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«Karol Wojtyla me salvo a vida em 1945»
depois me carrregou em suas costas uns quatro quilômetros, na neve, antes de tomar o trem para a salvação». Edith Zirer narra o episódio como se tivesse acontecido ontem. Era uma fria manhã no início de fevereiro de 1945. A pequena judia, que ainda não era consciente de ser o único membro de sua família que sobreviveu a massacre nazista, deixou-se levar nos braços de um sacerdote de 25 anos, alto, forte, que sem lhe pedir nada, simplesmente lhe deu um raio de esperança. Hoje aquele sacerdote, conta ela, é o
bispo de Roma. Edith quereria agradecer finalmente aquele gesto. «Só
um pequeno obrigado em polonês por aquilo que fez, pela maneira em que
o fez, para lhe dizer que nunca me esqueci dele», diz em sua bela casa
localizada nas colinas do Carmelo, na periferia de Haifa. Durante todo este tempo guardou esta história. Quando em 1978, Karol Wojtyla subiu à cátedra de Pedro, começou a sentir a necessidade de falar, de contar a alguém, de mostrar seu agradecimento. A pergunta surge imediatamente: mas, como pode estar segura de que aquele sacerdote é o Papa? por que esperou tanto?. Estas perguntas também foram feitas pelos jornalistas de «Kolbo», o semanário de Haifa que hoje publica um artigo sobre este assunto. «O relato é convincente. Não se trata de fazer publicidade, todos os detalhes que oferece parecem críveis», dizem os redatores. Tão convincentes que a embaixada israelense na Santa Sé já está se mobilizando para tratar de pôr em contato à senhora Zirer com a secretaria do Papa. A narração fala por si mesmo. «Em 28 de janeiro de 1945 os soldados russos libertaram o campo de concentração de Hassak, onde tinha estado presa durante quase três anos trabalhando em uma fábrica de munições --explica Edith, que então tinha treze anos--. Sentia-me confusa, estava debilitada por causa da doença. Dois dias depois, cheguei a uma pequena estação ferroviária entre Czestochowa e Cracóvia». Precisamente em Cracóvia, Wojtyla acabava de ser ordenado sacerdote. «Estava convencida de chegar ao final de minha viagem. Cai por terra, no canto de uma grande sala onde se reuniam dezenas de prófugos que em sua maioria ainda vestiam os uniformes com os números dos campos de concentração. Então Wojtyla me viu. Veio com uma grande xícara de chá, a primeira bebida quente que tinha podido provar nas últimas semanas. Depois me trouxe um sanduíche de queijo, feito com pão preto polonês, divino. Mas eu não queria comer, estava muito cansada. Ele me obrigou. Depois me disse que tinha que caminhar para pegar o trem. Tentei, mas caí no chão. Então, tomou-me em seus braços, e me carregou durante muito tempo. Enquanto isso a neve continuava caindo. Lembro sua jaqueta marrom, a voz tranqüila que me revelou a morte de seus pais, de seu irmão, a solidão em que se encontrava, e a necessidade de não deixar-se levar pela dor e de combater para viver. Seu nome se gravou indelevelmente em minha memória». Quando finalmente chegaram até o comboio destinado a levar os presos para o Ocidente, Edith se encontrou com uma família judia que lhe pôs em guarda: «Atenta, os padres tratam de converter às crianças judias». Ela teve medo e se escondeu. «Só depois compreendi que a única coisa que queria era me ajudar. E queria dizer-lhe pessoalmente». ...Edith Zirer, casada hoje e com 2 filhos, que vive em Haifa, em uma colina do Monte Carmelo, quis estar com o Papa (59 anos depois do ocorrido) em sua histórica viagem à Terra Santa para lhe agradecer pessoalmente justamente no Memorial do Holocausto Yad Vashem. Foi um dia inesquecível para ela e para toda a população judaica, assim como uma lição universal de humanidade..." |
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