As irmãs carmelitas descalças do mosteiro de São Bernardo em Salta, Argentina, assinaram um acordo com o arcebispo local, dom Mario Antonio Cargnello, em 27 de agosto, após o conflito causado por causa das supostas aparições marianas e de uma denúncia das freiras contra Cargnello por violência, acusação que a arquidiocese nega.

Num comunicado publicado neste sábado (3), o cardeal João Braz De Aviz, prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, disse que o acordo "é fruto do espírito de conciliação que as partes demonstraram ao responder ao chamado que o Santo Padre Francisco realizou através do padre Javier Belda Iniesta”.

Francisco nomeou padre Belda Iniesta como seu delegado “para ajudar a restabelecer o diálogo fraterno entre as duas instituições, sempre respeitando a autonomia do mundo secular e das competências próprias do bispo, do Dicastério competente e da Prioresa da Comunidade”.

Belda Iniesta é o advogado canônico do bispo emérito de Orán, dom Gustavo Zanchetta, condenado à prisão por abuso sexual e que agora está em prisão domiciliar em um convento na Argentina.

No acordo, as partes aceitam o delegado como garantidor das decisões adotadas, para as quais o Dicastério suspendeu "a decisão de nomear assistente apostólico até o próximo dia 1º de abril de 2023, data em que o garantidor informará sobre o cumprimento efetivo dos acordos assinados”.

Entre as principais disposições do acordo estão que o arcebispo nomeará um delegado para a eleição da priora ou superiora do mosteiro; que por sua vez vai propor um padre capelão que será aprovado pelo arcebispo.

Outro ponto do acordo é que o mosteiro prestará contas anualmente, e cada irmã poderá “praticar as devoções particulares que quiser” tendo “sempre presente a obrigação de preservar a comunhão com a Igreja e promover o bem comum da mesma".

O conflito

Em 26 de abril, a nunciatura apostólica em Buenos Aires anunciou a conclusão da visita ou investigação apostólica, feita com sucesso por dom Martín de Elizalde, bispo emérito de Santo Domingo, e pela irmã Isabel Guiroy, ao convento de são Bernardo, disse então uma declaração da Santa Sé.

O Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica determinou que a comunidade das irmãs carmelitas de Salta "não deve de forma alguma se envolver em atividades ligadas à conhecida 'Obra eu sou a Imaculada Mãe do Divino Coração Eucarístico de Jesus e eu sou o Sacratíssimo Coração Eucarístico de Jesus' e apoiar esta atividade”.

A obra mencionada tem relação com supostas aparições de Nossa Senhora e Jesus Cristo a fiel de Salta, María Livia Galliano de Obeid, desde 1990 e que continuaria até hoje.

Essas supostas aparições não são aprovadas pela Igreja.

O Dicastério esclareceu então que “cabe ao bispo local, ou através dele à competente Congregação da Sé Apostólica, discernir sua veracidade e autorizar as práticas de culto neste contexto”.

A declaração da Santa Sé de sábado (3) não menciona a questão das supostas aparições.

Denúncia por "violência de gênero"

Em 12 de abril, três freiras carmelitas descalças de Salta fizeram uma denúncia contra dom Cargnello ao Escritório da Família e Violência de Gênero (OVFG) do Poder Judiciário de Salta, alegando que ele cometeu violência de gênero e assédio contra a priora e as religiosas.  

Após a denúncia, um juiz local ordenou a presença de policiais do lado de fora do mosteiro, decisão que agora foi anulada.

Eduardo Jesús Romani, advogado da arquidiocese, disse então à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, que a denúncia apresentada à Vara de Família e Violência de Gênero nº 3 "é genérica e nenhum dos fatos constitui violência de gênero".

“[Dom Cargnello] é acusado de violência moral e econômica. É evidente que esta situação não existe nem está documentada nos autos”, disse ele.

O advogado disse que a denúncia teria "como pano de fundo a relação com a chamada ‘Virgen del Cerro’”, supostas aparições marianas que não são aprovadas pela Igreja.

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