MADRI, Aug 5, 2004 / 16:25 pm
Em uma entrevista concedida a um meio de comunicação espanhol, o Bispo de Cartagena, Dom Manuel Ureña, denunciou a emergência e imposição com "luva de pelica" do fundamentalismo secularista no Ocidente assim como a presença do fundamentalismo de conteúdo religioso como o Islã.
Questionado sobre "as correntes laicistas inspiradas no modelo francês, essas que pretendem excluir o fato religioso", Dom Ureña explicou que são "simplesmente uma tentativa de não deixar que nos expressemos".
"Eu falei algumas vezes do que poderíamos chamar de fundamentalismo religioso e secularista. Hoje estamos assistindo no Ocidente a emergência de um fundamentalismo secularista. Já sabemos que o fundamentalismo consiste em sustentar uma verdade em absoluto. Trata-se de erigir em instância absoluta uma convicção, seja individual ou compartilhada por uma coletividade, e assim passar a impô-la" declarou.
O Bispo de origem valenciana explicou que esta imposição pode "ser feita de forma brutal, como ocorreu em determinadas épocas, ou sendo inculcada e introduzida recorrendo meios mais civilizados, de luva de pelica, mas com mecanismos igualmente perversos, embora dissimulados, que perseguem que essa convicção penetre nas consciências de todos".
"No fundo, tudo é fundamentalismo, porque sempre se impõe algo. E seu conteúdo pode ser religioso, fato que se observa em algum monoteísmo, como o Islã", disse.
Após esclarecer que não se deve identificar o Islã com o fundamentalismo, o Prelado de 59 anos precisou que, entretanto, "é muito difícil não culpar ou absolver o Corão de esse fundamentalismo".
Apesar disso, Dom Ureña declarou que o que mais o preocupava era o secularista, "que não respeita a democracia de nenhuma maneira, porque tenta reconduzir a sociedade e induzir nela um estereótipo secularista".
Segundo o Bispo, "isso se manifesta, por exemplo, em atitudes de perdoar a vida à Igreja e tentar gerar nos cristãos, através de leis, propaganda, meios de comunicação ou outros instrumentos, a consciência de que eles têm uma cosmovisão anacrônica, de que sobram e de que, portanto, devem ir isolando-se. Nesse sentido, tanto na Espanha como em todo o Ocidente, a Igreja Católica está submetida à pressão de um fundamentalismo secularista".
Dom Ureña, nomeado Bispo de Ibiza em 1988 e, posteriormente, de Alcalá de Henares em 1991 até sua transferência para a diocese de Cartagena em 1998, colocou como exemplo disso a não inclusão da referência às raízes cristãs do continente europeu no Preâmbulo do Tratado Constitucional.
"A Europa ocidental nasceu de uma matriz totalmente cristã. As heranças grega e romana, como fator gestante, pesam menos na gênese do Ocidente que a cristã. E, contudo, há uma posição que destila algo assim como vergonha na hora de apresentar o cristianismo como fator gerador do Ocidente", disse.
Democracia sem valores
Alo se referir aos últimos 25 anos de vida da Igreja na Espanha, Dom Ureña criticou que a sociedade, apesar de se apresentar como uma sociedade que respeita a dignidade humana contra os absolutismos, encontra-se "infundada, sem valores objetivos e com a pretensão de que a democracia, como acontece em todo o Ocidente, como nos encontramos em uma sociedade na qual a verdade está ofuscada, às vezes tenta impor decisões de uma assembléia dando-lhes uma caráter moral que não têm em si mesmas".
"A tentação das democracias ocidentais", explicou, "é nadar no vazio, perder o horizonte da verdade e, em conseqüência, pretender que aquelas decisões e opções finais às que chega um determinado parlamento se torne fonte de verdade, quando muitas vezes não é assim", explicou.
Em seu diálogo com o jornal espanhol, o Bispo disse que a unidade que existe entre a liberdade e salvação que o ser humano espera e a verdade. "O grande problema de nosso tempo é que o homem quer experimentar a salvação e a plenitude passando por cima da verdade e querendo se realizar através de uma liberdade desconectada dessa verdade" Frente a isso, "a principal preocupação da Igreja na Espanha é devolver ao homem o horizonte de verdade que ficou perdida e ofuscada" indicou.
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