Este período de doze anos (45 - 57) foi o mais frutífero e ativo da sua vida. Compreende três expedições apostólicas das quais Antioquia foi sempre o ponto de partida e que, invariavelmente, terminaram com uma visita a Jerusalém.
(1)Primeira missão (Atos dos apóstolos, xiii, 1-xiv, 27)
Enviado pelo Espírito Santo para a evangelização dos gentios, Barnabé e Saulo embarcaram com destino a Chipre, predicaram na sinagoga de Salamina, cruzaram a ilha de leste a oeste seguindo sem dúvida a costa sul e chegaram a Pafos, residência do pró-cônsul Sérgio Paulo onde uma mudança repentina ocorreu. Depois da conversão do pró-cônsul romano, Saulo, repentinamente convertido em Paulo, é citado por São Lucas antes de Barnabé e assume notávelmente a liderança da missão que até então vinha sendo exercida por Barnabé.
Os resultados desta mudança são rápidos e evidentes. Paulo compreende que al depender Chipre da Síria e Silícia, a ilha inteira seria convertida quando as duas províncias romanas abraçassem a fé de Cristo. Escolheu então a Ásia Menor como campo de seu apostolado e embarcou em Perge de Panfília, onze kilômetros acima do porto de Cestro. Foi quando João Marcos, primo de Barnabé, desanimado talvez pelos ambiciosos projetos do apóstolo, abandonou a expedição e voltou à Jerusalém, enquanto Paulo e Barnabé trabalhavam sozinhos entre as árduas montanhas de Psídia, infestadas de bandidos e atravessaram profundos precipícios. Seu destino era a colônia romana de Antioquia, situada a sete dias de viagem de Perge. Aqui, Paulo falou sobre o destino divino de Israel e do envio providencial do Messias, um discursso que São Lucas reproduz em substância como exemplo de uma predicação na sinagoga. (Atos, xiii, 16-41). A estância dos dois missionários en Antioquia foi longa o bastante para que a palavra do Senhor fosse conhecida através de todo país. (Atos, xiii, 49). Quando os judeus conseguiram com suas intrigas um decreto de desterro, prosseguiram rumo a Icônio, distante três ou quatro dias de viagem, onde encontraram a mesma perseguição de parte dos judeus e a mesma acolhida de parte dos gentios. A hostilidade dos judeus os forçou a buscar refúgio na colônia romana de Listra, há aproximadamente 25 kilômetros de distância.
Aqui os judeus armaram ciladas para Paulo e, após apedrejá-lo o deixaram como morto, enquanto ele conseguia uma vez mais escapar buscando desta vez refúgio em Derbe, situada por volta de 60 kilômetros da província da Galácia. Depois de completar seu circuito, os missionários voltaram sobre seus passos para visitar aos novos cristianos, ordenaram alguns sacerdotes em cada uma das Igrejas fundadas por eles e depois voltaram à Perge, onde se detiveram a predicar novamente o Evangelho, enquanto esperavam embarcar a Atalia, um porto a dezoito kilômetros de lá. Ao regressar à Antioquia de Síria, depois de uma ausência que durou três anos, foram recebidos com mostras de gozo e ação de graças porque Deus lhes havia aberto as portas da fé ao mundo dos gentios.
O problema do estatuto dos gentios na Igreja começou a sentir-se então em toda sua magnitude. Alguns cristãos de origem judia que vinham de Jerusalém reclamaram que os gentios deveriam ser submetidos à circuncisão e tratados como os judeus tratavam aos prosélitos. Contra esta opinião, Paulo e Barnabé protestaram e se decidiu convocar uma reunião em Jerusalém para resolver o assunto. Nesta assembléia, Paulo e Barnabé representaram a comunidade de Antioquia. Pedro defendeu a liberdade dos gentios, Santiago insistiu no contrário, pedindo ao mesmo tempo que se abstivessem de algumas das coisas que mais horrorizavam aos judeus.
Ao fim se decidiu que os gentios estavam isentos da lei de Moisés primeiramente. Em segundo lugar, que os cristãos da Síria e Silícia deveriam abster-se de tudo que fosse sacrificado aos ídolos, do sangue, dos animais e da fornicação. Em terceiro lugar, que sua decisão não era promulgada em virtude da Lei de Moisés mas dada em nome do Espírito Santo, o que signidicava o triunfo das idéias de São Paulo. A restrição imposta aos gentios convertidos procedentes da Síria e da Silícia não se aplicava às suas Igrejas e Tito, seu companheiro, não foi apremiado a circuncisar-se, apesar dos protestos dos judaizantes (Ga, ii, 3-4). Aqui se assume que Ga 2 e At 15, relata o mesmo fato posto que, de um lado, os protagonistas são os mesmos Paulo e Barnabé, e por outro Pedro e Tiago; a discussão é a mesma, a questão da circuncisão dos gentios; a cena idêntica à de Antioquia e Jerusalém, e a mesma data: por volta do ano 50 d.C.; e apenas um só resultado: a vitória de Paulo sobre os judaizantes.
