ROMA, Sep 22, 2006 / 15:29 pm
O vaticanista italiano Sandro Magister publicou um artigo no qual apresenta algumas razões pelas quais o Santo Padre não pediu desculpas nem se retratou de seu discurso de 12 de setembro na Universidade de Ratisbona.
No artigo "por que Bento XVI não quis calar nem se retratar", o vaticanista sustenta que no Ângelus do domingo passado o Papa "não se desculpou de nada, não retratou uma só linha. A lição de Ratisbona não foi para ele um exercício acadêmico. Não deixou ali as vestimentas papais para falar a língua sofisticada do teólogo a um público conformado por especialistas. O Papa e o teólogo nele são um tudo para todos".
Magister afirma que "o retorno hoje à síntese da fé e a razão é o único caminho para que a interpretação islâmica do Corão se livre da paralisia fundamentalista e da obsessão da ‘jihad’. É o único terreno para um verdadeiro diálogo do mundo muçulmano com o cristianismo e Ocidente".
O vaticanista sustenta que, em seu discurso em Ratisbona, o Papa explicou a distância que existe entre o Deus cristão que é amor, imolado em Jesus sobre a cruz; e que é também ‘Logos’, razão; e o deus adorado pelo Islã, também transcendente e sublime" sobre quem, na segunda sura do Corão se diz que "não deve haver nenhuma constrição nas coisas da fé".
O vaticanista lembra que mais adiante, no próprio Corão aparece algo totalmente oposto a esta última afirmação: "E a violência que se levantou por parte do mundo muçulmano sobre o Papa e os cristãos não faz mais confirmar este último, que é o que dá forma e substância ao olhar que milhões de fiéis de Alá lançam sobre o mundo infiel (não muçulmano)", acrescenta.
Logo depois de repassar a história de anteriores Pontífices e suas respectivas relações com os estados, Magister comenta que "agora exigem de Bento XVI um silêncio ao enfrentar o novo adversário, o Islã: Silêncio ao que com freqüência recebe o nome de diálogo. O Papa Ratzinger não o respeitou? Agora temos a resposta do Islã ‘ofendido’: ameaças, incêndios de bustos, governos que pretendem que o Papa se retrate, embaixadores chamados a seus países de origem, Igrejas incendiadas e uma religiosa assassinada".
Do mesmo modo, ressalta que o Santo Padre quer tecer um diálogo com o Islã que não esteja composto por "temerosos silêncios e de abraços cerimoniosos" nem de "humilhações que no campo muçulmano são interpretados como atos de submissão". "A citação que fez em Ratisbona dos ‘Diálogos com um maometano’ escritos ao final do século XIV pelo imperador bizantino Manuel II Paleólogo, tinha sido escolhida com razão. Está-se em guerra, Constantinopla está sob ataque e desde 1453 cairia sob os turcos. O culto imperador cristão leva a seu interlocutor persa ao terreno da verdade, a razão, a lei, a violência, ao que marca a diferença entre a fé cristã e o Islã, às questões capitais das que descendem a guerra ou a paz entra as duas civilizações".
"Também os tempos atuais são vistos pelo Papa Ratzinger como fecundados de guerra, e de guerra Santa. Mas pede ao Islã fixar ele mesmo um limite a ‘jihad’. Propõe aos muçulmanos desligar a violência da fé, como estabelece o próprio Corão; e ligar assim a razão à fé, porque ‘atuar contra a razão vai contra a natureza de Deus’", anota.
Depois de explicar que a Secretaria de Estado Vaticano dispôs tudo para que os governos muçulmanos tenham o texto íntegro do discurso papal em Ratisbona; Magister afirma que "Bento XVI confia muito. Não teria se atrevido a tanto se não acreditasse em uma possibilidade real de que o pensamento islâmico se reabra uma interpretação do Corão que reúna fé, razão e liberdade. Mas muito fracos e estranhas, quase impossíveis de encontrar, são as vozes que no mundo muçulmano acolhem sua oferta de diálogo".
"E o Papa está muito sozinho em uma Europa perdida" e "está a violência que cai sobre os cristãos em terras islâmicas e fora delas, quando para calar o Papa assassinam os seus, quanto mais se forem inocentes, como uma religiosa, uma mulher", termina Magister, fazendo referência ao assassinato da irmã Leonella Sgorbati na Somália.
Para ler o artigo completo e outros relacionados (em inglês) acesse: http://www.chiesa.espressonline.it/dettaglio.jsp?id=85302&eng=y
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