Não basta ajudar ao pobre, necessita-se um novo modelo de sociedade, diz o Papa

VATICANO, 26 de set de 2007 às 11:24

Ao prosseguir durante a Audiência Geral de hoje sua catequese sobre São João Crisóstomo, o Papa Bento XVI afirmou que este grande padre da Doutrina Social da Igreja "entendeu que não era suficiente dar esmolas" e "ajudar aos pobres", mas o que precisava era "criar uma nova estrutura, um novo modelo da sociedade apoiado na visão do Novo Testamento".

Ante mais de 20 mil paroquianos presentes na Praça de São Pedro, o Santo Padre continuou esta manhã o ciclo de catequese sobre os Padres Apostólicos, desta vez sobre alguns aspectos do pensamento de São João Crisóstomo, nomeado bispo de Constantinopla em 397, capital do império romano do Oriente.

Ao comentar os Atos dos Apóstolos, assinalou o Pontífice, este Padre da Igreja propõe "o modelo da Igreja primitiva, como modelo da sociedade, desenvolvendo uma ‘utopia social’, a idéia de uma cidade ideal, tratando de dar uma alma e um rosto cristão à cidade".

Quer dizer, Crisóstomo –chamado ‘o Caritativo’ por sua solicitude com os pobres e por ter criado apreciadas instituições caridosas, recordou o Papa– "entendeu que não era suficiente dar esmolas, ajudar aos pobres, caso a caso, mas que era necessário criar uma nova estrutura, um novo modelo de sociedade apoiado na visão do Novo Testamento. Por isso, podemos considerá-lo um dos grandes pais da Doutrina Social da Igreja", assinalou Bento XVI.

Com Paulo, continuou, "sustentava o primado da pessoa, incluído o escravo e o pobre", contrastando com a estrutura de cidade-estado grega onde "vastos setores da população estavam excluídos do direito de cidadania", enquanto "na cidade cristã todos são irmãos e irmãs com os mesmos direitos". 

Sagradas Escrituras, carta de Deus ao homem

Depois de apontar em seu discurso breve que deste Padre "se diz que Deus fez ver nele um segundo Paulo, um doutor do Universo", o Pontífice assinalou os quatro passos que, segundo Crisóstomo, Deus dá em sua obra de salvação.

Para o "Boca de Ouro", o relato criacionista do Gênese "guia aos fiéis da criação ao Criador" que é, além disso, "o Deus da condescendência que envia ao ser humano, cansado e alheio, uma carta, as Sagradas Escrituras". Ao final, "é Deus mesmo quem desce para nós, encarna-se, morre na Cruz, transforma-se realmente em Deus conosco, em nosso irmão".

"A estes três passos: Deus visível na criação, Deus nos escreve uma carta e Deus desce e se converte em um de nós, une-se ao final um quarto, dentro da vida e a ação do cristão, o princípio vital e dinâmico do Espírito Santo, que transforma a realidade do mundo. Deus entra em nossa existência e nos transforma de dentro".

Em sua catequese, Bento XVI destacou que "apesar de sua bondade", São João Crisóstomo "se viu envolvido freqüentemente em intrigas políticas, por suas contínuas relações com as autoridades e as instituições civis e foi condenado ao exílio", morrendo em 407.

Concluída a audiência, Bento XVI retornou a sua residência em Castel Gandolfo.