Entretanto a decisão não saiu adiante sem dificuldades. O assunto não dizia respeito somente aos gentios e, enquanto que estes eram exonerados da Lei de Moisés, se declarava que ao mesmo tempo sería mais meritório e mais perfeito que eles a observassem, dado que o decreto parece ter comprazido aos judeus prosélitos de segunda geração. Além disto os cristãos de origem judia, não haviam sido incluídos no veredito, podiam seguir sendo considerados como ligados devido à observância da lei.
Esta foi a origem da disputa que surgiu imediatamente depois em Antioquia entre Pedro e Paulo. Este último esinou abertamente que a lei tinha sido abolida para os próprios judeus. Pedro não pensava de outro modo, porém considerou oportuno evitar a ofensa aos judaizantes e assim impedí-los que comessem com os gentios que não observassem a as cláusulas da lei. Assim, influenciou moralmente aos gentios a viver como viviam os judeus, Paulo fez ver que esta restrição mental e este oportunismo preparavam o caminho de futuros mal-entendidos e conflitos , e que, inclusive, tinha então, e tería nefastas conseqüências. Sua forma de relatar estes incidentes não deixa a menor dúvida de que Pedro foi persuadido por seus argumentos. (Ga, ii, 11-20).
(2) Segunda missão (Atos, xv, 36-xviii, 22)
O princípio da segunda missão se caracterizou por uma discussão a propósito de Marcos, que Paulo rechaçou como compaheiro de viagem. Assim pois, Barnabé partiu com Marcos de Chipre e Paulo escolheu a Silas ou Silvano, un cidadão romano como ele e membro influente da Igreja de Jerusalém, e partiu para Antioquia a fim de levar o decreto do conselho apostólico. Os dois missionários foram primerio de Antioquia a Tarso, com um alto no caminho para promulgar o decreto do primeiro Concílio de Jerusalém, e logo foram de Tarso a Derbe através das portas da Silícia, dos desfiladeiros de Tarso e das planícies de Licaônia.
A visita às igrejas fundadas na primeira missão se realizou sem incidentes se não é a propósito da eleição de Timóteo, que os apóstolos em Listra persuadiram para que se circunsisassem para melhor chegar às colônias de judeus, abundantes nesta área. Foi provavelmente em Antioquia de Psídia, por mais que os Atos não mencionem tal lugar, onde o itinerário da missão foi mudado pela intervenção do Espíritu Santo. Paulo pensou em entrar na província da Ásia pelo vale de Meandro, o qual permitiria un só dia de viagem, e no entanto, passaram através da Frígia e da Galácia pois o Espíritu lhes proibiu a predicar a palavra de Deus na Ásia (Atos, xvi, 6). Estas palavras (ten phrygian kai Galatiken choran) podem ser interpretadas de diversas maneiras, dependendo se faz referência aos Gálatas do norte ou do sul (veja GÁLATAS).
Seja como for, os missionários tiveram que viajar até o norte na região da Galácia chamada assim em propriedade e cuja capital era Pesinonte, e a única questão pendente era se predicavam aí ou não. Não pensavam em fazê-lo embora saibamos que a evangelização dos Gálatas foi devida a um acidente, o da doença de São Paulo (Ga, iv, 13); o que encaixa muito bem se nos referimos aos gálatas do norte. Em todo caso, os missionários depois de alcançar a Misia Superior (kata Mysian), tentaram chegar à rica província de Bitinia, que se extendia diante deles mas o Espíritu Santo os impediu (Atos, xvi, 7). Assim atravessaram Misia sem parar para predicar (parelthontes) e chegaram à Alexandria de Trôade, onde a vontade de Deus lhes foi revelada pela visão de um macedônio que os chamava pedindo auxílio para seu país.
Paulo continuou a utilizar sobre solo europeu os métodos de predicação que tinha utilizado desde o princípio. Até onde foi possível concentrou seus esforços em metrópoles desde as quais a fé se extenderia até cidades de menos destaque e, finalmente às áreas rurais. Onde encontrava uma sinagoga, começava a predicar nela aos judeus e aos prosélitos que estavam dispostos a escutá-lo. Quando a ruptura com os judeus era irreparável, o que ocorreria más cedo ou mais tarde, fundava uma nova igreja com seus neófitos como núcleo. Permanecia então na mesma cidade a não ser que uma perseguição se desatasse, normalmente por causa das intrigas dos judeus. Existiam, entretanto, algumas variantes do plano. Em Filipo, onde não havia sinagoga, a primeira prédica ocorreu em um posto chamado proseuche o que fez com que os gentios tomassem o fato como motivo de perseguição. Paulo e Silas, acusados de alterar a ordem pública, receberam golpes de paus, foram jogados em uma prisão e logo exilados. Porém em Tessalônica, e Beréia, onde se refugiaram depois de estar em Filipo, as coisas saíram conforme o plano previsto. O apostolado de Atenas foi absolutamente excepcional. Aqui não havia o problema dos judeus ou da sinagoga, e Paulo, em contra do seu costume, estava só. (I Thes., iii, 1).
