5 de dezembro de 2024 Doar
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Papa pede em visita a universidade pontifícia para evitar “espiritualidade coca-cola”

Papa Francisco hoje (5) na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma. | Daniel Ibáñez/EWTN News

O papa Francisco visitou hoje (5) a Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, instituição confiada à Companhia de Jesus, os jesuítas, a mais antiga das universidades pontifícias romanas, para abrir o ano acadêmico no âmbito da recente incorporação do Pontifício Instituto Bíblico e do Pontifício Instituto Oriental.

No início do evento, o reitor da universidade, o padre jesuíta Mark Lewis, disse que na instituição estudaram bispos e cardeais como o bispo de Matagalpa, Nicarágua, dom Rolando Álvarez, “que prega o Evangelho com coragem e permanece solidário com seus sacerdotes, seu rebanho e todos aqueles que foram privados de seus direitos humanos”.

O padre jesuíta Mark Lewis. Daniel Ibáñez/EWTN News

Depois das palavras de boas-vindas, o papa Francisco pediu aos professores que reflitam sobre o papel que a Universidade Gregoriana deve desempenhar hoje, ao cumprir o carisma e o legado de santo Inácio de Loyola e com a missão “que os Bispos de Roma continuaram a confiar à Companhia de Jesus ao longo do tempo".

“Discípulos da coca-cola espiritual”

Em seu discurso, o papa exortou os presentes a evitarem fechar-se em si mesmos e a fazerem assim “um repensar de tudo”, ao valorizar o que se vive tanto no mundo como na Igreja, “em vista da missão que o Senhor Jesus nos confiou”, pois, disse Francisco, “quando a gente só se preocupa em não tropeçar, acaba caindo”.

“Vocês já se perguntaram para onde estão indo e por que estão fazendo as coisas que estão fazendo? É preciso saber para onde vamos, sem perder de vista o horizonte que une o caminho de cada pessoa ao objetivo atual e último”, disse o papa Francisco.

Francisco criou um novo termo e disse que essa “visão e consciência do fim” impede a “coca-colização” da espiritualidade, ao também dizer que "são muitos, infelizmente, os discípulos da coca-cola espiritual”. O papa Francisco usou essa metáfora para convidar os presentes a uma maior profundidade e a viver uma espiritualidade que não é passageira.

Pôr o coração em ação formativa

Ao tomar como referência o jesuíta são Francisco Xavier, que defendia a caridade e o serviço ao próximo face aos que só possuíam conhecimento, o papa Francisco falou sobre a necessidade de “sermos missionários por amor aos nossos irmãos e estarmos disponíveis para o chamado do Senhor".

O papa pediu para evitar “exigências que tornam o plano de Deus burocrático, prepotente, rígido e sem calor, muitas vezes sobrepondo agendas e ambições aos planos da Providência”.

Francisco convidou as pessoas a evitarem o ego e a colocarem “o coração” na ação formativa, para que não se torne um “intelectualismo árido ou um narcisismo perverso”.

“Quando falta o coração, vê-se isso”, disse o papa.

Ao citar a sua recente encíclica Dilexit Nos, o papa Francisco quis realçar a evidência de que “o coração é o lugar de partida e de chegada de todas as relações” e encorajou os presentes a retornarem ao caminho da missão original da Universidade Gregoriana, criada em 1551 numa “casa modesta” que se chamava Colégio Romano.

O papa fez um “convite a humanizar o conhecimento da fé” e a aplicar a sua exortação apostólica Evangelii Gaudium, ao dizer que os alunos "têm a necessidade de descobrir a força da fantasia, da inspiração" e também de “entrar em contato com as suas emoções e de saber exprimir os seus sentimentos”.

Assim, disse o papa, aprende-se a ser você mesmo, medindo-se segundo a capacidade de cada um, sem evitar “a liberdade de decisão, extinguindo a alegria da descoberta” e privando-se da oportunidade de cometer erros.

“Você aprende com os erros”, disse Francisco.

A gratuidade nos abre às surpresas de Deus

O papa encorajou os membros da Pontifícia Universidade a retomarem a “gratuidade” com a qual santo Inácio de Loyola fundou o centro, para que todos se tornem “servos sem patrões”, ao reconhecer a dignidade e que ninguém seja excluído.

“É a gratuidade que nos abre às surpresas de Deus, que é misericórdia”, disse Francisco.

O papa pediu uma universidade com “o cheiro da carne do povo”, que promova a imaginação e revele o ser do Deus do amor, “que dá sempre o primeiro passo num mundo que parece ter perdido o coração”.

Francisco disse que “para ganhar é preciso perder”, ao mesmo tempo em que lamentou que o “mundo está em chamas” porque “loucura da guerra cobre toda esperança com a sombra da morte”.

“Precisamos recuperar o caminho de uma teologia encarnada, que ressuscite a esperança, de uma filosofia que saiba suscitar o desejo de tocar a orla do manto de Jesus, de perscrutar os limites do mistério”, disse o papa.

Abrir o olhar do coração

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O papa pediu para “abrir o olhar do coração”, buscar a unidade na diversidade com a troca de dons e fazer um maior estudo das tradições orientais. Também pediu que se evitem as ideias abstratas que nascem nas secretarias e se promova “o contato com a vida dos povos e com os símbolos das culturas, na escuta das perguntas ocultas e do grito que brota da carne sofrida dos pobres”.

“Precisamos tocar essa carne: ter a coragem de andar na lama e sujar as mãos”, disse o papa.

Para Francisco, a universidade deve ser “um instrumento da missão da Igreja” em diálogo com a humanidade, onde não se olha “de cima para baixo” e se evita a hierarquia, para que os seus membros exerçam a humildade e todos sejam levados em conta.

O papa pediu para manter o diálogo com a tradição, para que sejam “compassivos com o presente e respeitosos com o passado”, para cumprir a missão de “carregar sobre os ombros a história de fé, sabedoria e sofrimento de todos os tempos, caminhando no presente em chamas que precisa da sua ajuda.”

O papa Francisco pediu também para manter vivas as raízes da Companhia de Jesus e disse que, para servir a Deus, “tudo deve ser levado ao fim para o qual fomos criados”.

Francisco convidou ao discernimento constante que permite purificar as intenções e não “agarrar-se às regras”, manter viva uma doutrina e não torná-la “prisioneira” dentro de um museu.

A origem da Pontifícia Universidade Gregoriana

As origens da Pontifícia Universidade Gregoriana remontam à iniciativa direta de santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, que em 1551 fundou o Colégio Romano, também conhecido como Universitas omnium Nationum, a serviço da Igreja universal.

Em 1873, o papa Pio IX ordenou que a universidade adotasse oficialmente o novo nome de Pontifícia Universidade Gregoriana. A sede atual da instituição foi inaugurada na piazza della Pilotta em 1930.

Em 19 de maio deste ano, duas outras instituições confiadas à Companhia de Jesus, o Pontifício Instituto Bíblico e o Pontifício Instituto Oriental, foram definitivamente incorporadas à Pontifícia Universidade Gregoriana, como solicitou o papa Francisco.

Atualmente, a universidade tem 2.952 alunos de 121 nacionalidades, que estudam disciplinas como teologia, filosofia, ciências eclesiásticas orientais, direito canônico, psicologia e antropologia, entre outras.

A universidade oferece também uma proposta acadêmica que abrange tanto a tradição da Igreja latina quanto a das Igrejas orientais.

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