O mau tempo impediu que a celebração dos 90 anos do Cristo Redentor ocorresse no alto do morro do Corcovado ontem, 12 de outubro. A missa foi transferida para a Catedral Metropolitana de São Sebastião e o arcebispo do Rio, cardeal Orani João Tempesta, viu na mudança a oportunidade de olhar para o futuro com esperança e confiança.

“A nossa presença na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro no dia dos 90 anos do Cristo Redentor é muito significativa. Nós, cariocas aprendemos a olhar para o Cristo Redentor e muitas vezes vê-lo encoberto de nuvens. Mas nós sabemos que a imagem está lá”, disse dom Orani. Segundo o arcebispo, “as nuvens tenebrosas que nós tivemos no ano passado” estão diminuindo neste ano. Por isso, disse que é preciso “ver a presença do Senhor em nossas vidas”. “Essa oportunidade de estarmos aqui é uma oportunidade de reflexão sobre este momento de esperança e confiança no amanhã”, declarou.

O cardeal também fez uma reflexão sobre a imagem do Cristo Redentor e citou dois aspectos que a caracterizam: a acolhida, representada pelos braços abertos da estátua, e a comunhão, expressa pelas milhares de peças de pedra-sabão que revestem o monumento. “Além da fé que temos em Cristo salvador do mundo, também os braços abertos falam além de todas as religiões, ideias, nacionalidades, línguas. Os braços abertos significam o acolhimento que o mundo necessita, que o Brasil é chamado a viver e o Rio de Janeiro é chamado a suscitar”, declarou o arcebispo.  Segundo ele, “no tempo de pandemia em que não podemos nos cumprimentar abertamente, mas podemos acolher muito bem, vemos que nossa cidade [Rio de Janeiro] tem essa característica de acolhedora”.

Em seguida, falou sobre “a pele do Cristo”, que é feito por milhares de pequenos triângulos de pedra-sabão. “Não sabemos quantos milhares são, mas ali está toda população brasileira que ajudou a construí-lo. Colocaram atrás das pedrinhas os nomes das pessoas. Sabemos que desta comunhão de todos nasce esta construção. Nessa abertura à comunhão, à fraternidade, nós também queremos dar nossa contribuição de um país, um estado, uma cidade cada vez melhores e um mundo mais justo e mais humano”, afirmou.

Ao final da missa, dom Orani Tempesta rezou a oração de consagração a Cristo Rei, composta por madre Maria José de Jesus, priora do Convento de Santa Teresa, e rezada pelo cardeal Sebastião Leme no dia da inauguração do Cristo Redentor, em 1931.

Conciliação pelo terreno onde está o Cristo Redentor

A celebração pelos 90 anos do Cristo Redentor contou com a presença de diversas autoridades, como o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Pereira Leite, o governador do estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Em seus discursos, Leite e Paes fizeram referências a recentes disputas entre o governo e a arquidiocese do Rio de Janeiro acerca da área onde está situado o monumento do Cristo Redentor.

O santuário do Cristo Redentor e todo o platô onde está a estátua no topo do Corcovado pertencem à arquidiocese do Rio de Janeiro, que é a responsável pela manutenção do monumento e pelas celebrações no local, que é um santuário católico. Na base da estátua há ainda a capela Nossa Senhora Aparecida. Já o entorno pertence ao Parque Nacional da Tijuca e é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ligado ao Ministério do Meio Ambiente.

Em 11 de setembro, o reitor do santuário, padre Omar Raposo, foi barrado por seguranças no acesso ao local, quando ia celebrar um batizado. Na ocasião, o santuário do Cristo Redentor publicou uma “nota de repúdio aos atos hostis do ICMBio contra a arquidiocese do Rio de Janeiro”, afirmando que casos como este têm ocorrido “de maneira recorrente”.

Ao final da missa na catedral do Rio de Janeiro na terça-feira, o ministro Joaquim Leite afirmou que está trabalhando em busca de uma “solução definitiva” para o impasse. “Aproveito a oportunidade para transmitir aqui um pedido do presidente da república que é trazer uma solução definitiva para a área onde se encontra o santuário do Cristo Redentor. Na semana passada, tive uma reunião com o presidente e já estamos trabalhando neste tema e, com o apoio de todos e da mitra, vamos achar essa solução definitiva para trazer harmonia ao local do Santuário do Cristo Redentor”, disse.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que trabalha para que a área seja reconhecida como de direito da arquidiocese. “Assumo publicamente o compromisso de que nós, através de mecanismos criados pela própria legislação federal, estaremos, a partir do pleito apresentado pelo Cristo Redentor, reconhecendo a legitimidade e propriedade daquele espaço para a Mitra da cidade. Para que o Cristo possa sempre representar espaço da procissão da fé, mas acima de tudo, aberto a todos visitantes”, afirmou. Para o prefeito, “o Cristo é uma bússola para a cidade” e “representa cordialidade do povo. Tem um simbolismo muito forte não só para o Rio como para o Brasil”.

O governador Claudio Castro falou do Cristo Redentor como um monumento símbolo de esperança. “É muito singular que estes 90 anos seja neste momento em que precisamos voltar a ter esperança”, disse. Segundo ele, o Cristo representa “a fé e a resiliência que precisamos ter nesse momento de retomada e, se Deus quiser, de fim da pandemia”. “O Cristo Redentor é um monumento que representa nosso Senhor Jesus Cristo, que é a nossa esperança. Que esses 90 anos do Cristo sejam lembrados por todos como tempo da reconstrução, o tempo da esperança e o tempo de uma nova vida para nossa cidade, estado e nação”, afirmou.

Ação social

A festa pelos 90 anos do Cristo Redentor segue até o dia 16 de outubro, das 9h às 16h, na Catedral do Rio de Janeiro, com diversas ações sociais. No entorno do templo, foram montados alguns estandes para atender a população, especialmente moradores de rua. “Esse é o Cristo solidário e de missão social que queremos celebrar, que desce o morro do Corcovado para fazer o bem”, disse o reitor do santuário, padre Omar Raposo.

Entre os serviços prestados estão: orientação de saúde preventiva, atendimento médico, com exames, acolhimento para casas de acolhida, serviços de higiene pessoal e de beleza, oferecimento de cursos para diversas áreas, orientação vocacional, banco de talentos com encaminhamento ao mercado de trabalho, oficinas de capacitação, empreendedorismo social e outros.

Além disso, durante os dias da festa, uma equipe estará recebendo doações no ponto de coleta “Cristo Eu Quero Doar”. Segundo o Santuário do Cristo Redentor, a meta é arrecadar 500 toneladas de alimentos não perecíveis e produtos de higiene pessoal e limpeza. O objetivo é ajudar as mais de 100 instituições cadastradas nos programas sociais do Cristo Redentor.

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