1. "Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para O apresentarem ao Senhor" (Lc 2, 22). O Menino Jesus entra no Templo de Jerusalém nos braços da Virgem Mãe.
"Nascido de mulher, nascido sujeito à Lei" (Gl 4, 4), Ele segue o destino de cada primogénito varão do seu povo: segundo a Lei do Senhor, deve ser "resgatado" com um sacrifício, quarenta dias depois do nascimento (cf. Êx 13, 2.12; Lv 12, 1-8).
Aquele recém-nascido, aparentemente em tudo semelhante aos outros, não passa despercebido: o Espírito Santo abre os olhos da fé ao velho Simeão, que se aproxima e, tomando o Menino nos braços, reconhece nele o Messias e louva a Deus (cf. Lc 2, 25-32). Este Menino profetiza ele será luz das gentes e glória de Israel (cf. ibid., v. 32), mas também "sinal de contradição" (Ibid., v. 34) porque, segundo as Escrituras, realizará o juízo de Deus. E à Mãe admirada, o piedoso ancião prediz que isto acontecerá através de um sofrimento, em que também Ela há-de participar (cf. ibid., v. 35).
2. Quarenta dias depois do Natal, a Igreja celebra este sugestivo mistério gozoso que, de certa forma, antecipa o sofrimento da Sexta-Feira Santa e a alegria da Páscoa. A tradição oriental denomina esta solenidade como a "festa do encontro" porque, no espaço sagrado do Templo de Jerusalém, tem lugar o abraço entre a bondade de Deus e a expectativa do povo eleito.
E tudo isto adquire significado e valor escatológico em Cristo: Ele é o Esposo que vem cumprir a aliança nupcial com Israel. Muitas pessoas são chamadas, mas quantas estão efectivamente prontas a recebê-lo, com a mente e o coração vigilantes (cf. Mt 22, 14)? Na liturgia do dia de hoje contemplamos Maria, modelo daqueles que esperam e abrem com docilidade o coração para o encontro com o Senhor.
3. Nesta perspectiva, a festividade da Apresentação de Jesus no Templo revela-se particularmente adequada para acolher o louvor reconhecido das pessoas consagradas e, com razão, é desde há alguns anos, que se celebra precisamente nesta data a "Jornada Mundial da Vida Consagrada". A imagem de Maria que, no Templo, oferece a Deus o Filho, fala com eloquência ao coração dos homens e das mulheres que fizeram total oblação de si mesmos ao Senhor, mediante os votos de pobreza, castidade e obediência pelo Reino dos Céus.
O tema da oferenda espiritual mistura-se com o tema da luz, intoduzido pelas palavras de Simeão. Assim, a Virgem manifesta-se como um candelabro que apresenta Jesus, "Luz do mundo". Juntamente com Maria, milhares de religiosos, religiosas e leigos consagrados estão reunidos no dia de hoje, no mundo inteiro, para renovar a sua consagração, tendo nas mãos os círios acesos, expressão da sua ardente existência de fé e de amor.
4. Também aqui, na Basílica de São Pedro, se eleva nesta tarde uma solene acção de graças a Deus pelo dom da vida consagrada, tanto na Diocese de Roma como na Igreja universal. Saúdo com profunda cordialidade o Senhor Cardeal Eduardo Martínez Somalo, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, assim como os seus colaboradores. Saúdo-vos com afecto também a todos vós, Irmãos e Irmãs, religiosos, religiosas e leigos consagrados! Com a vossa numerosa, devota e alegre esperança, vós assumis nesta assembleia litúrgica o rosto da Igreja-Esposa que, como Maria, está totalmente orientada para a plena conformação com a Palavra divina.
Do alto dos seus nichos, ao longo das paredes desta Basílica, os Fundadores e as Fundadoras de muitos dos vossos Institutos velam sobre vós. Eles recordam o mistério da comunhão dos Santos, em virtude da qual, na Igreja peregrina, se renova de geração em geração a escolha de seguir Cristo com uma especial consagração, segundo os múltiplos carismas suscitados pelo Espírito. Ao mesmo tempo, estas veneráveis figuras convidam-nos a dirigir o olhar para a Pátria celestial onde, na assembleia dos Santos, muitas almas consagradas louvam em plena bem-aventurança o Deus Uno e Trino a quem, na terra, amaram e serviram com o coração livre e indivisível.
5. Pobreza, castidade e obediência são as características distintivas do homem redimido, interiormente resgatado da escravidão do egoísmo. Livres para amar, livres para servir: assim são os homens e as mulheres que renunciam a si mesmos pelo Reino dos Céus. Seguindo Cristo, crucificado e ressuscitado, eles vivem esta liberdade como solidariedade, assumindo os pesos espirituais e materiais dos seus irmãos.
Trata-se do multiforme "servitium caritatis", que se exerce no claustro e nos hospitais, nas paróquias e nas escolas, no meio dos pobres e dos migrantes, e também nos novos areópagos da missão. De numerosas formas, a vida consagrada é epifania do amor de Deus no mundo (cf. Exortação Apostólica Vita consecrata, cap. III).
Com a alma reconhecida, no dia de hoje damos graças a Deus por cada um deles. Por intercessão da Virgem Maria, o Senhor enriqueça cada vez mais a sua Igreja com este grandioso dom. Para o louvor e a glória do seu amor, e para a difusão do seu Reino. Amen!
1 de fevereiro de 2003