13 de dezembro de 2024 Doar
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Conferência episcopal dos EUA promete falar alto se a retórica de deportação em massa de Trump virar realidade

Dom Timothy Broglio, dom Mark Seitz e dom Michael Burbidge ontem (12) na assembleia de outono da USCCB deste ano, em Baltimore, Maryland, EUA | Jonathan Leidl

A Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês), está adotando uma abordagem de esperar para ver o que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, fará com sua promessa de campanha de fazer a deportação em massa de imigrantes que estão ilegalmente no país.

Mas a USCCB diz estar preparada para manifestar-se veementemente se Trump levar adiante a controversa proposta de uma forma que prejudique a dignidade humana.

Essa foi a mensagem transmitida pela liderança da USCCB no primeiro dia público de sua assembleia de outono, realizada ontem (12) em Baltimore, no Estado de Maryland, uma semana depois do dia da eleição.

“Estamos esperando para ver exatamente o que vai tomar forma”, disse o bispo de El Paso, Texas, dom Mark Seitz, chefe do comitê de migração da USCCB, que falou com membros da mídia ao lado do arcebispo do ordinariado militar dos EUA, dom Timothy Broglio, presidente da USCCB, e do bispo de Arlington, Virgínia, dom Michael Burbidge, presidente do comitê pró-vida da USCCB.

Se o governo Trump avançar de uma forma que viole os direitos humanos básicos, dom Seitz disse que a USCCB está preparada para “levantar nossas vozes em voz alta”.

Dom Seitz falou sobre a tentativa do governo estadual do Texas de restringir o ministério da Igreja a migrantes em sua diocese. O bispo disse ontem que a USCCB estava preocupada com a retórica imigratória de Trump na campanha eleitoral, mas que "não querem se adiantar" à administração antes que ela anuncie seus planos concretos.

“Sabemos que muitas vezes a realidade é diferente da retórica. Observaremos e responderemos conforme necessário”, disse dom Seitz.

Dom Broglio disse que, embora a USCCB não incentive a imigração ilegal, ela pede que aqueles que entram no país sejam cuidados, pois “representam o rosto de Cristo” nos pobres.

“Acredito que, à medida que avançamos, esperamos que haja um esforço sincero para reparar a lei de imigração e também que haja um respeito renovado pela dignidade da pessoa humana”, disse dom Broglio.

Proposta de deportação em massa

Segundo estatísticas divulgadas em julho do ano passado pelo instituto Center for Migration Studies (CMS, na sigla em inglês), estima-se que há cerca de 11,7 milhões de imigrantes sem documentos nos EUA. Trump prometeu deportar todos os migrantes que estão ilegalmente no país e disse que o plano, que foi criticado como financeiramente inviável, "não terá etiqueta de preço".

Tom Homan, um católico e ex-diretor interino do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos EUA , que foi indicado como o "czar da fronteira" de Trump, disse na segunda-feira (11) que o governo vai priorizar a deportação de "ameaças à segurança pública e ameaças à segurança nacional primeiro", ao dizer também que aqueles que estão ilegalmente no país "não devem se sentir confortáveis".

A proposta tem sido altamente controversa dentro de círculos católicos . O Catecismo da Igreja Católica diz no parágrafo 2.241 que “as nações mais abastadas devem acolher, tanto quanto possível, o estrangeiro em busca da segurança e dos recursos vitais que não consegue encontrar no seu país de origem”, mas que “as autoridades políticas podem, em vista do bem comum de que têm a responsabilidade, subordinar o exercício do direito de imigração a diversas condições jurídicas, nomeadamente no respeitante aos deveres que os imigrantes contraem para com o país de adoção”.

“O imigrado tem a obrigação de respeitar com reconhecimento o património material e espiritual do país que o acolheu, de obedecer às suas leis e de contribuir para o seu bem”, diz também o Catecismo da Igreja Católica.

Dom Seitz disse que a USCCB reconhece que alguns imigrantes não entraram no país legalmente, mas falou que o governo dos EUA deve distinguir entre aqueles que cometeram crimes adicionais daqueles que, "para o benefício do nosso país, deveriam poder permanecer".

