Lic. Eduardo
R. Cattaneo
Os pais devem ensinar e os filhos aprender, isto que é proclamado como
uma verdade absoluta, costuma ser muito pouco certo na realidade já que
é, ao menos, uma visão parcial dela.
Com freqüência abordamos este tema em nossas páginas - ou
deveria dizer em nossos bytes? - diversos temas sobre nossas obrigações
como pais, da educação de nossos filhos, o que devemos ensiná-los,
etc. lembro que em uma oportunidade publicamos um par de notas sobre os direitos
dos pais, ou o que os pais têm o direito de exigir de seus filhos, mas
falamos muito pouco do que nós aprendemos ou deveríamos aprender
com nossos filhos.
A pouco de podermos refletir profunda e sinceramente sobre este tema, cairemos
na conta de que, a diferença do que se acredita na habitualmente, nossos
filhos nos ensinam mais do que nós a eles. Isto não deixa de chamar
minha atenção já que nós, os pais, quase sempre
preocupados e ocupados com nossos filhos, temos a intenção explícita
de educar a nossos filhos e, ao menos em aparência, nossos filhos contribuem
na educação de seus pais sem propor-se de maneira alguma. É
que eles são naturalmente educadores de seus pais, não estão
tão influenciados pelos critérios artificiais que nos costumam
ser impostos pelos meios de comunicação, os planos oficiais de
educação, a opinião de profissionais da educação
com suas novas teorias pedagógicas, e todos estes meios de informação
que transmitem, aos pais mais que aos filhos, uma idéia de educação
familiar viciada de artificialidade.
Como não quisesse ser mais um desses que se dedicam a difundir uma educação
artificial, de plástico, muito ligth, e demasiadamente soft, espero que
saibam desculpar que o que digo a seguir seja desde uma óptica muito
particular e pessoal, embora em lugar de pessoal deveria dizer familiar, já
que o que escrevo a seguir não aconteceu somente comigo mas em nossa
família.
O que nossos filhos nos tem ensinado
Minha esposa Viviana e eu nos casamos há menos de 10 anos, pretendendo
que haver conformado uma família, mas esta não começou
a se concretizar até que, um ano depois, nasceu Juan Manuel que contra
toda previsão pôde nascer por normal já que tinha 4 circulares
de cordão. Desde esse momento Juan Manuel nos ensinou a aceitar que nem
sempre as coisas saem como se planeja ou deseja. Nós tínhamos
planejado estar juntos no momento do parto, mas os médicos não
quiseram que eu estivesse presente já que se tratava de uma cesárea.
Aos dois anos deste feliz nascimento, Deus nos deu a Mercedes que hoje tem seis
anos e graças a um bom médico pôde nascer por parto normal,
contra todas as opiniões que indicavam que se o primeiro tinha nascido
por cesárea todos os outros também deveriam nascer da mesma maneira.
Então nossa menina nos ensinou que devemos crer e esperar quando tudo
parece indicar que as coisas não vão sair como desejamos, nos
ensinou que devemos ter uma visão otimista da vida.
Imaginarão os leitores que, se minha memória ajudasse, poderíamos
tirar um ensinamento de cada um dos atos de nossos quatro filhos, mas como não
quero aborrecê-los com assuntos pessoais vou fazer um resumo.
Nos piores momentos, quando um deles contraiu uma doença que colocou
em risco sua vida, contamos com seu sorriso que tornou-se um apoio para suportar
as dificuldades. Quando faleceu o avô, eles não choravam porque
tinham uma segurança invejável sobre a felicidade que teria o
avô ao estar gozando de uma vida melhor que esta. Nos ensinaram então
que a dor é parte natural da vida e que deve ser assumida para nos engrandecer.
Mas o fato de ser quatro crianças, Viviana e eu tivemos que dividir muitas
tarefas, tanto no trabalho externo que nos provê o sustento, como no trabalho
dentro de cada que nos organiza a vida familiar. As crianças também,
na medida das possibilidades, colaboram com o trabalho familiar: os mais grandes,
antes de comer, lavam as mãos de Facundo que ainda não completou
dois anos; são eles os que ensinam a José Ignácio, de quatro
anos, a higienizar seus dentes antes de dormir e a fazer a cama ao se levantar.
Nossos filhos melhoraram notavelmente nossa capacidade de trabalhar em equipe.
Quando chegamos em casa, cansados por tanto trabalho e esgotados pela luta cotidiana,
suas vozes e seus sorrisos nos ensinam que há que deixar os problemas
do trabalho fora de casa, e quando não se pode, há que compartilhá-los
para torná-los mais suportáveis
Também eles têm seus aspectos negativos, suas brigas, seus maus
comportamentos, que exigem de nós o máximo de nossa paciência
para agüentar seus assuntos, a responsabilidade com os outros quando quebram
a janela do vizinho com a bola, e a perseverança necessária para
conseguir forjar neles os bons hábitos. Portanto eles nos treinam em
virtudes tais como a paciência, a responsabilidade e a perseverança.
Eles não suportam as injustiças, mesmo que se entendem que nem
todos têm os mesmos direitos (já que não têm as mesmas
necessidades e obrigações), de maneira que os mais grandes sabem
que devem lavar-se por si mesmos enquanto que o menor requer nossa atenção
para tais menesteres, e sabem também que nenhum deles por menor que seja
tem a exclusividade sobre aqueles bombons que a mamãe havia guardado
para partilhar em outro momento. Eles nos exigem justiça, e a distinguem
do igualitarismo raso. Também nos ensinam destas coisas que muitos homens
de governo parecem desconhecer.
Poderíamos escrever muitas páginas mais sobre este assunto, mas
cremos que o assunto está compreendido e esta nota estava destinada a
ser mais curta do que é. Só resta para o final dizer que eles
nos pedem que sejamos um exemplo para sua realização, como disse
uma vez uma leitora de EVPP: "as crianças não escutam o que
lhes dizemos, mas o que nos vêem".