Queridos amigos!
Encontramo-nos esta tarde, nas proximidades da XXII Jornada Mundial da Juventude, que tem por tema, como sabeis, o mandamento novo que nos foi deixado por Jesus na noite em que foi traído: "Assim como Eu vos amei, vós também vos deveis amar uns aos outros" (Jo 13, 34).
Saúdo cordialmente todos vós que viestes das várias paróquias de Roma. Saúdo o Cardeal Vigário, os Bispos Auxiliares, os sacerdotes presentes, dirigindo um pensamento especial aos confessores que daqui a pouco estarão à vossa disposição. O encontro de hoje, como já antecipou a vossa porta-voz, à qual agradeço as palavras que me dirigiu em vosso nome no início da celebração, assume um profundo e alto significado. De facto, é um encontro à volta da Cruz, uma celebração da misericórdia de Deus que cada um de vós poderá experimentar no Sacramento da confissão.
No coração de cada homem, mendigo de amor, há sede de amor. O meu amado Predecessor, o Servo de Deus João Paulo II, escreveu já na sua primeira Encíclica Redemptor hominis: "O homem não pode viver sem amor. Ele permanece por si próprio um ser incompreensível, a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se não o experimenta e não o faz próprio, se não participa dele plenamente" (n. 10). Ainda mais, o cristão não pode viver sem amor. Aliás, se não encontra o amor verdadeiro nem sequer se pode considerar plenamente cristão, porque, como revelei na Encíclica Deus caritas est, "no início do ser cristão não está uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e com isso a orientação decisiva" (n. 1). O amor de Deus por nós, que iniciou com a criação, fez-se visível no mistério da Cruz, naquela kenose de Deus, naquele esvaziamento e humilhante abaixamento do Filho de Deus que ouvimos proclamar pelo apóstolo Paulo na primeira Leitura, no magnífico hino a Cristo da Carta aos Filipenses. Sim, a Cruz revela a plenitude do amor de Deus por nós. Um amor crucificado, que não se detém no escândalo da Sexta-Feira Santa, mas culmina na alegria da Ressurreição e Ascensão ao céu e no dom do Espírito Santo, Espírito do amor por meio do qual, também esta tarde, serão perdoados os pecados e concedidos o perdão e a paz.
O amor de Deus pelo homem, que se expressa em plenitude na Cruz, é descritível com a palavra agape, ou seja, "amor oblativo que procura exclusivamente o bem do próximo", mas também com a palavra eros. De facto, enquanto é amor que oferece ao homem tudo o que Deus é, como fiz notar na Mensagem para esta Quaresma, é também um amor no qual o "próprio coração de Deus, o Omnipotente, aguarda o "sim" das suas criaturas como um jovem esposo o da sua esposa".
Infelizmente "desde as suas origens a humanidade, seduzida pelas mentiras do Maligno, fechou-se ao amor de Deus, na ilusão de uma impossível auto-suficiência (cf. Gn 3, 1-7)" (Ibid.). Mas no sacrifício da Cruz Deus continua a repropor o seu amor, a sua paixão pelo homem, aquela força que, como se expressa o Pseudo-Dionísio, "não permite que o amante permaneça em si mesmo, mas estimula-o a unir-se ao amado" (De divinis nominibus, IV, 13; PG 3, 712), chegando a "mendigar" o amor da sua criatura. Esta tarde, ao aproximar-vos do Sacramento da confissão, podereis fazer a experiência do "dom gratuito que Deus nos faz da sua vida, infundida na nossa alma pelo Espírito Santo para a curar do pecado e a santificar" (CIC, 1999) a fim de que, unidos a Cristo, nos tornemos novas criaturas (cf. 2 Cor 5, 17-18).
Queridos jovens da Diocese de Roma, com o Baptismo vós já nascestes para a vida nova em virtude da graça de Deus. Mas, dado que esta vida nova não suprimiu a debilidade da natureza humana, nem a inclinação para o pecado, é-nos dada a oportunidade de nos aproximar-mos do Sacramento da confissão. Todas as vezes que o fizerdes com fé e devoção, o amor e a misericórdia de Deus movem o vosso coração, depois de um atento exame de consciência, para o ministro de Cristo. A ele, e assim ao próprio Cristo, exprimis a dor pelos pecados cometidos, com o firme propósito de não voltar a pecar no futuro e com a disponibilidade para aceitar com alegria os actos de penitência que ele vos indica para reparar o dano causado pelo pecado. Experimentar assim o "perdão dos pecados; a reconciliação com a Igreja, a recuperação, se foi perdida, do estado de graça; a remissão da pena eterna merecida por causa dos pecados mortais e, pelo menos em parte, das penas temporais que são consequência do pecado; a paz e a serenidade da consciência, e a consolação do espírito; o aumento das forças espirituais para o combate cristão de cada dia" (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 310). Com o lavacro penitencial deste Sacramento, somos readmitidos à plena comunhão com Deus e com a Igreja, companhia fiável porque é "sacramento universal de salvação" (Lumen gentium, 48).
Na segunda parte do mandamento novo o Senhor diz: "vós também vos deveis amar uns aos outros" (Jo 13, 34). Certamente Ele espera que nos deixemos atrair pelo seu amor e que experimentemos toda a sua grandeza e beleza, mas não é suficiente! Cristo atrai-nos a si para se unir com cada um de nós, para que, por nossa vez, aprendamos a amar os irmãos com o seu próprio amor, como Ele nos amou. Hoje, como sempre, há tanta necessidade de uma renovada capacidade de amar os irmãos. Saindo desta celebração, com os corações replectos da experiência do amor de Deus, estai preparados para "ousar" o amor nas vossas famílias, nos relacionamentos com os vossos amigos e também com quem vos ofendeu. Estai preparados para incidir com um testemunho autenticamente cristão nos ambientes de estudo e de trabalho, para vos comprometer nas comunidades paroquiais, nos grupos, nos movimentos, nas associações e em todos os âmbitos da sociedade.
Vós, jovens noivos, vivei o noivado no amor verdadeiro, que requer sempre o respeito recíproco, casto e responsável. Se o Senhor chama alguns de vós, queridos jovens amigos de Roma, a uma vida de especial consagração estai prontos para responder com um "sim" generoso e sem sujeições. Doando-vos a Deus e ao irmãos, experimentareis a alegria de quem não se fecha em si mesmo num egoísmo com frequência asfixiante. Mas tudo isto, certamente, tem um preço, aquele preço que Cristo pagou primeiro e que todos os seus discípulos, mesmo se de modo muito inferior em relação ao Mestre, também devem pagar: o preço do sacrifício e da abnegação, da fidelidade e da perseverança sem os quais não há nem pode haver verdadeiro amor, plenamente livre e fonte de alegria.
Queridos jovens, o mundo espera este vosso contributo para a edificação da "civilização do amor". "O horizonte do amor é verdadeiramente infinito: é o mundo inteiro!" . Os sacerdotes que vos seguem e os vossos educadores têm a certeza de que, com a graça de Deus e com o socorro constante da sua divina misericórdia, conseguireis ser competentes na difícil tarefa para a qual o Senhor vos chama. Não desanimeis e tende sempre confiança em Cristo e na sua Igreja! O Papa está convosco e garante-vos uma recordação quotidiana na oração, confiando-vos particularmente à Virgem Maria, Mãe de misericórdia, para que vos acompanhe e vos ampare sempre. Amém!