso ajudar a aceitar o seu corpo como foi criado”.

No entanto, apesar da diretriz da USCCB, o grupo de vigilância Do No Harm descobriu que as intervenções de "mudança de sexo" eram comuns entre os hospitais dos EUA afiliados à Igreja.

O banco de dados do grupo “Stop the Harm Database” é baseado em pedidos de reembolso de seguro disponíveis publicamente gerados por hospitais e centros de saúde dos EUA. Esses números não incluem crianças que nasceram com transtornos intersexuais.

Com sede em Glen Allen, Virgínia, a Do No Harm diz em seu site que “busca destacar e neutralizar tendências divisórias na medicina, como 'Diversidade, Equidade e Inclusão' e ideologia de gênero focada na juventude”.

A maioria dos mais de 149 hospitais católicos listados no banco de dados — incluindo seis hospitais infantis — oferecia apenas serviços mínimos, como preencher uma única receita, mostram os registros. Mas 33 hospitais católicos fizeram pelo menos uma cirurgia de "mudança de sexo" em um menor, totalizando 152 cirurgias.

Metade das crianças que receberam tais cirurgias — 76 no total — eram pacientes em cinco instalações operadas pela Providence, um sistema de saúde católico sem fins lucrativos que abrange 51 hospitais em cinco Estados: Washington, Montana, Oregon, Califórnia e Alasca. Dois dos hospitais do sistema forneceram a maior parte dessas cirurgias: o Providence Milwaukie Hospital no Oregon operou 46 crianças, segundo o banco de dados, enquanto o Providence St. Joseph Hospital-Orange na Califórnia forneceu cirurgias para 18 crianças.

Seis outros hospitais católicos fizeram cirurgias de "mudança de sexo" em ao menos cinco menores. Isso inclui oito crianças que foram operadas no St. Anne Hospital em Burien, Washington. O St. Anne Hospital é gerido pela Virginia Mason Franciscan Health, que administra 10 hospitais no estado de Washington.

Outros hospitais que fizeram diversas cirurgias de "mudança de sexo", segundo o banco de dados, incluem o Ascension SE Wisconsin Hospital-St. Joseph Campus em Milwaukee e o Ascension NE Wisconsin-St. Elizabeth Campus em Appleton, Wisconsin, ambos fizeram cirurgias em seis menores.

Em hospitais católicos, seculares e outros, o banco de dados encontrou quase 14 mil menores passando por cirurgia de “mudança de sexo” nos EUA ao longo do período. Isso inclui mais de 5, 7 mil cirurgias e mais de 8, 5 mil menores recebendo bloqueadores de puberdade ou terapias hormonais. Os médicos escreveram mais de 62, 6 mil prescrições de "mudança de sexo".

Associação Católica de Saúde reage

Quando a EWTN News entrou em contato com diversas redes de saúde e hospitais católicos listados no relatório, a maioria se referiu a uma declaração emitida pela Catholic Health Association, a Associação Católica de Saúde do país (CHA, na sigla em inglês), que criticava o Do No Harm.

Abrangendo mais de 600 hospitais e 1,6 mil unidades de cuidados de longo prazo e outras unidades de saúde em todos os 50 Estados, a CHA é o maior grupo de provedores de assistência médica sem fins lucrativos nos EUA, segundo o seu site. A organização entrou em conflito com a USCCB no passado em questões de assistência médica, como o Affordable Care Act.

“Uma revisão preliminar dos dados coletados pela Do No Harm indica que eles estão apresentando irresponsavelmente dados de reembolsos sem o contexto clínico necessário”, disse a CHA. “Este relatório prejudicial faz suposições perigosas que buscam menosprezar os provedores de assistência médica e os pacientes que eles tratam.”

A CHA acrescentou que os hospitais católicos fornecem “cuidados médicos éticos e baseados em evidências que reconhecem e defendem a dignidade humana de cada pessoa” e acusou a Do No Harm de estigmatizar “comunidades LGBTQ”. Também declarou que “há certos procedimentos que não realizamos com base em nossos valores e fé”.

A CHA não respondeu ao pedido de esclarecimento da EWTN News sobre quais procedimentos não estão segundo seus valores e se os hospitais católicos oferecem cirurgias ou medicamentos para procedimentos de “mudança de sexo” para menores ou adultos.

Beth Serio, gerente de relações externas da Do No Harm, disse à EWTN News que o grupo mantém suas descobertas, acrescentando que o grupo publicou a metodologia para que "qualquer pessoa pudesse ler nosso artigo e replicar exatamente nosso estudo e obter os mesmos resultados".

