Roma, 23 de nov de 2010 às 13:38
Massimo Introvigne é um sociólogo italiano, fundador e diretor do Centro de Estudo sobre as Novas Religiões (CESNUR). Em um artigo publicado esta segunda-feira na página Web do centro, intitulado "O Papa, o preservativo e os imbecis" ele explica que a origem da confusão atrás das palavras do Santo Padre está na tradução ao italiano, do texto em alemão da entrevista de Peter Seewald, apresentada pelo L’Osservatore Romano, e recorda que sobre este tema o Pontífice não modificou os ensinamentos da Igreja.
No livro "Luz do Mundo" do jornalista alemão Peter Seewald, o Papa expõe como exceção para o uso do preservativo o caso dos varões que se prostituem, como aparece no texto original em alemão e a tradução ao inglês, que difere da que foi publicada pelo L’Osservatore Romano que em italiano usa o termo "prostituta". A confusão se agravou quando diversos meios de comunicação difundiram este fragmento do livro fora de contexto e o apresentaram como uma mudança na doutrina da Igreja em matéria de sexualidade.
Introvigne assinala que "’prostituto’ em masculino, é mal italiano mas é a única tradução de ‘ein Prostituierter’ (o original alemão) e se for usada a palavra em feminino, toda a frase do Papa (wenn etwa ein Prostituierter ein Kondom verwendet) já não tem sentido”.
“De fato as prostitutas mulheres obviamente não ‘usam’ a camisinha: no melhor dos casos o usam seus clientes", afirmou.
Com a afirmação de que o Papa expressa que no uso de um preservativo por parte de um prostituto homossexual já existem reflexos de certa responsabilidade mas que esta não é a forma adequada de lutar contra a AIDS, Introvigne ressalta que o Santo Padre "tem em mente a prostituição masculina, na qual com freqüência –como afirma a literatura científica sobre a matéria– os clientes insistem que os ‘prostitutos’ não usem o preservativo e que muitos ‘prostitutos’ –como o clamoroso caso do Haiti, que há muito tempo é um paraíso do turismo homossexual– sofrem de AIDS infectando centenas de seus clientes, muitos dos quais morrem".
Qualquer um, prossegue o perito, "poderia dizer que ‘prostituto’ se aplica também ao gigolô heterossexual que acompanha mulheres por dinheiro: mas o argumento seria capcioso porque é entre os ‘prostitutos’ homossexuais que a AIDS é notoriamente epidêmica, sem ter em conta ademais que também em alemão para mencionar o ‘prostituto’ masculino que sai com as mulheres se usa usualmente o término ‘gigolô’".
Depois de deixar estabelecido que "as gravidezes não entram neste contexto, porque da prostituição homossexual é um pouco difícil que nasçam crianças", Introvigne destaca que sobre o que aparece no livro de Peter Seewald sobre os preservativos "o Papa não diz nada de revolucionário".
O sociólogo assinala logo que "um ‘prostituto’ que tem uma relação mercenária com um homossexual –para falar a verdade, qualquer um que tenha uma relação sexual com uma pessoa do mesmo sexo– comete desde o ponto de vista católico um pecado mortal. Mas, se sendo consciente de ter AIDS, infecta o seu cliente sabendo que o faz, além de pecado mortal contra o sexto mandamento comente um pecado contra o quinto, porque se trata de homicídio, ou pelo menos uma tentativa dele. Cometer um pecado mortal ou dois não é o mesmo, e inclusive nos pecados mortais existe uma gradação. A imoralidade é um pecado grave, mas a imoralidade unida ao homicídio é mais ainda".
Depois de reiterar que o ensinamento da Igreja sobre a anticoncepção não muda, o diretor do CENSUR pergunta: "onde está a novidade e o escândalo senão na malícia de alguns comentadores? A propósito, a primeira nota da Associated Press em inglês leva o título ao mais absurdo (…): ‘O Papa: a prostituição masculina é plausível, se usarem o preservativo’.
“Só os imbecis confundem ao Papa com Marrazzo (político italiano protagonista de um escândalo sexual em 2009), embora ambos vivam em Roma”.
Para ler o artigo completo em italiano, ingresse em: http://www.cesnur.org/2010/mi_pre.html