Dec 16, 2024 / 16:14 pm
O bispo de Orihuela-Alicante, Espanha, dom José Ignacio Munilla, pediu para as pessoas compartilharem e tornarem viral um vídeo (link em espanhol) de famílias numerosas que convida a refletir sobre as desculpas para não ter filhos que o governo espanhol quer censurar.
Em novembro passado, a Associação de Famílias Numerosas de Madri lançou uma campanha com os slogans “Está ficando sem arroz?” e “Estão roubando isso de vocês”, que já tem 100 mil visualizações em seu canal no YouTube.
Em 20 de novembro, Cristina Hernández, diretora do Instituto da Mulher, ligado ao ministério da Igualdade da Espanha, enviou uma carta à presidente da associação, María Menéndez, na qual exige "que adotem as medidas necessárias para retirar essa publicidade, e para o cumprimento das normas vigentes”.
A carta diz que o conteúdo da campanha, composta pelo vídeo e por cartazes publicitários em pontos de ônibus e estações de metrô de Madri, está cheio de "preconceitos e pressões sobre os jovens e especialmente sobre as mulheres devido à sua biologia particular” e “evoca momentos sombrios da nossa história que pensávamos terem sido banidos”.
Hernández diz que “por décadas, as mulheres conquistaram o direito de decidir sobre os nossos corpos e, portanto, de decidir livremente se queremos ou não ter filhos” ou constituir família e quando e com quem o fazer.
Ela diz também que o slogan “Estão roubando isso de vocês”, que convida à reflexão sobre as razões pelas quais os espanhóis adiam ter filhos, “indica um profundo desconhecimento da composição da nossa sociedade e do nível educacional das pessoas jovens”.
“Garanto que sabem o que querem e não precisam de tutoria para exercer sua liberdade, dentro de suas limitações”, diz Hernández.
Para ela, essa campanha “representa um desprezo pela liberdade e autonomia que as mulheres têm sobre os seus corpos e pode constituir uma forma de assédio e violência psicológica”.
Resposta do bispo de Orihuela-Alicante
Em seu programa de rádio Sexto Continente, transmitido todas as segundas e sextas-feiras pela Rádio María España, dom Munilla falou sobre a polêmica ao incentivar a “divulgação do vídeo” em todas as redes sociais.
“Vamos tentar fazer com que arrase, como se diz popularmente”, disse o bispo.
Dom Munilla elogiou o vídeo da campanha por dois motivos principais.
Por um lado, porque seu argumento “não vai nem para o lado da reivindicação política, nem toca na chave do emotivismo”, mas apela à “autocrítica sobre a capacidade de autoengano para assumir valores mundanos”.
Por outro lado, o bispo diz que o vídeo é preciso por enfatizar a “responsabilidade moral”.
Em resposta ao conteúdo da carta do Ministério da Igualdade, o bispo disse que se trata de uma “interferência na liberdade de expressão” e que a sociedade espanhola caminha para um modelo em que essa liberdade básica “se torna quase impossível porque parece que qualquer coisa que você disser vai ofender”.
“Qualquer dia um órgão do governo teria que vir e dizer à Igreja: ‘Ela não tem o direito de dizer 'converta-se e creia no Evangelho' porque “você pode estar incomodando alguém”, disse dom Munilla.
Em segundo lugar, o bispo de Orihuela-Alicante diz que “fica claro que os governantes são insensíveis a um dos maiores problemas que a sociedade tem, que é a crise da natalidade”.
“Deveria ser o principal esforço do governo promover as taxas de natalidade! Tinha que ser o seu principal esforço e ele que faz é atacar os que tentam promover o nascimento e também favorecer o aborto e a contracepção”, disse o bispo.
Dom Munilla denuncia “bullying”
Para o bispo, o texto dirigido à organização de famílias numerosas pelo poder executivo da Espanha deixa claro que “existem métodos de intimidação, de tentar assustar, de tentar ameaçar para que os cidadãos não se associem”.
Para dom Munilla, esses métodos são “uma tendência estatista em que todos os órgãos oficiais são os que têm de falar, os que têm de fazer campanhas oficiais” e que também assumem a capacidade de supervisionar aqueles que não controlam.
“É um autêntico método de intimidação, de ameaça, de amedrontamento” através do qual “há cada vez mais Estado e menos sociedade”, diz o bispo.
Em quarto lugar, dom Munilla diz que a carta do ministério da Igualdade “transmite um falso paradigma” com o qual as famílias numerosas são acusadas de “querer influenciar as mulheres” enquanto as organizações oficiais impõem a ideologia de gênero.
“Não está [o governo] influenciando continuamente e também de uma forma verdadeiramente aberrante?”, pergunta o bispo. O governo faz isso “introduzindo-se nos planos de educação infantil e até de forma subliminar no cinema, nos desenhos animados, em todos os lugares” de tal forma que se faz “uma manipulação das consciências”, disse dom Munilla.
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Dom Munilla disse também que, com essa atitude, “desviam dinheiro público” para tentar “atacar iniciativas sociais”, o que é especialmente grave se tivermos em conta que a contribuição das famílias numerosas, através dos seus impostos, “são o que vai tornar possível o sistema de pensões de aposentadoria dos que as atacam”.
Por fim, o bispo criticou a “ideologia igualitária que busca homogeneizar a população impondo um pensamento único, idiotizando a população”.
Essa forma de atuação do ministério da Igualdade “denigre o sentido de justiça”, disse dom Munilla.
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