MADRI, Sep 6, 2004 / 16:07 pm
A poucas horas da aprovação por parte da justiça holandesa de um protocolo que torna praticamente impossível acusar de assassinato aqueles médicos do Hospital Universitário de Groningen que pratiquem a eutanásia infantil, o jornal ABC de Madri revelou alguns aspectos obscuros da eutanásia.
Depois de mencionar o recente caso de um jovem enfermeiro que –conforme declarou ele mesmo- por “caridade” executou dezenas de pacientes cujos cadáveres continuam sendo retirados pela polícia em uma clínica da Baviera (Alemanha), o correspondente Ramiro Villapadierna assinala que há muitas histórias ainda encobertas em que “os autores se vêem como uma ajuda, uma mão branca salvadora: ‘Anjos da morte’ nos quais os investigadores vêem, cada vez mais, premeditação, traição, vício, sadismo, crime”.
Motivações ocultas
Em declarações ao Süddeutsche Zeitung, o diretor do Centro alemão de Criminologia, em Wiesbaden, Rudolf Egg, disse temer que “muitos mais pacientes” dos conhecidos sofram tal intervenção unilateral de um “salvador” e dificilmente possam ser descobertos.
Os investigadores federais –continua o ABC- citam entre as motivações encobertas da “captação de heranças” ou a pessoal, de corte aditivo, por ver morrer ou determinar a morte de alguém. Isso, “sem que medeie petição do paciente -que também seria delitivo- ou impulso caridoso algum”.
O articulista assinala a “aterradora confusão” que há entre a população e que “revela um escorregão pela pista de um desconhecimento brunido de tolerância”. “Postos a dispor da morte, bem poderia ser a da gente mesmo ou a de outro, talvez mais se este estivesse doente, fosse inútil ou inclusive pensasse diferente”.
O jornal lembra que nisto Alemanha “é algo que acontecia há apenas 60 anos, em meio de um auge cientifista que conseguiu relativizar como minúcias conceitos seculares sobre o patrimônio da vida. Assim, a pressão social chegou a forçar a desfazer-se, por patriotismo e economia ao Estado, de filhos com problemas, parentes impedidos ou elementos sociais indesejados”.
A compaixão do doutor Baumann
Outro caso é o do pai do “turismo funeral” na Suíça, o doutor Baumann, recentemente processado por sadismo encoberto pela Procuradoria de Basiléia.
Baumann, o psiquiatra mais popular da Suíça, atende em Zürich não àqueles que querem solucionar seus problemas e sim aos que desejam morrer.
“Como aquela mulher discreta, perto dos 60 anos, Heidi T., que em 2 de novembro de 2002 entrou na consulta numa cadeira de rodas e com o único desejo de sair num ataúde. Baumann não a decepcionou. Sua morte foi o mais indiscreto de sua vida inteira, pois foi gravada por uma televisão local enquanto introduzia sua cabeça em uma bolsa e se autoasfixiava com gás”, comenta o correspondente do ABC.
Em uma entrevista ao Neue Zürcher Zeitung (NZZ), Baumann –em atitude ingênua e transgressora- refere-se ao caso da idosa que sofria há muito tempo de paralisia lateral e uma forte depressão declarando que “sua morte foi muito bonita”.
Sobre Baumann começam a levantar-se suspeitas de que “seria um sádico mais que um transgressor; inclusive um assassino em série. E não meia coisa moral e sim meramente policial. O procurador geral de Basiléia tem aberto procedimento contra o psiquiatra mais conhecido da Suíça por ‘colaboração ao suicídio por motivações egoístas, em três casos’, incluindo ‘morte com premeditação’”.
Depois de revisar o material filmado, na Procuradoria de Basiléia, o delegado Melzl -destacado para o caso e há anos a sombra do doutor Baumann -, declarou lhe parecer “que o doutor não atua por compaixão como alega, mas sim como se tivesse um interesse. É claro que utiliza as mortes de outros para levantar e propagar suas próprias idéias sobre a assistência ao suicídio”.
“Os objetivos de este são tidos por extremistas inclusive por organizações de suicídios, como ‘Exit’ ou ‘Dignitas’: Baumann quer "eutanasiar" a todos que queiram, sem estágio terminal incurável algum. Assim também a alguém em um momento baixo ou depressivo, como a senhora Heidi T., a quem nem o próprio Estado consideraria juridicamente apta e proprietária de seus atos”, destaca o jornal.
Como ficou documentado em sua câmara, Em 2001 Baumann ajudou no suicídio de uma pessoa neurótica de 45 anos. “Durante minutos se debateu o homem no balão de gás hilariante, até tirar-lhe a vida. Terá que provar outra vez. Aquele homem nunca tinha recebido assistência psiquiátrica. A primeira que encontrou ‘não lhe ofereceu um tratamento e sim um meio acabar com a vida’. Agora Baumann já não recomenda aquele gás, e sim hélio”.
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