SANTO DOMINGO, Sep 4, 2006 / 20:15 pm
No meio do debate sobre a eventual legalização do aborto em República Dominicana, o Arcebispo de Santiago dos Caballeros, Dom Ramón Benito De La Rosa, difundiu através de um jornal sua própria experiência pastoral com as vítimas do aborto: filhos não amados, mães que abortaram e médicos que executaram inocentes.
Com o título "O aborto em ação", o também Presidente do Episcopado dominicano revelou intensas experiências vividas em Paris, onde no final dos anos 60 serve como sacerdote, e em seu próprio país.
"Só quero trazer alguns dados conhecidos e vividos de perto em meu ministério sacerdotal", indicou Dom De La Rosa antes de lembrar que em seu tempo na França "praticamente a cada dia tinha pelo menos um enterro de uma pessoa idosa" e embora pensou que se devia "ao intenso calor de julho", descobriu que estes idosos morriam "de pena e falta de amor".
"Seus próprios filhos afirmam que, como filhos, não estão certos de se vieram ao mundo por amor. Dizem que da mesma maneira que na casa seus pais queriam móveis, artefatos elétricos ou um mascote, assim tinham decidido ter um casal de filhos, menino e menina, e não mais, como outros enfeites da casa; que, portanto, poderiam não ter nascido, poderiam ter sido abortados ou controlados por outros meios", indicou.
O Arcebispo também se referiu às mulheres que se submeteram a um aborto e sofrem os traumas de sua decisão.
"Minha experiência me ensinou que as mães que abortaram, com plena consciência, sempre tinham razões, consideradas boas e válidas, para tomar tal decisão. De algum modo a legalizavam internamente. Então, ao repensar, questionavam-se elas mesmas e sentiam um profundo arrependimento. Depois de um tempo de luta interna, muitas vinham para me ver; as acolhia, escutava com atenção e mostrava compreensão diante de sua situação, tratando não de justificar sua ação, mas sim de ajudá-las a compreender a si mesmos junto a sua realidade. Dizia-lhes que Deus as amava e as perdoava certamente, dado seu arrependimento", indicou.
Entretanto, lembrou, embora aparentemente "partiam em paz e reconciliadas", sempre retornavam com dúvidas. "Devo testemunhar que há pessoas que se sentem perdoadas por Deus, mas não se perdoam a elas mesmas, por diferentes razões. Mas dentre todas estas às que mais custa é perdoar-se, segundo minha experiência, é às mães que decidiram praticar um aborto", assinalou.
Do mesmo modo, evocou a história de uma mãe que lhe pediu ajuda há 30 anos porque se sentia rejeitada por sua própria filha, a quem quis abortar. A mulher só recuperou a sua menina com oração e perdão. "Tão impactada ficou esta mãe por sua experiência que decidiu ajudar outras mulheres. Hoje exerce um benéfico ministério a favor de filhos ou filhas que poderiam ter sido abortados e não foram, como também pelas mães que os rejeitaram", afirmou.
Para o Arcebispo, uma de suas experiências mais arrepiantes com o aborto tem como protagonistas os médicos abortistas. Afirmou que só duas vezes em todo seu serviço pastoral, não pôde ajudar a um moribundo a morrer em paz: um idoso que participou da matança de haitianos durante o regime de Leonidas Trujillo e um médico abortista.
Este último, em alguns momentos de sua agonia "muito inquieto e agitado, dizia: ‘Não vêem todos essas crianças que estão a meu redor? Tirem-nos, que me incomodam!’ E estendia suas mãos para afastá-los. Outras vezes se expressava assim: ‘E você que faz aqui? Eu te abortei. Vai, vai que não quero te ver’".
"Em sua vida corrente (o médico) tinha brilhante como um homem tranqüilo, bom profissional e carinhoso com seus próprios filhos. Fui à casa e fui testemunha de uma cena parecida com a contada mais acima. Pouca coisa pude fazer. Era muito tarde. Já não recuperou a consciência", evocou.
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