Lemos nos atos dos apóstolos três relatos da conversão de São Paulo. (ix, 1-19; xxii, 3-21; xxvi, 9-23) que apresentam ligeiras diferenças que não são difíceis de harmonizar e que não afetam nada a base do relato, perfeitamente idêntica em substância. Verse J. Massie, "The Conversion of St. Paul" em "The Expositor", 3ª série, X, 1889, 241-62. Sabatier de acordo com os críticos mais independentes disse (L'Apotre Paul, 1896, 42): "Estas diferenças não podem em absoluto alterar o fato, o objeto narrado é extremamente remoto não tratam nem sequer das circunstâncias que rodearam o milagre mas sim com as impressões subjetivas que os compañeros de São Paulo receberam nessas circunstâncias " Utilizar essas diferenças para negar o caráter histórico do fato é fazer violência ao texto adotando uma atitude arbitrária. Todos os esforços feitos para explicar a conversão de São Paulo sem recorrer ao milagre fracassaram. As explicações naturalísticas se reduzem a duas: ou São Paulo creu verdaderamente ver a Cristo enquanto sofria uma alucinação ou creu vê-lo somente através de uma visão espiritual que a tradição, recolhida nos Atos dos Apóstolos, converteu logo em visão material. Renan explica tudo por uma alucinação devida à doença, e causada por uma combinação de causas morais como a dúvida, o remorso, o temor, e algumas causas físicas como a oftalmía, a fadiga, a febre, a transição rápida do deserto tórrido para os jardins frescos de Damasco, quem sabe em meio a uma tormenta repentina acompanhada de raios e relâmpagos. Esta combinação múltipla teria produzido, segundo Renan, uma comoção cerebral com fase de delírio que São Paulo tomou de boa fé como aparição de Cristo.
Os outros partidários da explicação natural evitam a palavra alucinação mas caem, cedo ou tarde, na explicação de Renan a qual fazem mais complicada. Por exemplo Holsten, para o qual a visão de Cristo é simplesmente a conclusão de uma série de silogismos pelos quais Paulo se persuadiu a si mesmo de que Cristo havia verdadeiramente ressuscitado. Também Pfleiderer, para quem a imaginação desempenha um papel mais importante: "Um temperamento nervoso, alterável; uma alma violentamente agitada pelas mais terríveis dúvidas; uma fantasia do mais vívido, cheia das terribles cenas de perseguição por um lado, e por otro com a imagem ideal do Cristo celeste; a proximidade de Damasco que implicava a urgência da decisão, a intransigência que leva à solidão, o calor cegante e dolorosíssimo do deserto. De fato, tudo isso combinado, produziu um estado de êxtase no qual a alma pensa ver as imagens e os conceitos que violentamente a agitam como se fossem fenômenos do mundo externo" (Lectures on the influence of the Apostle Paul on the development of Christianity, 1897, 43). Citamos Pfleiderer palavra por palavra porque sua explicação "psicológica" se considera a melhor que já se desenvolveu E no entanto, se vê fácilmente que é insuficiente e inclusive totalmente contraditória com o o documento escrito dos Atos como com o próprio testemunho expresso de São Paulo. (1) Paulo está seguro de ter "visto" a Cristo como o fizeram outros apóstolos (I Cor., xi,1); ele mesmo declara que Cristo lhe "apareceu" (I Cor., xv, 8) como a Pedro, Tiago ou aos doze depois da sua ressurreição. (2) Ele sabe bem que sua conversão não é fruto de nenhum raciocínio humano, mas de uma mudança imprevista, repentina e radical devido à graça onipotente (Gal., i, 12-15; I Cor., xv, 10). (3) É falso atribuir dúvidas, perplexidades ou remordimentos antes de sua conversão. Paulo foi detido por Cristo quando sua fúria alcanzava o mais alto estágio (Atos, ix, 1-2); perseguia à Igreja "com ciúme" (Fil., iii, 6), e foi merecedor da graça porque atuou com "ignorância em sua crença de boa fé" (I Tim., i, 13). Todas as explicações sociológicas ou não, carecem de valor ante estas afirmações, já que todos supõem que a causa de sua conversão foi sua fé em Cristo enquanto que, segundo os testemunhos concordantes dos Atos e das Epístolas, foi a visão de Cristo o que motivou a sua fé.
Depois da sua conversão, batismo e de sua cura milagrosa Paulo começou a predicar aos judeus (Atos, ix, 19-20). Depois se retirou a Arábia, provavelmente à região sul de Damasco. (Ga, i, 17), induvidavelmente mais para meditar as escrituras que para predicar. Em seu retorno a Damasco, as intrigas dos judeus o obrigaram a fugir de noite (II Cor., xi, 32-33; Atos, ix, 23-25). Foi a Jersusalém a ver a Pedro (Ga, 1, 18), mas ficou somente quinze dias porque as ciladas dos gregos ameaçavam a sua vida. A continuação passou a Tarso e lá fica cego por seus anos (Atos, ix, 29-30; Ga, i, 21). Barnabé foi em sua busca e o trouxe a Antioquia donde trabalharam juntos durante um ano com um apostolado frutífero. (Atos, xi, 25-26). Também juntos foram enviados a Jerusalém a levar as esmolas para os irmãos de lá com ocasião do período de fome antecipada por Agabo (Atos, xi, 27-30). Não parecen ter encontrado aos apóstolos aí desta vez, já que se encontravam dispersos por causa da perseguição de Herodes.