Ela disse que os registros no banco de dados do grupo representam “o mínimo [número de cirurgias de “mudanças de sexo”] que sabemos que ocorreram nesses hospitais”. Como o banco de dados não conseguiu contabilizar pagamentos em dinheiro ou reembolsos de seguro que não são acessíveis ao público, ela disse: “estamos bastante confiantes de que é uma subcontagem”.

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Serio expressou decepção com a resposta da CHA, ao dizer à EWTN: “É muito triste que a Catholic Health Association esteja escolhendo atacar o caráter [da Do No Harm] como organização em vez de focar na questão real, [que é] ... milhares de crianças estão sendo prejudicadas em todo o país.”

Ela disse que o relatório poderia ser uma “oportunidade [para a CHA] ser uma defensora da mudança” e pediu à associação que “leia verdadeiramente nossa metodologia, estude-a e aponte exatamente onde [eles acham] que a metodologia é falha”.

Serio disse à EWTN News que a “principal motivação e interesse da Do No Harm em divulgar esse banco de dados é a proteção das crianças”.

Um porta-voz da Providence — a rede responsável por metade das cirurgias de “mudança de sexo” por hospitais católicos listados no relatório — disse que a rede de saúde tem “preocupações sobre a motivação deste relatório e o risco que ele representa para a privacidade de uma população vulnerável de pacientes”, mas não pôde “falar sobre a validade do conteúdo, dados ou metodologia do relatório”.

“Pacientes transgênero vêm até nós para muitas necessidades de cuidados de saúde”, diz a declaração. “Estamos comprometidos em fornecer a eles cuidados de saúde de qualidade e compassivos, e ajudá-los a se sentirem acolhidos, seguros e incluídos. … [Nós] fornecemos a todos os pacientes a gama completa de cuidados disponíveis em nossas instalações.”

Respondendo sobre esclarecimentos sobre suas políticas relacionadas a cirurgias de “mudança de sexo”, um porta-voz enviou à EWTN News a declaração original da Providence.

O que a USCCB pode fazer?

Resta saber que medidas a USCCB vai tomar em resposta ao relatório da Do No Harm.

Chieko Noguchi, porta-voz da USCCB, disse à EWTN News que a doutrina da Igreja “é clara… sobre a dignidade inerente de cada pessoa criada à imagem e semelhança de Deus”.

Noguchi acrescentou que “somos sempre chamados a acompanhar aqueles que estão lutando, e isso certamente inclui pessoas que lutam com sua identidade dada por Deus como homem ou mulher”, mas disse que tanto a USCCB quanto a Santa Sé “têm sido claros quanto ao que é moralmente aceitável”.

“Vamos rezar para que todos nós possamos encontrar a compaixão e a sabedoria para ajudar melhor nossos irmãos e irmãs a aceitar quem Deus os criou para ser”, disse Noguchi.

A EWTN News respondeu à declaração para perguntar que ação a USCCB poderia tomar se os hospitais violassem as diretrizes da USCCB, mas não recebeu uma resposta até o momento da publicação. A EWTN News também perguntou à CHA se os hospitais católicos listados no relatório pretendem seguir as diretrizes da USCCB, mas não recebeu uma resposta até o momento da publicação.

O padre Tadeusz Pacholczyk, especialista sênior em ética do National Catholic Bioethics Center (Centro Nacional Católico de Bioética), disse à EWTN News: “Os hospitais católicos claramente devem manter um padrão mais elevado do que o de seus equivalentes seculares” e “não podem tolerar ou participar dessas práticas antiéticas”.

“Relatórios indicando que hospitais católicos, incluindo alguns hospitais infantis católicos, podem estar envolvidos em procedimentos de redesignação sexual nos lembram da necessidade de vigilância contínua por parte dos bispos diocesanos e líderes de saúde católicos”, disse o padre Pacholczyk.

“Também pode haver necessidade de uma formação ética mais completa para funcionários e administradores para ajudá-los a combater a mensagem ideológica pró-transgênero que se tornou comum nos últimos anos”, acrescentou.

“Tratar nossa masculinidade ou feminilidade humana como maleável ou reatribuível é convidar danos sérios para as vidas daqueles que podem estar enfrentando lutas psicológicas genuínas e profundas sobre sua própria 'identidade de gênero'”, disse Pacholczyk. “As entidades católicas de assistência médica atendem melhor seus pacientes direcionando-os para psicoterapia de apoio que trabalha para abordar quaisquer problemas psiquiátricos subjacentes que podem estar estimulando o desejo de "mudança de sexo".

Medicamentos e cirurgias para menores de idade se tornaram um tema político acalorado nos EUA e no mundo nos últimos anos.

A maioria dos Estados liderados por republicanos restringiu ou proibiu médicos de fornecer essas intervenções médicas a menores. Muitos Estados liderados por democratas fizeram o oposto — mudando a lei estadual para garantir que os médicos possam continuar com essas intervenções.

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