O bispo disse também que, se qualquer tipo de programa de deportação for executado, ele deve respeitar os direitos humanos básicos, que não são resultado de ter ou não cidadania, mas são dados por Deus, como reconhecem os documentos fundadores dos EUA.

A maneira como um programa de deportação é executado “será um teste para nossa nação”, disse o bispo de El Paso, que disse também que a USCCB certamente vai garantir aos imigrantes sem documentação “nosso acompanhamento com eles” em meio ao que quer que esteja por vir, porque “não vamos fugir e deixá-los”.

Sobre o ministério aos migrantes, dom Broglio disse que a capacidade da Igreja de cumprir sua missão de serviço é uma questão de liberdade religiosa.

“Acho que temos que insistir em nossa capacidade de viver de acordo com nossa fé e também de praticar essa fé, especialmente no que se refere aos mais necessitados e marginalizados de nossa sociedade”, disse o arcebispo.

Lições pró-vida e fertilização in vitro

O bispo de Arlington, Virgínia, dom Burbidge, falou sobre as lições pró-vida do dia da eleição, que incluíram as três primeiras vitórias pró-vida em iniciativas eleitorais estaduais no país desde que a decisão judicial Roe x Wade, que legalizou o aborto nos EUA, foi revogada pela Suprema Corte dos EUA em 2022.

Dom Burbidge falou sobre a importância do movimento pró-vida “estar à frente do jogo” nas batalhas estaduais, ao divulgar mensagens de forma precoce e concisa.

“Nós nunca seremos capazes, financeiramente, de acompanhar aqueles que estão lutando para legalizar o aborto em seus estados”, disse o bispo. “Temos que confiar na verdade que temos, nas orações e sacrifícios que fazemos, e também deixar claras as posições extremas daqueles que estão trabalhando para legalizar o aborto em seus Estados”.

E embora Trump tenha dito que não está aberto a restringir o aborto em nível federal, Burbidge disse estar "um tanto otimista" de que o movimento pró-vida encontraria "ouvidos abertos" para apoiar iniciativas que visam apoiar mães, crianças ainda não nascidas e a vida familiar, como créditos fiscais para crianças e até mesmo o programa Walking with Moms in Need (Caminhando com Mães em Necessidade) da USCCB .

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“Qualquer maneira de haver uma parceria para aumentar essas oportunidades para que o aborto não precise ser uma escolha é algo que defenderemos com grande zelo”, disse dom Burbidge à EWTN News.

Sobre a proposta de Trump do governo federal dos EUA financiar a fertilização in vitro (FIV) pelo governo federal , dom Burbidge concordou com dom Seitz ao dizer que a USCCB não vai responder “ao que ouvimos na campanha eleitoral", mas sim às políticas que forem colocadas em prática.

“Se for algo que não apoie a defesa da vida, então responderemos de acordo”, disse o bispo, ao dizer que a USCCB precisa transmitir suas doutrinas sobre a fertilização in vitro, que envolve destruir a vida embrionária e conceber a vida de uma maneira que não esteja de acordo com a lei de Deus, com “sensibilidade pastoral”, visto que a infertilidade é “uma cruz muito pesada”.

Seguindo em frente

Embora um segundo mandato de Trump represente um conjunto específico de desafios e oportunidades, a liderança da USCCB disse que sua missão fundamental no envolvimento com autoridades eleitas permanece a mesma.

“Não importa quais foram os resultados na terça-feira [5 de novembro], sabíamos na quarta-feira que algo seria o mesmo: somos uma nação sob Deus”, disse dom Burbidge, ao sublinhar que a USCCB é guiada pela verdade do Evangelho, não pelo partidarismo político.

Dom Broglio disse que “há vencedores e perdedores” depois de uma eleição, “mas o objetivo principal é permitir que o país progrida”, e falou também sobre a importância do diálogo generalizado.

Para dom Seitz, isso inclui o diálogo com o governo Trump, em áreas de desacordo, mas também em casos em que as prioridades da USCCB se sobrepõem às do presidente e de outras autoridades eleitas.

“Nós sempre buscamos maneiras de colaborar com a administração, com membros do Congresso e afins. Ainda haverá áreas onde podemos fazer isso”, disse dom Seitz.

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