A Food and Drug Administration (Administração de alimentos e drogas, FDA, órgão do governo federal dos EUA) alertou para o perigo de prescrever pílula abortiva para mulheres antes de engravidarem.

Alguns fornecedores de aborto estão dando esta pílula abortiva de forma antecipada como resposta às restrições que alguns estados colocaram a esta prática, amparados na revogação da sentença Roe x Wade.

"A FDA está preocupada com a prescrição precoce de mifepristona para esse uso", disse um porta-voz da FDA ao site americano Político na sexta-feira (28). "A mifepristona não foi aprovada para a provisão precoce de um aborto medicamentoso".

Em dezembro de 2021 a FDA suspendeu as restrições à mifepristona autorizando os médicos a prescrever os medicamentos online e enviar os comprimidos pelo correio, permitindo que as mulheres façam abortos precoces, até a 10ª semana de gestação, sem sair de casa.

A FDA aprovou o uso da mifepristona, combinada ao misoprostol, para abortos precoces em 2000.

O tipo de aborto em que se usa a mifepristona é conhecido também como aborto por pílula, aborto químico, aborto medicamentoso e aborto por telemedicina.

O aborto medicamentoso precoce é responsável por mais da metade de todos os abortos nos EUA, segundo o Instituto Guttmacher, organização de pesquisa reprodutiva que já esteve vinculada à Planned Parenthood.

Ingrid Skop, pesquisadora sênior e diretora de assuntos médicos do Charlotte Lozier Institute (CLI), disse à CNA, agência em inglês do grupo ACI, que se surpreendeu ao ouvir os novos comentários da FDA "porque em dezembro passado, quando aprovaram o fornecimento de mifepristona sem receita médica presencial, eles já deveriam prever que isso aconteceria”.

O Político disse que o porta-voz da FDA condenou o fornecimento antecipado, porque não permite que os fornecedores de aborto garantam adequadamente a segurança e a eficácia.

O Político disse que o FDA expressou preocupação com as mulheres grávidas que tomam mifepristona antes que um profissional médico diga se a gravidez é intrauterina ou ectópica, bem como a idade do feto.

Skop, que tem mais de 25 anos de experiência como obstetra e ginecologista, e disse preocupada semelhantes sobre mulheres que usam mifepristona quando não prescrito diretamente por um médico.

“Nós não sabemos ao certo quão avançada [sua gravidez] está. Estamos usando a estimativa delas, e muitas vezes está errada", disse Skop. "A combinação de mifepristona e misoprostol não funciona muito bem depois da décima semana de gravidez".

Ela também falou sobre o problema da gravidez ectópica, em que um embrião se implanta fora do útero, geralmente em uma das trompas de falópio.

"Mifepristona não funciona em uma gravidez ectópica", disse. “Essa gravidez pode continuar crescendo e a trompa pode se romper. E esta é uma causa bastante comum de mortes maternas".

Outra preocupação é que a pessoa que pede as pílulas abortivas pode não ser a mesma que vai tomá-las.

"Isso pode deixar a porta aberta para a coerção, pode deixar a porta aberta para outras pessoas obterem o medicamento e dar a uma mulher que não necessariamente quer um aborto", disse ela.

À medida que a FDA relaxa as restrições ao mifepristona, alertou, “estamos vendo cada vez mais possibilidades de complicações”, por isso pediu uma abordagem diferente.

“Em vez de prescrever um medicamento potencialmente perigoso que pode ser mal utilizado, esta seria uma oportunidade perfeita para ter uma conversa proativa sobre como prevenir uma gravidez indesejada”, disse ela.

Antecipando-se à decisão da FDA no ano passado, CLI divulgou um estudo de autoria de Skop e outros especialistas cujo resultado é que o aumento do acesso a pílulas abortivas é um risco para a saúde pública.

O estudo alega que a taxa de emergências “após um aborto químico aumentou mais de 500% entre 2002 e 2015, com base em uma análise dos dados de reclamações do Medicaid”, lê-se no comunicado à imprensa.

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"Durante o mesmo período, os abortos químicos na população do estudo aumentaram de 4,4% para 34,1% do total de abortos", acrescenta.

O estudo também conclui que a taxa de visitas ao pronto-socorro está aumentando mais rápido para abortos químicos do que para os cirúrgicos, e que o primeiro torna os abortos subsequentes mais perigosos.

A FDA não fez comentário até o momento da publicação desta matéria.

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