"Meu filho
não confia em mim. Disse-lhe que o pai é o melhor amigo, que me
diga o que acontecer, que não tenha medo, mas...não sei o que
fazer. Não tenho influência sobre ele. Você não sabe
o quanto me dói. O pai é o melhor amigo! Pura teoria!".
Por razões de exposição singularizamos, mas com diferença
de matizes, poderíamos dizer: os pais, pai e mãe. Hoje é
lembrado aos pais que devem conversar com seus filhos adolescentes lástima
é que, para muitos, o conselho chega demasiadamente tarde.
Muita gente acredita que vai conseguir manter o diálogo com seu filho
quanto este chegue à puberdade sem tê-lo iniciado anteriormente;
e, o que é mais grave, quando colocaram entre eles e seus filhos um muro
difícil de derrubar: os maus hábitos educativos dos pais como
os maus costumes permitidos aos filhos, não são fáceis
de superar.
A amizade só se dá em pares.
A amizade, no sentido estrito, não pode se dar entre pais e filhos. O
intercâmbio que a amizade implica só se pode alcançar entre
pares. O filho - criança, adolescente ou jovem - pode chegar a confiar
ao pai seus problemas e suas mais íntimas experiências, atitude
que não pode se dar ao inverso. O filho não pode compreender e
assimilar os problemas do pai. Pais e filhos não são pares. Ao
contrário, em um sentido amplo, tal amizade é possível:
o pai pode chegar a ser, se não o "melhor amigo", ao menos
um amigo.
A criança deve encontrar nele o primeiro amigo pois é seu confidente
natural. É a primeira pessoa no qual a criança confia, mas, por
que, na maioria dos casos, isso não acontece quando a criança
chega à puberdade, senão antes? Deveríamos acreditar, se
observarmos a realidade, que é uma dessas frases bonitas que se dizem
mas que na prática não se dão.
Podemos pensar que a oposição entre duas personalidades - uma
já feita, a outra em formação - , que a tensão entre
a autoridade e a liberdade, tornam impossível que o pai seja o confidente
natural de seu filho adolescente. Não acreditamos que seja impossível,
mas, como todos os problemas humanos, tampouco consideramos fácil.
Os pais policiais
Muitos pais adotam com seus filhos a atitude de um "policial", e isto
provoca que seus filhos o vejam como um "inimigo". Para esses filhos,
os pais só existem para vigiá-los, controlá-los, admoestá-los
e castigá-los. Supostamente -ainda que negativa - essa também
é a função paterna, mas não é a única
nem a mais importante. Os "pais policiais" se dirigem a seus filhos
com frases como estas: "Como se comportou no colégio? Por que ainda
não entregou o boletim? Deve está com notas ruins! Que notas!
Aprenda com seu irmão! Não roa as unhas! Que maneira de falar
é esta?! Onde você estava? Por que chegou tarde? Amanhã
não vai sair!
Compreendamos a atitude do filho
As únicas palavras que esses pais têm para seus filhos são
frases secas, cortantes e em certo modo agressivas: é compreensível
que o filho 'fuja" de seu pai e o olhe com ressentimento. Não deixará
de amá-lo, e o manifestará na primeira ocasião que se apresente,
mas não fará confidências; salvo que assim veja a forma
de evitar o castigo ou para pedido, em caso extremo, de solução
para algum problema que o sufoca.
Compreendamos a atitude do filho comparando-a, por analogia, com a de um empregado
com um chefe que sempre o está controlando, corrigindo e pondo em evidência
seus erros. Os sentimentos do empregado e do filho são semelhantes: ambos
"odeiam" ao chefe e pais "policiais", e é compreensível
que assim ocorra.
Os pais devem dialogar com seus filhos
Se os pais querem que seus filhos sejam seus amigos, devem falar com eles. Suas
conversas deve ser diálogos e não sermões ou conferências,
e devem girar em torno das inquietudes de seus filhos: jogos, diversões,
estudos, trabalhos, aspirações e problemas.
Não devem esperar que seus filhos iniciem o diálogo.
Respeitando a intimidade e personalidade nascente, eles devem dar o primeiro
passo. O pai deve se dirigir a seu filho não somente para perguntá-lo
se este cumpriu suas obrigações ou para criticá-lo, mas
também para estimulá-lo oportunamente, elogiá-lo com prudência,
inteirar-se espontaneamente por seus afazeres, valorizar suas idéias
e iniciativas, acompanhá-lo em suas emoções e problemas,
alegrar-se com suas alegrias e triunfos, consternar-se por suas tristezas e
fracassos, levantar seu ânimo quando o vê chateado pelas dificuldades,
corrigindo com tato quando o observa arrogante e altaneiro em seus êxitos,
confrontá-lo prudentemente com a realidade que ignora e compreendê-lo
em sua idade e temperamento. Viver e sentir com ele, e também vigiá-lo,
corrigi-lo, admoestá-lo e castigá-lo adequadamente quando for
necessário.
"Se quiser a amizade de seu filho, dê-lha primeiro"
A amizade não é um 'botim de guerra" nem a imposição
de um vencedor ou de autoridade alguma. A amizade não é uma concessão
gratuita, é um dom voluntário que deve ser ganho. Não é
tarefa fácil para um pai ganhar a amizade de seu filho, mas se realmente
o ama e aponta ao ideal de pai, é possível que a conquiste. O
pai que queira conseguir a amizade de seu filho, o melhor que um homem pode
brindar a outro, deve brindá-la primeiro.
Tratando-o como a um amigo talvez consiga que seu filho não tenha medo,
confie e o veja como um amigo.
Tirado de "Nova Cristandade"