21 de dezembro de 2024 Doar
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Apresentar uma pessoa como modelo para todos é uma grande responsabilidade, diz postulador

Paolo Villota cumprimentando o papa Francisco. | Crédito: Arquivo pessoal.

“Apresentar uma pessoa que pode ser modelo para todo mundo é uma responsabilidade muito grande”, diz o italiano Paolo Vilotta, 42 anos, sobre o seu trabalho como postulador nas causas de beatificação e canonização de muitos brasileiros e estrangeiros.

Toda causa de beatificação ou canonização tem um postulador que é quem “representa o autor da causa, que pode ser uma associação, uma diocese, uma congregação religiosa que quer começar uma causa de beatificação e canonização”, disse Vilotta. 

Segundo ele, o postulador não pode ser confundido com um advogado, ele representa o autor, mas “tem o dever e o direito de comunicar à Santa Sé, ao bispo e ao autor se tem algum impedimento, algum problema de qualquer nível”.

Vilotta foi o postulador da causa de canonização de santa Dulce dos Pobres, da beatificação de Francisca de Paula de Jesus, conhecida como Nhá-Chica, de Isabel Cristina, do padre Donizette Tavares de Lima e atua em quase metade das 100 causas de beatificação e canonização abertas atualmente no Brasil, entre elas a dos veneráveis Guido Schäffer e Odette Vidal Cardoso, a Odetinha, e dos servos de Deus padre Léo Tarcísio Gonçalves Pereira e Marcelo Henrique Câmara.

“Tenho um amor muito grande pelo Brasil, é a minha segunda casa”, disse ele. “Quando chego aqui, gosto de ir especialmente em cada causa, aprender, entrar no mérito da causa. Isso ajuda muito”.

Uma das causas recentes de Vilotta foi a de canonização de santa Elena Guerra, cujo milagre que permitiu a sua elevação aos altares aconteceu no Brasil. Ela foi canonizada em 20 de outubro pelo papa Francisco, no Vaticano.

Descobrir Deus, descobrindo a vida dos santos

O amor pela causa dos santos começou quando Vilotta tinha 22 anos e estudava História das Religiões. “No início da faculdade eu conheci a postulação, o mundo da causa dos santos e fiquei apaixonado”, disse Vilotta.  “Gostei ainda mais porque consegui descobrir Deus, descobrindo a vida dos santos de forma muito profunda e tive a possibilidade de ler o Evangelho de uma forma muito diferente”.

“Assim que surgiu esse amor”, contou Vilotta. “É um caminho, cada causa é uma nova história, não só no conteúdo, mas também no espírito do trabalho pessoalmente”.

A abertura de uma causa de beatificação na Igreja é o primeiro passo para reconhecer que alguém levou uma vida exemplar de virtudes heroicas ou foi mártir. Nessa etapa inicial, a pessoa é denominada servo de Deus. Se suas virtudes heroicas forem reconhecidas, ela passa a ser venerável. A confirmação de um milagre atribuído à sua intercessão permite que seja declara de beato, e sua veneração passa a ser permitida em âmbito local. Por fim, a verificação de um segundo milagre ocorrido depois da beatificação leva a pessoa a ser canonizada como santo, momento em que seu culto se torna universal na Igreja.

A causa tem uma fase diocesana, na qual se constrói um inquérito que é “a pesquisa, recolhida dos testemunhos, documentos, avaliação dos teólogos, somente no nível do parecer”, disse Vilotta.

Terminada a fase diocesana, os documentos são entregues ao Dicastério para as Causas dos Santos e começa a fase romana.  O dicastério verifica se os processos aconteceram de acordo com as normas da Santa Sé e nomeia um relator que acompanha a elaboração da positio que é um documento que contém uma biografia documentada dos candidatos a veneráveis e testemunhos de pessoas sobre a vida deles, relatando a prática das virtudes teologais (fé, esperança e caridade) e virtudes cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança).

Com a positio aprovada, são feitas duas comissões: uma histórica e uma teológica, ambas formada por nove membros, dos quais sete precisam aprovar a causa. Por fim, há um congresso de bispos e cardeais que em sua maioria também tem que aprovar a causa para que ela seja apresentada ao papa. Passando por todas essas etapas, a Santa Sé reconhece as virtudes heroicas e o candidato é proclamado venerável.

“Muitas vezes se fala da causa só quando chega no final”, disse Vilotta, “mas posso assegurar que é uma responsabilidade muito grande, com muita gente que trabalha, que coloca a sua contribuição. São muitos profissionais envolvidos”.

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