Pronunciou um discurso diante do areópago
do qual se conserva um resumo nos Atos dos Apóstolos (xvii, 23-31)
como modelo em seu gênero. Parece ter deixado a cidade de grado,
sem ter sido forçado por causa de uma perseguição.
A missão de Corinto, por outro lado, pode ser considerada como
típica. Paulo predicou na sinagoga todos os sábados e
quando a oposição violenta dos judeus atentaram contra
ele em vão; foi capaz de resistir graças à atitude,
pelo menos imparcial, do pró-cônsul Galio.
Finalmente, decidiu ir-se a Jerusalém de acordo com um voto feito
talvez em um momento de perigo. Desde Jerusalém, de acordo com
seu costume, voltou à Antioquia. As duas epístolas aos
tessalonicenses se escreveram durantre os primeiros meses da estadia
em Corinto. Veja TESSALONICENSES.
(3) TERCEIRA missão (Atos, xviii, 23-xxi,26)
O destino da teceira viagem de Paulo foi evidentemente Éfeso, onde Aquila e Priscila o esperavam. Ele tinha prometido aos efésios voltar para evangelizá-los si tal fosse a vontade de Deus (Atos, xviii, 19-21) e o Espírito Santo não se opôs mais à sua entrada em Ásia. Assim, depois de uma breve visita a Antioquia foi-se através da Galácia e da Frígia (Atos, xviii, 23) e passando através das regiões da "Ásia Central" chegou à Éfeso (XIX, 1). Sua maneira de proceder permaneceu intacta. Para pover seu sustento e não ser uma carga para os fiéis, teceu todos os dias durante muitas horas muitas tendas, o que não o impediu de predicar o Evangelho. Como de costume, começou na sinagoga onde teve êxito durante os primeiros meses. Depois ensinou diariamente em uma sala colocada à sua disposição por um tal Tirano "desde a hora quinta até a décima" (das onze da manhã às quatro da tarde) de acordo com a tradição interessante do "Codex Bezaar"(Atos, xix, 9). Assim viveu dois anos de tal forma que os habitantes da Ásia, judeus e gregos, ouviram a palavra de Deus. (Atos, XIX, 20).
Claro que houveram provações e obstáculos que superar. Alguns destes obstáculos surgiram da inveja dos judeus, que tentaram inútilmente imitar os exorcismos de Paulo, outros vinham da superstição dos pagãos, particularmente acentuada em Éfeso. Entretanto, triunfou de modo tão claro que os livros de superstição que foram queimados tinham o valor de 50.000 moedas de prata (uma moeda correspondia aproximadamente a um dia de trabalho). Desta vez, a perseguição foi devida aos gentios e por motivos interessados. Os progressos do cristianismo arruinaram a venda das pequenas reproduções do templo de Diana e as da própria deusa, estatuetas muito compradas pelos peregrinos, e um certo Demétrio, a frente dos artesãos, incitou a plebe en contra de São Paulo. São Lucas descreveu com realismo e emoção a cena, levada em seguida ao teatro. (Atos, xix, 23-40). O apóstolo teve que render-se à tormenta. Depois de uma estância de dois anos e meio, ou talvez mais, em Éfeso (Atos, xx, 31: treitian), partiu para a Macedônia e de lá para Corinto, onde passou o inverno. Sua intenção era de seguir rumo à Jerusalém na primavera, sem dúvida para passar a Páscoa, mas ao saber que os judeus haviam planejado atentar contra sua vida, não lhes deu oportunidade de concretizá-lo por viajar por mar, regressando à Macedônia. Muitos discípulos, divididos em dois grupos, o acompanharam ou o esperaram em Trôade. Entre outros se encontravam Soprater de Beréia, Aristarco e Segundo de Tessalônica, Gayo de Derbe, Timóteo, Tíquico e Trófimo de Ásia e finalmente Lucas, o historiador dos Atos, nos da todos os detalhes da viagem: Filipo, Trôade, Assos, Mitiline, Jíos, Samos, Mileto, Cos, Rodas, Pátara, Tiro, Ptolemaida, Cesaréia e Jerusalém. Poderíamos citar ainda três fatos notáveis: em Trôade Pablo ressuscitou ao jovem Êutico que havia caído da janela de um terceiro piso enquanto Paulo predicava sendo a noite já avançada. Em Mileto pronunciou um discurso emotivo que arrancou as lágrimas aos anciãos de Éfeso. (Atos, xx, 18-38). Em Cesaréia o Espírito Santo antecipa pela boca de Agabo que seria preso, fato que não o fez desistir de ir a Jerusalém.
Quatro das maiores epístolas de São Paulo foram escritas durante esta terceira missão: a primeira aos Coríntios desde Éfeso, por volt da Páscoa antes de sua saída da cidade; a segunda aos coríntios desde Macedônia durante o verão ou outono do mesmo ano; aos romanos desde Corinto na primavera seguinte; a data da epístola aos gálatas é objeto de controvérsia. Das muitas questões a propósito da ocasião ou da linguagem das cartas ou da situação dos destinatários das mesmas, veja CORÍNTIOS, EPÍSTOLA AOS; GÁLATAS, ESPÍSTOLA AOS; ROMANOS, EPÍSTOLA AOS.